31 de dezembro de 2016

O artifício de ser artificial


Fogos de artifício? Me poupem.
Me chamem quando houverem estrelas

Quando o céu, sem demasiada interferência
dessas bugigangas de homo sapiens,
se permitir ser visto.

Quando a lua, na sua embriaguez (na minha, também),
estiver disponível para romance.
Ou quando a chuva rimar com o vento.

Por momento, fico cá:
bebendo,
torcendo para estarem certos
e esse ano que logo chega,
seguir essa média,

pois esse não foi de todo ruim,
ao menos não para meus olhos.

Co-lapso


O relógio gira. Tic-Tac-Tic-Tac.
A geladeira, um pouco antiga, barulho faz.
O ventilador ligado, por ocasião do calor infernal,
conversa seu som com as paredes que falam.
Outro habitante deste vasto universo, e pequeno demais, ao meu gosto,
no seu cômodo (ou será incômodo) mantêm uma televisão ligada.
A vizinha escuta uma música, se é que assim se pode definir seus ruídos sem letra.
Alguns barulhos na cozinha, e não são os insetos; ainda.
A porta, aberta e também fechada, por momentos vai pra lá e pra cá;
A caneta em mão, produz uma leve sonoridade, e o teclado ao digitar
ainda que não se compare à ópera feita pela máquina de datilografia, tem seu musical.

Tudo som. Tudo contrariando
o desejo de ficar em silêncio e abraçar o inerte.
Quando em quietude, a falta de atitude faz pular os olhos
esbugalhados, já na profunda madrugada,
banhado na amargura dos próprios pensamentos.

Colapso, as poesias entram em colapso.
Em verdade, escrever é prova disso.
O relógio não dorme.

Porém

não pense que me desagrada esses ruídos, sons, barulhos,
são melhores que o silêncio, pois o silêncio quando é meu
até compreendo. Quando vem dos outros, ai é coisa
de se pensar.

30 de dezembro de 2016

Brindar


Ano novo. Primeiro dia do ano. Último dia do ano.
Um segundo de diferença não muda minha descrença.
Quanto à vida, o pessimismo.
Quanto aos humanos, cinismo.

Pouco comemoro,
Não rio tanto tampouco choro.
Se não quer, não imploro.
Se quer, devoro.

Minha única prece
Faço sempre
Ao deus que não creio:

Levantar inteiro
Meio dia e meio.

Mas, não sendo suficiente
Digo algo ao humanos:

Percebe, minha gente,
Que só passam-se anos
E tudo sempre mesma merda?

(Pra eles, pois minha vida está boa)

Esqueçam, estava brincando.
Continuem rindo e, comemorando.

Brindem o ano novo, e amanhã a cara fechada
Um com o outro, pois vocês sabem que se odeiam,
Sabem também que não suportam estar no mesmo ambiente.
Mas todo ano, mesma merda, “vamos respeitar o tal parente”.

Vê se mereço.
Sei
Que eles se merecem.

27 de dezembro de 2016

Graves


 
São só minhas palavras, vagas, desnudas ao vento

Chegando ao seus belos ouvidos, cobertos de teorias e filosofias banais

Que despejo aos milhares. Como podes? Escutar-me e ainda por cima,

Preocupar-te com minhas lamúrias e problematizações.

Sem dúvida alguma, tens problemas, e dos graves,

Não se presta atenção aos versos de quem escreve, jamais.
 

Como um anjo decaído, poeta é coisa que adentra teu paraíso

Te arrasta para o inferno, com meras palavras e simples lábia e lábio,

Quando vês, estás assim, sendo escrita pelas poesias diabólicas

E ainda achas graça, te encanta com isto? Ah, mas sem dúvida,

Tens problemas.

São só minhas nada humildes prosas, cheias de meu ego, vazias de animação, porque esses adjetivos

não me visitam.


Te pergunto, o que nisto tudo vale a pena? Será que é por não valer

Que vale? Não, não sei, não pode ser, é o todo tão mesquinho,

E as pernas que passam nos centros, calçadões, shoppings (ria)

São tão ávidas por novidade. E eu, a única novidade que lhe ofereço

É a ausência de novidades. Sou sempre o mesmo, sempre esse mesmo.

Cru, de desejos simples, que não virão dos supermercados.

Na verdade, alguns até podem de lá sair: cervejas, carnes, cafés.


De resto, quase nada me interessa. E ainda assim, (ainda assim)

Te preocupas com minhas falas. Ah!

