5 de fevereiro de 2016

Palavras. São só palavras.

Palavras. Momentos vazios de um ser qualquer,
relatados em um caderno qualquer, com uma caneta qualquer,
em um espaço-tempo bem definido, ou qualquer.
Escritas sem o menor motivo nas linhas terríveis da nossa mente,
escritas para ofender e desprezar todo o resto.

Palavras. Minutos ocos em suspensão no nosso pensamento,
nesse teto de vidro que é a nossa residência. Nesse inferno
verbal e confuso, onde até os mortos são reinventados,
onde nenhuma alma tem paz. Nem os budistas. Nem os bundistas.

Palavras. E minha mão trava na primeira frase, no primeiro verbo,
e eis que entro em estado de delírio, somente por estar escrevendo.

Jogo o caderno para o lado, olho ao redor, tudo é palavra,
até o silêncio. Maldito silêncio.
Tomo o caderno para meus braços, desprezo o olhar
do escuro que me encara.
Já não sei o que faço com o caderno. Alguns dias, palavras me faltam.
Mas me sobram poesias.

Nenhuma vontade de escrever. Vício eterno e desprezado.
Quem dá valor para versos tão insignificantes? Se até os poetas
reais, os poetas-blues, os poetas de alma, são menosprezados
pela sombra do tempo. Até os que compõem rosas em espinhos.

Palavras. Nunca prontas. Sempre, girando, girando, girando.
Palavras.
Alguém ao fundo me chama, interrompendo outra vez a poesia
que me custa decifrar em minuciosas palavras.

Digo que já vou. São só palavras. Ninguém tem tempo para palavras.
Menos ainda para ideias e ideais. Danem-se.

("Vamos remar contra a corrente, desafinar o coro dos contentes")

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