28 de janeiro de 2017

Espinhos de plástico


Aquele rosto, que aos poucos misturou-se ao teu
se dissolve. Torna-se dois, novamente. Em verdade, sempre
foram dois rostos, duas máscaras que tentavam se enganar
fingindo um ao outro, sincrônica e falsamente, sorrisos
tão reais quanto o pó na cara das mulheres (e alguns homens)
tão reais quanto a planta da dona de casa de vinte e um anos, que não sabe
cuidar nem de enfeites artificiais.

Também as rosas artificiais morrem de sede.

Aquele rosto, distante, frio e tão esquisito (para não dizer mais)
é a face de quem lhe jurou a eternidade, lhe jurou amor.
Aquele rosto, do passado em diante, será apenas um na multidão
mas sempre, memorável. Coisa que o tempo há de curar
ou de enfiar uma faca na corte, para ver o quão forte és.
E pensa que perde algo? Que perde alguém? Pois não engane,
perdendo um dígito numérico, se ganha as nuvens e as estrelas,
se ganha os bares, os destinos, os beijos, as carícias, as mordidas,
se ganha as portas que se abrem (e se abrem!),

e
se ganha
a solidão, por vezes,
companheira desejada,
por vezes,
um drinque com o silêncio,
se ganha noites pensativas
se ganha o desejo de não querer ter ganho
nada.

E o maldito diabo que não sopra aos ouvidos
é o que incomoda.

Também as rosas artificiais morrem de sede,
e os espinhos de plástico, ferem.


 

27 de janeiro de 2017

Se... (ao estilo blog do Azarão)



Se eu ainda existo
É por certeza absoluta
Que em nada insisto.
Não é coisa que valha a luta.

Se ainda vivo
é que sei, pra isso sirvo,
e que a tal existência
até o fim é pura decadência
E não merece grito, esperneio.

É que não faço questão
de velório, choro ou reencarnação. 



25 de janeiro de 2017

Drinques e bailes



O vinho até pode ser seco
mas nesse quesito
não ganha da vida.

O café até pode ser forte
mas nesse quesito
não ganha da madrugada.

O álcool não embriaga
os que neles se perdem
para ganharem prosas e romances.

A água, em certos momentos,
tem mais sabor que tua boca.
E olha, ela é insípida.

O uísque, não comento.

 

18 de janeiro de 2017

Falando pouco


Se é dia, anoiteço.
Se é noite, amanheço.
O fim do dia alheio
Para alguns
É apenas o começo.

 

16 de janeiro de 2017

Dando a Luz


 Poema escrito por Igor José, o terceiro aqui no Blog:


No princípio

Tinha o vácuo
O espaço anterior ao onde
O momento antes da transformação
É o silêncio
Que é mais que silêncio
Na fria aurora dos tempos

Mas, havia dois seres
Bem solitários
E como todos sabem
A solidão pode destruir.
Um dos seres era as Trevas
Sua forma era a vastidão de nada
Não possuía luz e nem informação
O outro era o Tempo
Sua forma dependia do observador
Ele era de todas as idades
E de nenhuma.

Tais seres se apaixonaram
E dessa paixão
Brotou o amor
E logo depois, filhos,
7 para ser mais exato
Uma cidade foi criada
Para a família viver
Chama-se Cidade de Prata
Mas ocorreu uma briga
Entre irmãos, algo normal
Que se tornou uma Guerra
A primeira de todas
Tudo ardia em chamas
Como estrelas
Os Caídos, vencidos...
Que Inferno!
Os Vencedores
Assumiram responsabilidades
Que não cabe a mim dizer

O Casal Fundador
Trevas e Tempo
Decidiram-se separar
Se divorciar
Após os acontecimentos.
Então houve um grito
Um grito de dor
A dor de um parto
Dor que deu a luz
Ao vácuo
E uma rachadura apareceu
Assim foi o parto do Universo
Como o conhecemos.

A história possui
Várias curvas e bifurcações
Para contar essa história
Eu simplesmente virei a esquerda
Já que sou canhoto

E para contrariar os mais religiosos.

13 de janeiro de 2017

Madru-gado



Ele era o diabo em pessoa
cantarolava velhas canções
que aos ventos ainda ecoa
amava amar suas paixões.

Ele era o diabo, em carne e osso
fazia das sobras seu espetáculo
ele era, sem dúvida, bom moço,
ouvia, respondia como oráculo.

Até que veio a Madrugada
desprezar seu inigualável verso,
como quem não quer nada,
revirou sua vida, seu universo.

Madrugada era mulher
mas não simples, como se pensa,
Madrugada não era qualquer;
era rima, amor e desavença.

Mesmo com todo poema
do nosso pobre personagem,
Madrugada era deusa suprema
não queria estar só de passagem.

Pelo fim dos tempos, Ela,
será conhecida como rainha das trevas,
ainda que o título seja injusto.
Observo, de minha janela,
Madrugada, nas escuridões longevas,
perto do amanhecer, não causa susto.

Observação:
são injustos os poemas,
começamos dizendo do pobre diabo
e nenhum verso a mais lhe creditou,
que destino o levou?