Por isso, não digo que te amo, porque não amo,

Mas te quero por perto, bem perto, e feliz, bem feliz.

(Porém, fique sabendo, tu tens problemas,

Não que eu não tenha).



Poema de Igor José (2)


O que é Crescer?
É caminhar para compreender a vida
Ou a vida compreender você
É inevitável, só acaba quando morre.
"Quando a cortina cinza desse mundo se enrola
E tudo se transforma em vidro prata",

Mas antes você vai aprender
Provar que Zenão estava correto
Lembrar da lei
Não se pode aprender nada
Que não venha acompanhado de dor
Não se consegue nada sem sacrifício
Aprender que certas coisas não fazem sentido
E nem razão para acontecer
Conhecer a derrota e sofrimento
Pois crescer é:
Ter responsabilidade
É crer e ser
É traçar linhas de um sonho
Mas saber que sempre há coisas
Mais importantes que um sonho
É entender que algumas pessoas pessoas
Vão agir com indiferença
E que ela pode matar o coração
A queima roupa
É ter atitude,coragem,vontade e esforço
É errar,e saber que isso é bom
Um professor invisível
É questionar sua existência
Sentar com seus defeitos
Em uma mesa e conversar
Conviver com eles
E ter saudade
Saber que isso é bom
Mas que esta no passado
E ter visão
Para caminhar no escuro
E enxergar tudo que esta invisível
Depois fazer escolha
E receber as consequências
Boas e ruins
É ter insegurança
Ter medo de perder o que nunca teve
As vezes cultivar um amor
E nenhum cresce sozinho
É preciso regar, dar atenção e cuidar
Seja o amor de
Platão,Aristóteles,Jesus
C.S Lewis, Erich Fromm ou de Zygmunt Bauman
Mas você pode fazer papel de trouxa
Um papel que todos farão
É ser enganado
Mas ter resistência
Por último saber que a maior constante na vida
É a mudança
Para e pense,
Por toda nossa vida
Somos pessoas diferentes
É caminhar
E encontrar no caminho um gato
No meio do caminho havia um gato
Havia um gato no meio do caminho

E o nome dele era Cheshire

26 de dezembro de 2016

Vapor


 O café esfria:
vida e poesia
também.

Na noite se silencia
e então se diz
amém.

Metade que converso
versa verso cansado.
A outra metade, o inverso,
se vive leve, alucinado.

Poucos se perguntam
menos ainda procuram dúvidas.

Felizes desses. Felizes.

Conto (O primeiro e talvez o último)

     

        Oh sim, eles estavam lá fora, esperando ansiosamente por nós! Mas não somos tolos, nos protegeremos com nossas forças, que no momento é o nada fazer. Pensam que podem invadir nossas casas, adentrando no nosso ambiente por meio de chaminés? Não, não e não. Não temos chaminés. E jamais teremos. Tentarão então nos vencer com suas doces palavras? Morrerão na expectativa, pois quedaremos em nossas residências até que se tenha absoluta segurança, e isso só deve ocorrer quando o dia de natal acabar - disse o carinha da casa desse conto.

Ao ouvir essas palavras (na verdade, nada se ouviu, mas faz parte da narração), o mutirão de bons velhinhos, ao qual denominamos de Papai Noel, praguejou (só o líder deles, não é falta de concordância verbal):

Ao polo sul com suas defensivas! Trouxemos presentes, e não nos esquecemos do seu iPad, e para seus companheiros, cervejas e boa carne, e outros regalos natalinos. O que te espanta? Acaso o bom velhinho já lhe fez mal?

Tendo dito essas frases, tomou distância (não como se toma whisky) e se direcionou, freneticamente, para a porta de entrada, batendo o ombro com força para tentar invadir o local. Em nada resultou. Mas, como se sabe, o personagem deve conseguir abrir essa porta logo mais. Enfim. O carinha da casa desse conto, ao notar que as regalias eram muito oportunas e, como estava com fome, achou ainda mais estranho que o Noel adivinhasse o que gostaria de ter no momento. Não sendo trouxa, e sabendo das artimanhas do velho, gritou "papai Noel não existe", de forma a irritar o exército vermelho que já se encontrava impaciente. O Zé do gorro e da barba, ao olhar o próprio relógio, viu que as horas passavam rapidamente, como o maldito ano, e que teria que ir em outras casas ainda. Para facilitar sua própria vida, ordenou que o exército de Natal (duendes que se vestiam de Noel no Natal, e ganhavam um extra) fizessem os demais serviços para ele. Aqui vale destacar que os duendes, ao longo do segundo semestre de cada ano, trabalhavam, de maneira escrava, para a família Imperial, mais conhecida como Mamãe Noel, Papai Noel e o Anticristo, mas isso é outra história e não quero me complicar. O que merece atenção é que no fim do ano, para que as "entregas" natalinas fossem feitas, esses duendes tinham a opção de vender suas férias e ganhar um dinheiro a mais, se vestindo de Noel e cobrindo o folgado do sedentário, dono de quase todo o Polo Norte e do Planeta de Fogo.

