30 de outubro de 2019

E o verbo divino se fez carne, e eram todos vegetarianos



Primeiro momento:


"Não tenho tido muita paciência para papinhos culturais alternativos com quem nasce em berço de ouro e caga prata. E espero que os filhos de burgueses não me levem por mal; não é nada pessoal. É que, depois de tanto tempo exposto a um universo onde quase todos são exceção ao que se diz regra, seus olhos querem fechar e esquecer essa podre realidade".

Segundo momento:

"Não os culpo por absolutamente uma vírgula. Assim aprenderam. Apropriação? Muitíssima. Sou por demais arrogante, se querem saber. E por demais irônico. E por demais reflexivo. Uma bomba prestes a explodir na ausência de silêncio para respirar. Me faço por desentendido. Gosto de críticas. Gosto de análises do que tenho feito e do que deixo de fazer. Aprecio uma bela investigação e me deleito em versos que descrevem as variáveis que controlam meu próprio comportamento. Livre? Uma ova e meia que sou livre. Sou o arranjo de contingências que fiz e faço, e que outros tecem comigo; sou verbo, divino não, mas que se fez carne. Não me encanta ser o centro das atenções. Tenho tentado me manter longe disso. Mas, meu caro centro, tampouco orbitarei seu entorno. Se me mantenho longe, há razões. E não direi quais".

Terceiro momento:

"Ora, ora, ora. O homem de terno me diz que o Sol é para todos. Sim, é. Para todos! Todos temos o Sol. Alguns podem usufruir do Sol em belas ilhas distantes, outros desfrutam do Sol em bares e, outros, que também tem o Sol para si, o recebem nas costas, na jornada de trabalho no semáforo, a coletar suas poluições, a entregar panfletos com desconto para seu novo carro, a pedir o mínimo para a subsistência (ou seria sub insistência?). Mas sim, tenho que concordar, o Sol é para todos. Só não tente pensar como cada um recebe esse "mesmo" Sol.

Quarto momento:

"Ato primitivo: foda-se".

27 de outubro de 2019

Onde a arte te fere?






a arte te fere onde? no limite de seu corpo
na extensão das baratas que voam do bueiro
no piso molhado dos banheiros de metrô?
a arte te fere seco, te fere rude, te fere longe
porque a cidade tem seus muros para te proteger
e a arte te erre para não muito sangrar
aos olhos de quem não vê; por dentro, é rio
e a vermelhidão assombra sua carne

22 de outubro de 2019

Lack and privations






gavetas
folhas
guardanapos
blocos de anotações

o barulho do ventilador

tudo isso é pra esquecer

pegadas na areia
silêncio do prédio da frente
baderna no ânimo do pessoal
pílulas de antidepressivo dos estudantes e suas caras passadas

tudo isso é pra esquecer

o carro do ano
o café gourmet
o açúcar gourmet
o gourmet gourmet
a casa de luxo
as garrafas de plástico

tudo isso é pra esquecer

o cobertor 
o gibi
a moça que passa
o cooler do notebook
o chuveiro
haicais desesperados

tudo isso é pra aquecer

e no pesar dos pesares
a noite é enorme
o mundo é largo

e tudo isso
acreditem
ainda é pra esquecer 


12 de outubro de 2019

Filhos do rei e mauricinho esquecido


“sí, se puede”
Sácalo de allí
Tíralo por allá
y aquí hacemos lo mismo
en unos años
¿o no?

Seguimos
tratando de resolver
el fuego con pólvora

Y nos olvidamos
de nuestra próxima generación


Desde hoy, hay otro modo de hacer
las cosas
pero
se esperan fuertes tormentas 

4 de outubro de 2019

Impactos


1° ato:

"Aceitar a repetição é a dádiva do cotidiano".


2° ato:

Elaborar para repetir
Repetir para elaborar
Elaborar ao repetir


3º ato:

meio termo, ou
meio ermo ou
meio ter ou
meio ou termo
ou meio ou
meio termo ermo
ou me ter ou
ter me meio
ou. Meio. Ou.