28 de julho de 2017

Meu santo altar



"A grandeza do voo
a altura da queda"

diz o preguiçoso
que tem lá seus motivos
para continuar
pisando na merda.

E quem não tem?

Me perguntem
sábios, bispos e peões
estrelas, ruas, corações
que dúvida possuem?
Responderei

eu,
uma a uma
até que toda questão
da boca suma,
responderei

eu,
da irresolução
o rei!


16 de julho de 2017

O que cala e o que se faz calar



Entre
o barulho
e o silêncio
estridente

entre apenas
o silêncio
no som que sai
entre
meus dentes.

(Televisores ligados anunciam
pessoas doentes)
 

10 de julho de 2017

Hai cai e chega ao inferno



Engasgar com água
é coisa do diabo
(Jesus toma vinho)

Não cuspa palavras como sementes de tangerina


Afobada escrita, desejo de cuspir palavras
Faz pouco, perdi.
Agora, só o vento escreve
aquilo que ele ou deixe ou leve

leve, como uma pluma
pode ser que fique, ou suma.

O que digo, se pouco, bem dito é
só não é bendito.
É curto, as vezes grosso,
as vezes apenas torço
para me deixarem calar.

Tantos poemas
deixei
tantos problemas
achei

resta só as expressões faciais
pressões que na face aparecem demais.

 

4 de julho de 2017

No decorrer de uma noite qualquer



A TV ligada, na casa que passo um dia ou outro,
o medo de ficar no silêncio, a hipocrisia da geração passada,
tudo isso assusta.

E político rouba dali, rouba de cá, me perguntam:
" -Você viu a última que saiu no jornal?"
respondo que não faço ideia a última vez que vi jornal,
julgam-me então de alienado, de pouco ativo,
como se saber d'algo da telinha fosse mudar
meu futuro, meu presente, meu passado,
ou o futuro de qualquer um que na rua transita (vive).

Tomo um vinho.
Tomo um café.
Tomo outro café.
Viciado!

A TV ainda ligada, por volta das duas da madrugada,
os idosos sofrem.
Os idosos não dormem sem suas telas ligadas em alto volume.
Talvez, medo da escuridão dos anos.
Talvez, medo da solidão dos anos.
Talvez, a ausência de companhia no decorrer da semana.

Não se dorme. Vá então ver as estrelas, diz um pensamento.
As estrelas? Numa noite fria, nublada, não há nada para se ver.
Acabo então por escrever um poema qualquer, que acabas de ler.

A TV ligada
não me deixa
escrever nada
decente. Mas isso não é novidade,
faz algumas centenas de semanas que nada vale ser escrito.
E o que vale, esqueço de jogar em tinta.

Talvez a música tenha sugado a rima, a letra.

1 de julho de 2017

Pegue uma cerveja e relaxe enquanto eles se mordem



Lentamente, a passos curtos, se desespere
tempere sua felicidade com o sal do desgosto
pois nem tudo na vida é carne. Há legumes.
E vegetais. Isso sem contar a fome e a miséria.

Depois, se delicie com a sobremesa, a dor
dos que choram no frio dessa deserta e tão
lotada
cidade.

Sabe que, a tragédia é o amor dos humanos
desde cedo, escravos dos próprios desejos
perdidos na própria tentativa de encontrar sentido
enquanto outros procuram um canto para fugir.

Lentamente, tome para si essas palavras
e jogue-as na cruz. A cruz da rotina, a cruz
das lamentações, que esperam por tempos melhores
enquanto os melhores tempos se perdem.

Sabe que, almejar pouco, solidifica o pouco conquistado.
Para alguns, uma cerveja basta.
Para outros, não basta a empresa inteira.
Mas sei, lamentar pelo ou(t)ro é besteira...