Tamanha a insistência, e com a boa lábia do Noel, os companheiros do carinha da casa desse conto, se renderam aos presentes de fim de ano, e assim, tendo acesso ao local, Noel disse veementemente:

Pois bem, grandes companheiros. Como sabem, sou um velhinho muito simpático. Trago presentes, escuto-os pacientemente, e ainda assim o amigo de vocês parece ter declarado guerra contra minha pessoa. O que fiz a ele?

Quando estava por terminar a pergunta, o carinha da casa desse conto, irritado e explodindo de raiva, gritou:

Ao inferno com seus argumentos! Não me terá de volta, não trabalharei feito escravo nos seus maquinários! Chega! A verdade, meus amigos, é que, ainda que eu tenha vivido sete anos com vocês e nada tenha dito sobre minha pessoa, sou eu um Duende. Mas tenho uma história. Sou um ser vivo, sou um humano como vocês. Esse maldito, tendo me capturado outrora, me transformou em duende, mas consegui reverter a situação e escapar. Agora, aqui estou, carne e osso, e pensei que a liberdade de ser quem sou me seria eterna.

Noel ria, gargalhava! Disse:

De fato, caro carinha da casa desse conto, isso tudo não passa de um teste. Eu bem suspeitava que você era um duende, gnomo, ou seja lá que raio. Não sou o Noel (e tendo dito, arrancou o disfarce), sou eu, Joaquim, apenas armei essa situação para que os outros soubessem quem tu és.

Não se preocupe caro leitor, o autor também está confuso.

Após essa cena, o carinha da casa desse conto, em prantos, disse:

Sei bem disto tudo, e imaginei que era uma armação, e que desconfiastes. Saiba que minhas lágrimas são piores que de crocodilo, e sei que tu és um Duende também, foragido.

Joaquim, assustado, forçando o riso, respondeu:

O que dizes? Estás louco? Sou humano, não forasteiro. Jamais fui duende.

O carinha da casa desse conto, por sua vez, ria. E realmente parecia que o poder do jogo mudava de lado. Disse-lhe:

Pois sim, saibas que eu sou o verdadeiro Noel (e assim se mostrou). Há sete anos armo as peças para que esse dia chegasse e enfim pudesse capturá-lo! Canalha! Voltarás ao Planeta de Fogo, e trabalharás, sem folga, durante todo o ano seguinte. E se reclamar, mando os cães fazerem de ti, picadinhos.

Joaquim, o Duende, fora transformado, novamente, em Duende. Noel voltou com ele para o Planeta, e nos anos seguintes não se ouviu registros dele.

Os outros moradores da casa haviam fumado seus baseados durante toda a noite, de modo que não lembrariam do ocorrido. E se lembrassem todos, que importa? Ninguém lhes daria atenção. Mas, caro leitor, será que toda a história não foi apenas um conto inventado por esses viciados, que, tendo se reunido em torno de uma mesa, fumando e bebendo doidamente, narravam histórias para se manterem acordados, rindo e falando qualquer besteira que lhes fossem oportuno?

Fica a dúvida. No fim das contas, é sempre dúvida que fica mesmo. Então, nada de novo. Nada, de novo.

21 de dezembro de 2016

Sobre certezas



Muito para entender, muito para ser dito.
Talvez de certeza só tenha a dúvida,
esse meu verso, denso, obscuro, infinito.

Tudo é, matéria.


Matéria é mistério
desespero e desprezo
Tudo o que vejo
Pedra, amor, azulejo,
O bruto levado à sério.

Matéria é só linguagem
verso, prosa, miragem,
mesma coisa de sempre
mesma rima rotineira
matéria é o que me lembre
e não há matéria que esqueça.

Matéria
também é pela falta;
miséria.

Matéria
é,
não há o que não seja.
Não existe o que não se veja.
E há boca que não beija?

