28 de março de 2018

De pressão cotidiana



Quer: escuridão e o som do próprio respirar;
porém lhe asseguram o exato contrário;
sentir-se vago, amarrado, enclausurado,
mas não: quilos de pó, maquiar o silêncio,
uma roupa bonita, leve sorriso no rosto,
e deixar-se levar por aí, como se vivo estivesse.

Quase um corpo perfeito, se não fosse a perfeição.
Parecia-me uma poesia drummondiana mas
com uma gramática polida demais, gera desconfiança.

Uma pausa para esse poema- descrição.

Tenho escrito-o por meio dos meus próprios olhos.
Erro nesse ponto. Noutros mais, também.
O que acontece na literatura é um pouco disso.
O que esse ser, angustiado, poderia dizer-nos?

Não sei, não sei.

27 de março de 2018

Subjetividade


para mais ou para menos
nunca se sabe o meio
o copo vazio pra um
o copo pra outro cheio

psicanálise



palavras vagas
vagas de emprego
palavras empregadas
vagas e vagas
palavras pregadas
em vagas definições;

palavras apregoadas.

A docente - em pé - em êxtase
com o discurso redundante do discente
eu, ali, cansado, todo ausente
me retiro da carteira, sigo ao banheiro
local de menos merda que essa aula;

inesperadamente
(ou devo dizer, Paula-tinamente?)

me chama, sorrindo, ela;
sim,
sorrindo, acreditem

o dia é só poesia,
inesperadamente

até os psicanalistas viram
matéria reciclável

17 de março de 2018

16 de março de 2018

Sem acento, mesmo pegando busão



Quiçá
entendessem
o quiço
o fiço
o pido

todos tão preocupados
com suas gramáticas
burguesas

11 de março de 2018

Haicai chinelo



Só gente de terno
discutindo democracia:
um ciclo eterno.

Dos espíritos fracos que não sabem silenciar

      

       Somente me responsabilizo pelo meu silêncio. Pois, claro, como poderia responsabilizar-me pelo que digo, se sou forçado a dispor minha voz? Oh, não. Somente o silêncio, ecoando nos móveis de uma sala qualquer é que se deve atentar. Para isso vos digo: "Calai-vos!". Quanto a tudo que nos é afirmado, silenciaremos.
       Mas não pense que sou rude; não pense que sou grosseiro; não. Escute bem as vozes ao seu redor, se nada digo, é porque nada tenho a acrescentar. Mas me responsabilizo pela ignorância; e pela sabedoria do meu silêncio. Ainda mais pela minha arrogância.

Jornal é agressão verbal



Ainda perco tempo
discutindo
com quem vê
jornal nacional

é lutar contra
as manipulações globalistas
e todo efetivo controle
exercido pelas hierarquias
competentemente incompetentes

Quando chega ao absurdo
de pobre injuriar pobre por ser pobre
é melhor silenciar ali
e exercer cidadania em outro canto.

O pão que o diabo amassou é sempre melhor
que o pão nosso de cada dia, amém.

Honduras, Guatemala.
O predatório fala mais alto.

9 de março de 2018

Coisa mínima






O ódio
ao ócio
inspira

burguesinha



Tão recorrente
achar que pobre
não é gente

Abismado



um olhar intimida
ninguém aguenta
quem encara

admiro
que só de olhar
já firo

escuto, perplexo
aquele belo discurso
sem nexo

muito charlatanismo
desse discurso moratório
quero de distância
no mínimo, um abismo.
 

Mofo


sentado, em sala de aula,
lugar onde quase existo
são só vozes
são só gritos vazios

as luzes, os slides todos
cansam não apenas a retina
cansam os desejos
cansam meu amanhã

sou um E.T.
pareço cair de paraquedas
em versos urbanos

parece haver ali
coisa estranha
um melhor que o outro
sempre um "plus"

ninguém engole o saber
é tudo repetição
docente ecoa matéria
matéria ecoa prova
prova ecoa nota
nota ecoa outra aprovação

sem a menor relevância.

sentado, na sala de aula,
escrevo poesia;
outros ali
escrevem burguesia

4 de março de 2018

3 de março de 2018

Foi que...




Foi que parei de escrever versos
para escrever verdades e aplausos
quando, de fato, não me importo.

Foi que meu ruído na gaita
silenciou e tornou-se dor
a cada sopro.

Foi que meus olhos cansados
ora não queriam abrir, ora não queriam fechar
e me perdi com tanta luz.

Foi que não existe noite
existe Sol ou postes ligados
e prédios prédios prédios.

Foi que parei de escrever versos
para me recompor
e nisso, vai tempo.