30 de abril de 2018

O copo de café revelou



Tudo em mim, uma decadência
esperando a sonoridade da gaita
o ruído nas ruas, já sem paciência.

A luz, incomoda; a poesia, ainda mais,
antes considerava dádiva a escrita
hoje meus versos urbanos são rurais.

A solidão, companheira, alegra,
os olhares desatentos e despercebidos;
a alma, sozinha, a dor carrega.

Uma multidão de desesperados
olhando nas telas de seus celulares
(cuidado, estão em todos os lugares).


Tudo em mim, é queda.
E, para não piorar,
vou deixando que fique
na mesma merda.
 

17 de abril de 2018

Walden Two em minhas mãos I



Um ambiente sem luz
seria possível?
um escuro completo
sem poste por perto
sem Sol pra guiar?

Um ambiente
sem luz no fim do túnel
sem holofotes
um escuro completo
sem tom inquieto
um xadrez pra jogar?

Um ambiente
amigo
não ambivalente
sem perigo
sem chance de errar?

Um ambiente
uma sociedade alternativa
uma Walden Two
difícil ocorrer?
uma comunidade que viva
por viver?

Um ambiente
aprazível
ao outro
sensível
onde busco?

Um ambiente
que o outro entenda
que ao brilhar
o outro ofusco?

Só um ambiente
de contingências programadas
com pessoas amáveis e amadas
e sorridente
um Skinner a passear?

Peço demais?

Ao som da questão
meu amigo me chama
para o cruel
para o real

a mudança ocorre
feito lesma,
a coisa é que parece
sempre a mesma.

Mas não é, não.
Milton atravessa a faculdade
exuberante.
Paula atravessa a cafeteria
sorridente.
Lucas(as) pede para jogar um xadrez, modo clássico.

O dia se torna gracioso.

12 de abril de 2018

Dia doce de abril



Nem tudo aquilo é prosa
nem tudo de quilo é lamento
quando pedra for rosa
eu de mim me ausento;

caso nunca ocorresse
de ser o que se é
seria sendo e esquecesse
de ser um homem de fé?

caso sempre fosse
tranquilo, de bom humor
a vida por demais doce
se amarga te faz um favor?

açúcar ou adoçante?
disse o garçom
não respondi, achei maçante
o seu bom tom;

nem tudo aquilo é prosa
tudo aquilo nem prosa é
parece mais cansaço, viu.

Berenice




do que o outro disse
que o outro disse
disse também Berenice

o outro ouvisse
também, talvez, repetisse

mas preferiu não rimar
prosa alheia;
resolveu; silenciar;
palavra; que não inteira;
é só me/ia a te ferir

11 de abril de 2018

Seria onda



Tudo em mim tem um ponto de discórdia
se vê ontem quer amanhã
se não foi quer sê-lo
um solo de baixo, um solo de cima
quer batata frita, não quer usar óleo
e deseja sempre o contrário
do contrário; não é o mesmo.

Difícil seria se fosse fácil
não seria o que se é
se não fosse a subida da maré
seria onda,
iria na onda
de quem é mar.

Tudo que
quando
nunca
sempre
fica
igual.

Tudo que
onde
fica
nunca
muda
permanece

e escondido
sem alternância
se esquece

poesia mesmo
quando muito
tem sorte
de viver à esmo.

10 de abril de 2018

Jumentos e sensações - variações de um mesmo tema



Minhas sensações são como jumentos
sim, jumentos. Não achei viável defini-las
pela velocidade das motos, dos carros.
Jumentos. Eis minha sensação.

Nas ruas de meus comportamentos
tão íntegros, tão convictos, tão egoístas,
as sensações atravessam, tão rejeitadas
mendigando atenção. Não dou ouvidos.

São como jumentos, adestradas.
Mas, vira e mexe, tem um que quer aparecer.
Faz graça, escapa, nada mais que para ser recapturado.
E sofrer as consequências.

São como jumentos.
Minhas sensações.
Meus sentimentos.
Meus lamentos.


Eis minha sensação

7 de abril de 2018

Sapo Barbudo


Até agora me pergunto por que raios um ex-presidente iria roubar um apartamento que custa menos de um milhão.
Até agora me pergunto por que tanto ódio por uma única pessoa.
Até agora eu não tinha visto na TV o modo como tudo isso é transmitido.
Assisti, essa semana, a entrevista do Juiz Sérgio Moro para o Roda Viva.
O cara tá por fora, vai pela convicção. Ou melhor, só segue ordens da direita.
Não sabe o que faz, só faz pela grana que ganha ao fazer.
O pior de tudo, seu discurso é banal e moralista. Não tem perfil para herói nacional.
Mas é um. Muita modelagem feita na população.

O Sarney, tá solto.
O Temer, não sofreu impeachment, apesar de assinar o mesmo doc. que a Dilma assinou
e por isso foi acusada de causar improbidade administrativa. Ironia, não?
O Collor é candidato à presidência.
O Alckmin, nem se fala; corre só de escutar a palavra "metrô".
Não que Lula seja inocente, não acredito em político, quando o assunto é dinheiro.
Mas isso tudo cheira mal. Só besta não vê.

Sobre os 900 mil reais que levaram a prisão do sapo barbudo, Temer
gastou, com jantares para a imprensa, para tentar convencer os jornalistas que é coisa boa,
muito mais que o dobro do dobro dessa quantia. Ironia, não?
Mas aí não é crime. É permitido.

Querendo ou não, é só olhar estatísticas. Ao menos em questões sociais
as coisas estavam indo menos pior. Não estavam bem, estavam menos pior.
Porém, é de (des)conhecimento nacional
que os mesmos que comemoram a prisão do cachaceiro petista
acreditam que nesse país, não há racismo, não há preconceito...
tudo tão meritocrático.

São os primeiros a dizer que quem mora na favela é bandido,
os primeiros a apoiarem a invasão no rio de janeiro
os primeiros a defender o fim de tudo que é direito social.

De novo, repito nos meus versos:
é tentar sanar as consequências
sem sequer voltar os olhares às causas.

Até então, eu não cogitaria votar no Partido dos Trabalhadores
mas, devido a todas essas perseguições seletivas,
não me resta dúvida. É tudo estranho demais.

5 de abril de 2018

Esvaindo



Tudo na vida, vai indo.
Vai indo sem onde
vai indo sem quando.
Inclusive a vida
vai indo, vai passando
vai lhe sorrindo
amargamente

a poesia vai indo
o cachorro vai indo
a gramática, os búfalos, os perfumes,
as diarreias e os medos,
até
o sonho vai indo

a utopia fica.