Matéria, a voz dos humildes
dos que
vestem os ternos nos cabides.
E quem diga o contrário
que de fato algo além,
não passa de imaginário
que é matéria também.

20 de dezembro de 2016

Aviso aos navegantes


A partir do ano que vem, começarei a narrar minhas poesias, deixando a narração disponível no final de cada publicação. Para quem odeia ou simplesmente não gosta de escutar narrações de poesias, nada muda. Para quem tem interesse ou realmente acha que enriquece o poema ter uma narrativa, poderá escutá-las.
O que acham?

Pobreza (e versos ainda mais pobres)


Na noite fria, nos escombros da rodovia, alguns
se ajeitam sob seus tetos feitos de ponte e iluminação pública.
Uma garota, pouco mais de seus nove anos, agoniada,
observa a imensidão do céu, com a fome de um selvagem,
e pensa em devorar as estrelas.

As estrelas, os astros todos, estão longe, longe, perto dos sonhos
que a guria deste poema tem. Se sacode. Algum rato inocente lhe acaricia,
como se estivesse adentrando no bueiro, mas é só a pele dessa moça.
Se coça, unhadas no corpo inteiro, e feridas no manto celestial, mas não maiores
que a tal da fome.

Amanhã, por volta das seis horas da manhã, estará de pé.
Te perguntas se ela frequenta o colégio? Sim, frequenta,
ou melhor, frequentava. Lá pouco aprendia, lá não era melhor que a rua.
A merenda escassa, e nos corredores lotados, a solidão.
Seus professores diziam que ela atrapalhava a turma, que
era vagabunda, despreocupada demais, burra, suja.
Talvez não dissessem com palavras, alguns com olhares, outros com o silêncio.

Ninguém se questionava o que ocorria?!?
Se se questionavam, certamente achavam que nada podiam fazer.
E as coisas assim vão indo.

Hoje, o poema reencontra essa moça, tão crescida.
O poema sabe que ela, indigente, como toda gente,
não é singular, não é só uma. Infelizmente, essa vida
é repetitiva, anda em círculos, em circos, e há quem ria
da desgraça alheia.
E há quem comemore a fartura da ceia.

O poema pouco pode fazer, o poema pouco se importa também.
O poema apenas descreve, apenas observa, e diz, como todos,
amém.

13 de dezembro de 2016

Margens e poemas


Marginal?
Se é a margem
que não me respeita
afinal.

Imagina
se cada um
na margem
margina.

Essa coisa de margem
essa coisa de linha
escrever é só viagem
a margem poeta definha.

Marginal.
Ainda me diz?
Se escrever
na margem
me deixa infeliz
por que escreveria?

Eu seria escravo,
mero fantoche, deboche, espantalho,
viveria na cova que não cavo
e seria só um deus frustrado, falho.

Me reinventar todo dia
fingindo amor que não devia
isso seria suicídio, chuva de canivete.
Prefiro sete anos agradáveis
que do contrário setenta e sete.

Do contrário
seria cavalo de corrida
que louco dispara buscando ser campeão.
Perdendo a vida.
Não sirvo pra isso não
prefiro ser aquele
fora do páreo. 

12 de dezembro de 2016

Não encare o poema


Encarar um poema, é coisa que não se faça
Coisa que não se deve ou deva, coisa rara
Ir contra a própria vontade, é querer desgraça
Para si. Esfolar no asfalto a própria cara.

Não encare um poema,
Ainda que ele te encare.
Não é teu o problema
E se encarando estiver, pare.

Encarar um poema, se poemas são inofensivos.
São pedras jogadas ao vento.
Poema são versos mortos, se preocupe com os vivos.

Poema é coisa sem muito sentido, que utilidade
vê o poeta em escrever o que ninguém se importa?
Que utilidade vê o leitor em ler o que não importa?
Oras, somos todos vagos. E isso merece um poema.
Ou vários.
Ai se vê a utilidade da inutilidade, dádiva humana, mortal.

Mas não encare um poema, não pense sobre ele.
O poema não é responsabilidade do escritor.
O poema é responsabilidade e culpa de quem lê.
É dilema de quem no poema vê valor.

11 de dezembro de 2016

Quisiera..


Do desejo de beijar tua boca de arrancar

tua roupa de te possuir e ser possuído pelos
teus desejos e desenhos, de tua arte abstrata de teu sorriso
doce e com sofreguidão impaciente e ávida. Ah, tua voracidade não
me deixa pontuar direito este poema sem jeito e sem pausa pois assim
é que me delicio em teu labirinto e me perco e me acho e me perco versando, pausa.

