31 de janeiro de 2020

Em terra de cego, não faz sentido ter olho


Fazer de tudo um aprendizado.
Eis ai o dilema dos bocós, dos sofríveis,
o hino daqueles que se esborracham sorrindo,
a valsa lamentável dos esquecidos no porão,
a prosa dos moralistas e dos professores
alérgicos aos livros e ao silêncio.

Escute bem, tosco ser, nem tudo, quase nada,
é por rigor, aprendizado. Vida essa, vai embora,
e contigo nada, pois tu será lugar nenhum,
os deuses não banharão sua alma, seu doce saber,
amargará os confins do cemitério e os bigatos
não parecem se preocupar com seus diplomas
títulos, causas, lutas, ou mesmo as histerias, não.

Não faça de tudo um aprendizado.
Por vezes, somente não aprenda nada
(E isso não é um aprendizado).
 

29 de janeiro de 2020

ah, deixa



queima
o sol
as costas
a sola do sapato
o mato
o estoque
o dilema
a roupa no varal

queima
e teima
em queimar
cotovelos
línguas
botijões
boias de piscina
velho pen drive
HD de 20gb
até a lua

queima
então
tudo ao fogo
verso
indecente
deixa
queimar

o diabo tá em terra
e deus queima no terceiro
andar
no deserto descalço
com o vinho na mão

aqui só tem água
o vinagre é pra salada
 

28 de janeiro de 2020

/s/





Se nada a dizer, nada diga.
Amaciar versos em ouvidos rasos?
Deixe isso para os demais.
Você não; soluce, se for o caso.
Borbulhe mas não mostre aos demais.
Não diga o que querem escutar
Em hipótese alguma.
Se embriagado, te desafie ao particular.
Introspectivo mundo tão solitário.

Mas, se nada a dizer, nada diga.
Só morre de fome quem atenção
a vazios umbigos mendiga.
O melhor é calar. Quando a carne enrubesce,
e os sentidos enfurecidos esperam uma conclusão,
o melhor é calar. E eu estou a repetir para que entendas.

Pois que, se nada a dizer, nada diga.
Tampouco se perca a escutar. Não, bobagem.
Vá mais um gole. Dessa vez, mantenha a amargura na garganta.
Você não; não precisa disso.
Nunca precisou. Agora se render? E para quê?

Se nada a dizer, nada diga.
Eis ai a melhor contribuição.
Todos são crescidos o suficiente
e se conselho fosse bom, gratuito não seria.
Assim como de/s/graça é a poesia.
 


15 de janeiro de 2020

Álbum notório que poucos (ainda) aplaudiram #01


Estive escutando algumas vezes o álbum CRUX, da banda Apeles e... que disco! A Balaclava Records sempre carrega excelentes surpresas. O baixo na primeira canção já dá o tom de como as coisas se apresentam. Certamente, no terreno de poucos aplausos que se fazem ouvir, a banda decolará nesse ano (o trabalho é de 2019).

Para os ouvidos e olvidados, deixo o link para apreciação. É só clicar na foto de capa.

Aprecie sem moderação
 

13 de janeiro de 2020

6 de janeiro de 2020

De/compor



Ao tempo o que é do tempo,
 
mas, afinal, o que não pertence
ao cabelo branco
ao bigato voraz
ao silêncio da noite
rugas, vermes e pó?

a vida é macabra;
talvez, pela visão da natureza
só começa
quando acaba.

De/compor
sutilmente
pois ao tempo
tudo, o que queira.