Do desejo jamais tão desejado,
lento, forte, enigma, demorado,
só te quero e te quero ao lado
mas não do lado de lá, onde os outros estão,
te quero nua, crua, na minha e na sua atração.

E num haicai tudo isso se comprime, exprime, que rime
ou não, mas que seja versado e conversado,



vem
e vai         (vamos)
além.

4 de dezembro de 2016

Ferreira, SinGULLAR (não o maior, mas um deles)


Os poetas também morrem.
Mas morrem de forma diferente.
Se vão, mas não se dissolvem.
Se dissolvem na boca da gente.

Outro poeta eterno parte.
Parte dessa para a arte.
Parte dessa para sabe se lá.
Pro Nada, Deus, Sucellus, Alá.

Alá! Olha o poeta ali.
Dentro daquele poema
Dentro daquele dilema
O qual outro dia li.

Mas, como Gullar já bem dizia,
no seu "Extravio", na poesia:

"Estou desfeito nas nuvens:
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um menino,
que sou eu mesmo, a chamar-me".


Os poetas também morrem
Alguns exigem o fim
Outros, imortais,
partem assim.
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O tal do tempo


O tempo é quando!
Nada mais.
Se faz caminhando,
parado; jamais.

O tempo é o que fiz
das horas tão controversas,
por que não me diz
querubim, o que tu versas?

O tempo é cansaço.
Gotas de suor
nosso deus maior.
E ninguém é de aço.

O tempo é ingratidão
O tempo é herói.
O tempo é vilão.
Que se devora e corrói.

O tempo é o reflexo
daquele que perplexo
se encara no espelho.

2 de dezembro de 2016

Cores amarelas e prosa


Fingindo estar sempre bem, para que outros possam sorrir
O tempo devorando os lábios, o espaço apagando tuas pegadas
Frente ao mar de ansiedade e convulsão verbal que demonstras
O melhor é correr, eternamente correr, e para onde, para onde?

Eu não sei. Apenas escrevo essa mísera poesia, como forma de agradecer-te
Pelo desespero que proporcionas ao meu olhar.
E se debate, e lutas contra teu próprio exército, choras.
Já não sabes a hora e para onde voltar quando o Sol desaparece dos nossos sonhos.

Segues. Finges bem. Finges bem estar amando mais esse dia.
Como um demente consciente da própria doença, tampas a ferida.
Mas quando sorrir, teus dentes amarelados espantarão os angelicais
Demônios desse mundo. Se lhe serve essa prosa, eles também fingem.

Fingem tão bem! Fingem também! E fingem, fingem.
(É só isso que sabem fazer, além de fingir que não fingem).
Não há nenhum problema, não necessitas da maquiagem
Que usas para (escancarar ainda mais os teus rancores) disfarçar.

Tu, que voltas a cair, e a tua boca, dominada pelo silêncio
Sepulcral silêncio dos teus lábios, que se esquivam veemente dos desejos.
A vida, nada mais o que já sabemos, todos. O resto, tédio e farsa.
Queres a perpétua satisfação dos quereres? Ou morrer com eles?

Fingindo estar sempre bem, ela desperta.
Tão logo possa, voltará para o deserto, para o cemitério de quatro paredes. Quarto.
Quando não finge estar bem,
ai sim, desencantando o insensível, consegue sorrir sem as cores amarelas,
e então, desperta, encantadora, com o pouco de real que há na tal "realidade",
e já não queres volver ao teu paraíso infernal.

Eu não sei. Nunca sei se compreendes meus versos.

1 de dezembro de 2016

337*


Ah, o rancor. Esse sentimento magnífico.
Nos dá o direito à violência.
Perfeita nossa bendita decadência.
O rancor que se volta ao eu lírico.

Ah, perder tempo observando a natureza
bela das flores do campo colorido.
O espinho, nesse toda delicadeza,
é a ferida do amor que não tem ocorrido.

Ah, a insensatez. Admiro quem nela se orna.
Não havendo problema na pessoa
todo verso nela nada ecoa,
e o insensato um deus de si mesmo, se torna.

Ah, o poder da ironia.
Do sádico que ri da demência
dos outros e de toda eloquência
da linguagem linda. Vazia.

Ah, todo lamento!
Versar é meu alimento
pois assim, um pouco,
do meu estado de louco,
ausento!

30 de novembro de 2016

Esconderijo


Poeta que finge
é poeta com humor
diz que nada atinge
o seu próprio valor.

Mas fingindo
finge não fingir
e vive fugindo
sem saber
pr'onde ir.

A dor que lhe devora
é a dor do verso rimado
dor que chega a qualquer hora
e faz-lhe sofrer, condenado.

Todo poeta é falso
todo falso poeta é
aquilo que ninguém sabe
e que só no verso, cabe.

Poeta que não esconde
é poeta sem verso na manga,
é poeta que de amor
chora, dança, sangra.

E dos poetas que conheço
esses versos dedico,
fingindo, até cansar
eu também fico.

27 de novembro de 2016

Um ano, ou um século.


(Ela)-

Vai, deixa estar, siga seus passos,
abra mão dos infortúnios causados pela felicidade constante (rotina)
e se entregue aos fortuitos desejos de tua infantilidade masculina.

(Ele)-

Pois, que escolha tenho, entre abandonar-me
ou te abandonar? Não abro de minha essência, ainda que ácida
e amarga, ainda que tosca e inquieta. Mas saiba que te quero bem.


(Ela)-

Sei que voltarás, e, ao ressurgir o verso na tua veia
poeta, e ele irá retornar, pois não se foge do próprio
poema.

(Ele)-

O poema é que corre do autor.
O autor corre do amor.

25 de novembro de 2016

Opróbrio próprio para um ignóbil e um haikai


Desculpem-me a estupidez, a arrogância e os versos sem fim.
Mas tenho que repetir esse meu ridículo lamento.
Alguns se utilizam do diploma, retórica, termo sem fundamento.
Outros fazem do discurso: lírio, rosa, orquídea, jasmim.

Quisera meu discurso não houvesse redundância.
O que declaro por meio dele é a falta de elegância.
O que é típico de poema de poeta de gaveta.
Se esconde, se mostra, a crítica sempre flerta.

De fato estou cansado de palavras tão vazias.
Ditas com efeito, com certo ar de ocultismo.
Beirando a esquizofrenia, graduando meu cinismo.
Enquanto escrevo com calor; obras frias.

Desculpem-me o jeito confuso. E a sinceridade.
Repito, repito, foda-se o discurso de autoridade.
Porque na falta de argumento, se ergue a voz.
E todos viram a cara para o que ocorre após.

É assim, e o ciclo não se inverte.
Criança observa adulto, criança adulto repete.
Manda quem fala mais alto, no grito.
Manda quem se utiliza de discurso bonito.

Se aplaude quem se utiliza de jargão.
Termos complicados, ditos com profusão.
Certo está quem utiliza de retórica incompreensível.
Falando pelo cotovelo sobre algo jamais visível.

De fato estou cansado de palavras tão vazias.
Tão cheias do metafísico, dotadas de conceituação
e idiotização antifilosófica.

Como dito por um docente, ríspido, mas competente:
"tudo isso não passa de masturbação intelectual".


Hegel que o diga.
Vencer desse
Quero ver quem consiga.

22 de novembro de 2016

Versinhos, o lado romântico do pessimista


Quero, compartilhar do teu silêncio.

Não muito dessa vida espero, me contenta
o básico. Amor, alimento, alguns debates,
conversas furadas ou sérias, um café.
Um abraço, um livro, umas cervejas, um ar
fresco.

Teu silêncio compartilhado,
além de alguns dias vagos ao teu lado.

20 de novembro de 2016

Poema sem codinome


Havia desejo nos seus movimentos, e certo mistério.
Mas não apenas no sentido carnal, pois cactos
até abrirem para outros olhos sua bela flor
insistem em conhecer tudo ao redor, nos mínimos detalhes
(oh, de detalhes é que se vive, de detalhes é que se morre, lentamente).

Havia medo. Medo, e ela sabe disso, como ninguém.
Suas palavras, ainda que de terna doçura, expressavam
certa angústia, certo arrepio ao mais leve toque.

Sua boca, carnuda, e suas gírias pouco usuais, apenas
faziam com que a noite ganhasse em estranheza, em anormalidade.
Afinal, os normais são tão secos, tão sem cor, tão nus de graça.
Oh sim, não poderia deixar de repetir, havia certo mistério.
Até mesmo para escrever-te versos, bela dama, necessito de critério.
Jamais poema se escreveria, se não fosse a dúvida e o que não se sabe,
ou o que não se diz, e que em silêncio, se entende.

Mas sabes, não sei se tão bem, ainda que isto vivas,
que a solidão és tua melhor companheira,
e que teus melhores sonhos e instantes são com teus silêncios.
Sei

que procuras em outro alguém
não o que outros procuram.
Sei

que procuras silêncio, para que entendas
tudo.
E olhares, para que se olvide
tudo o mais.
Sei

que queres na presença alheia, a ausência dos teus problemas
por isso vazio me faço, como sou, para que ouças
com certo riso no canto de teus lábios
o silêncio composto equalizado entre as paredes de teu quarto
 Sabes

que querendo, aqui estou,
verso aleatório nesse mundo contraditório.
Sei

e certo mistério.

16 de novembro de 2016

As pernas que passam no centro


As pernas que passam no centro
passam depressa para onde não sei.
Desesperadas, correm rumo
ao objetivo de nossa espécie: nenhum.

As pernas que passam
passam e pasmam com seus reflexos.
Rugas que se olham na vitrine da loja
a idade que nos deixa, perplexos.

Agora pouco, uma senhora
com seus pouco mais de cinquenta
pergunta-me a hora
e passa, como a perna, e se ausenta.

Queria ter respondido
que era hora de refletir
mas cego pós-modernista
só sabe refletir o umbigo
naquela vitrine da loja
do verso anterior.

As pernas que passam no centro
passam no centro do meu poema.
Não que isso seja algum problema.
Mas me é estranho, que pernas tão diversas
possam ser versadas e confundidas
se se observa a velocidade com que passam
no centro.

Prefiro a pedra de Drumonnd,
que fica por aí, no centro,
procurando pernas para ficar no caminho
e ser versada,
sem por quê
e mais nada.

15 de novembro de 2016

Não era para ser

-
A poesia questiona o autor.

Furioso, se revolta,
e termina sua criação
nesse verso.

12 de novembro de 2016

Discurso inútil dos desejos


Nenhum poema vale à pena ser escrito
quando a intenção do autor é tornar
o verso cada vez mais narcísico, bonito,
quando há necessidade de cravar
com palavras, o discurso inútil dos desejos.

Nenhuma poesia é para ser elegante;
quando se quer destruir a diferença
entre uma pedra qualquer e um diamante.
Quando se quer acabar com a crença
na rima, na prosa, nas letras todas.

Nenhum discurso é livre.
A liberdade é o discurso do cego.
E o efeito de suas palavras, a religião,
com que convence quem dormente
vive.

Todo poema corrompe seu criador
bem como todo silêncio se espalha,
ainda que este poema não valha
um só segundo de nossa atenção:
para o próprio criador
é prosa inútil, reles, falha.
 

9 de novembro de 2016

Só o banal é fantástico


Vulgar;

toda natureza
humana
toda hora
todo dia
toda semana.

É essa beleza
que merece
ser admirada.

O simples, o corriqueiro.
Evitando o encanto
pelo moralismo e exagero.

3 de novembro de 2016

Versinhos


Um verso, uma prosa
algo ali que acontecia,
chove, nasce a rosa
nasce dor, amor, poesia.

Outro verso, todo medo,
algo ali que acontecia,
em dois, não é segredo,
se no olhar já se via.

Dois versos, eis a rima,
pecado é não cair em tentação.
Um embaixo, um em cima,
versando se compõe a canção.

Um verso, uma prosa,
na transa, na trança do poema.

Um verso, uma prosa,
eis aqui esse outro, esse outro
esse outro, alheio
partido ao meio, o dilema.

29 de outubro de 2016

Bulbophyllum guttulatum



Nela, o meu silêncio.
Nela, o meu egoísmo.
E todas as variações
de desejos e flores
que um dia eu daria a alguém.

Longe de todos, observando
Os veículos e a velocidade
Enquanto as árvores dançavam
No mesmo ritmo que meu corpo.

Não ventava. Eu estava parado.

Umas cervejas, alguns olhares.
O medo de se aprisionar
No conceito de liberdade.
A angústia de sermos dois
e não sermos ninguém.

Não ventava. Havia prazer
No prazer de não esgotar o prazer
naquela noite sem lua, sem sono,
de paz.

Os assuntos vagavam, transitando
na mesma direção dos carros
que tão pouco atrás mencionei.
Iam depressa, arrancavam-nos risos
e formavam algumas estrelas nesse céu
tão sombrio dos nossos relatos.

Pois, é quando o vazio é preenchido
com outro vazio mais imenso
que as coisas parecem fazer sentido;
vida, pura calma, no teu espaço,
que o desejo não se quer saciar.
Só quer mais desejar, e desejando
não vê a hora de voltar, fazer soneto
versejo,
enquanto da solidão
não fique apenas, refrão.

Agora venta, já não sei parar.
E as orquídeas florescem

uma se faz notar.

27 de outubro de 2016

Poesia dos que fazem da vida, poesia


Se ao teu lado, amigo tens
repousa-te tranquilo
desperta-te com estilo
pois nenhum rico tem tantos bens.

Se ao teu lado, amigos, no plural,
de que tu reclamas?
Com eles anos ou semanas
serão sempre, risadas e carnaval.

Se ao teu lado, sozinho te encontras,
te encontras primeiro.
E depois procure aos outros
encontrar.

25 de outubro de 2016

Café vírgula outro café



Entre um gole de café e outro
os dias passam, e os olhares
cansados, sonolentos, não descansam.

Sabe que somos miseráveis
sabe que somos um delírio
sabe que somos inofensivos
e que qualquer rosa
é capaz de nos ferir profundamente.

Entre um gole de café, e outro.
A noite toma-me, o dia, cospe-me.
Entre um gole de café, frio e amargo,
me apresso para a realidade
de um amanhã insistente, impossível
de se alcançar.

Pois o tempo é uma ilusão.
O tempo, mais outra ilusão.

Há relógios.
Mas as horas só indicam nosso atraso
e do que escrevo, ninguém faz caso.

24 de outubro de 2016

Caça


Não procure nas estrelas.
Estão todas mortas
e desmaterializam os sonhos
de profetas e poetas
que buscam nos céus
o paraíso.

Não procure nas respostas.
São tolas e vulgares
e desmaterializam os sonhos
de filósofos e bêbados
que buscam nas causas
o paraíso.

Não procure na tecnologia.
Troço inútil e desprezível
e desmaterializam os sonhos
de naturalistas e senhores de fazenda
que buscam nos ventos e cantos
o paraíso.

Não procure no nada.
Ele se quer existe,
e se existe, nada não seria.

E até agora lês esse poema
e não te perguntastes o que
então está se procurando.

Pois, procure não questionar
esses versos.
Pois nem eu sei bem.
Talvez não queira saber.

23 de outubro de 2016

A moça, a seta, o símbolo


És como o mar,
e gostas de brincar
no vai-e-vem, como onda
que chega, gelada,
e refresca o corpo.

Mas, assim que mais se quer,
desesperadamente nessa brincadeira
se recolhe, tornando-se
desejável, e impossível
de ter, se não que somente por instantes
crueis e expressivos

onde o desejo
não deixa espaço para a inocência
e o ápice, é em si mesmo, decadência.

18 de outubro de 2016

El secreto de sus ojos ..


Quando teus olhos
encontrarem olhos
aos quais não temam
o olhar,

deixe o olho
de molho
e passe a amar.

Ou, pessimista,
seja um olhar
que se deva desconfiança,
pois no olhar que não treme
pois no olhar que não teme
algo além,
e é tu quem dança.

10 de outubro de 2016

PsicoPoema IV


E foi assim, que o Sábio, Ser Humano,
após desbravar teorias e teoremas,
após destruir o sagrado e o profano,
resolveu se isolar e escrever poemas:

Após certo tempo, longe do perigo
de ser tomado como fútil ou como herói,
construiu seu alicerce que agora, não corrói:
não fugiu da chuva, não procurou abrigo.

Se abrigou na própria tempestade
não dando a ela poderes ou magia,
e assim sendo, reconheceu que verdade
é não inventar algo além do que ocorria.

Num tempo a que chamamos passado
homem sábio, fogo conheceu
e se explicou, de tão impressionado,
que Vulcano o fogo deu.

Aprendeu-se técnicas: controle e previsão.
Vulcano e seus nomes variantes
desapareciam ao passar dos instantes,
pois nesse mundo já não tinham função.

E nesse tempo em que vivemos
o homem que enterrou seus deuses
reinventa-os várias as vezes,
pois, de fato, nem tudo conhecemos.

Homúnculos, liberdade, livre-arbítrio, egos.
Self, transpessoalidade, o culto ao oculto,
perceberemos então que estivemos cegos
e por fim, saberemos, que nada é fortuito.

Mas há quem insista.
Mas para cada um que insista,
há outro que pela lógica
persista.