Voz


Tem a voz
que tem um timbre
que vem pausada, com certo sufoco
que vem quente, muito quente,
por vezes serelepe, vezes deprimente.

Tem a voz,
que não é qualquer coisa
é teu gemido, teu legado, teu medo,
e é tudo por essa voz, doce,
como se fosse tudo tudo devorar
e se pergunta
"mando ao diabo, ou devo orar?"

Tem a voz
que te atormenta
quando está presente.
Que te atormenta
quando de repente, ausenta.
Tem a voz
tem a voz, quando se junta
quando está a sós,
quando tem um pouco de eu
quando tem um pouco desse tu
nesse nós, nesses lençóis.

Tem a voz
tem o sopro do vento
tem a voz
tem teu silêncio
brusco, único, violento,
e tem a voz.

Tem a voz
a sublime repetição dos versos
almejando tornar real para outros a tal da voz,
perfeita, atroz.

A sublime repetição dos dias
e dos zumbidos humanos.

12 de janeiro de 2017

Murmúrio


Ela olhava pela janela
procurando se encontrar
entre carros velozes e nuvens
entre confusos pensamentos
entre desejos antes adormecidos
entre a competição das luzes dos postes e das estrelas.

Ela olhava pela janela
procurando se perder
de qualquer tentativa
de se encontrar,

não é de hoje que se sabe
que a solidão
é inferno indispensável
para quem na multidão
vazio se sente. 



10 de janeiro de 2017

9 de janeiro de 2017

Esquizofrenia: Sartre, Hegel e Heidegger (1)


Poesia sobre a falta de lógica e sentido na verborragia filosófica das obras de Sartre, Hegel e Heidegger:
 

Dizer, qualquer um diz
qualquer mão suporta
um pedacinho de giz,
qualquer voz cantarola
a tal voz da razão,
mas é nítido que extrapola
que é apenas verborragia
quando não se tem
demonstração.

A verborragia tem diploma
tem carteira assinada,
tem mestrado, doutorado.
Se não fizer sentido, retoma
e continua, disparada
deixando o saber parado.

Dizer, qualquer um diz
jogando palavras belas ao ar,
se sabe que ao menos um infeliz
há de repetir o que o outro falar.
E inventar significados e termos, respaldados
pelo dualismo (filosofia sagrada dos sem argumentos)
coisa fácil, não?!?



 

pouco, bem pouco


 pouco
bem pouco
pra ser sincero
quase nada

me interessa
me apressa
me estressa

quase
metade de nada
me importa:

Da salada, o alface
Do sorriso, o disfarce
Do banquete, pedaço de pão
Do discurso, o curso das palavras
Dos seres, o comportamento
Da matéria inanimada, a pedra do caminho.

Pouco, bem pouco, um risco
e digo mais: só por aquele sorriso
é que me arrisco.



 

7 de janeiro de 2017

O semideus


Não, você não precisa mostrar aos outros
que é um semideus, o mais forte, o mais sábio.
Não é necessário ser o melhor no trabalho,
tampouco o melhor da faculdade, ou da academia.
Sei que o ser humano tem essa tal mania,
ser herói para o alheio; para si mesmo, espantalho.

Mas não. Acredite. Você é seu próprio deus,
e os problemas que enfrenta não são meus,
as soluções aparecem facilmente, na cara.
Se entender, fico feliz. É coisa rara.
De fato, a maioria dos desastres são verbais:
culpe a soberba e o querer ter/ser demais.

Sujeito fica sendo esnobe:
ou diz ser rico, e ser dono de tudo,
ou diz ter orgulho de ser pobre.

Não, você não precisa disso.
Fale quando for apenas necessário
Caso não, caso seja o contrário,
fique ai, plenamente omisso.

Vou encerrando este poema, já estou farto.
Se precisar, me chame, estou lendo no quarto,
e digo mais,

você é seu próprio deus
no entanto
você é seu próprio demônio.  

6 de janeiro de 2017

Reflexão


Poesia é um banho gelado
no calor de quarenta graus.
Um rosto se estranhando
no espelho que sozinho reflete

mais sobre a vida que metade
da população mundial.

Hai-cai até no inferno



O fruto proibido
sempre esteve presente
para ser comido.

2 de janeiro de 2017

Noturno


A noite é uma puta
sem sentimentos, sem profundidade
e todos esses poetas malditos
ficam ai, escrevendo versos, como
se alguém se importasse,

vão todos à merda, ninguém
verdadeiramente ninguém se preocupa,
e nesse exato momento, a Lua
me intimida, com seu feitiço
as estrelas me encaram, e a rua
com suas vozes, que agora são poucas
canta uma canção estranha.

Amo a noite, a madrugada com suas rimas,
sem exigência, ela nos aquece, nos idolatra
nos permite. O que quisermos. E quase ninguém
vai se importar. Estarão dormindo, e tens o ronco do amigo
como sacrifício da moralidade. Tudo é válido, tudo.

Alguns animais transbordam seus verbos
aos ouvidos do olvidado. Escuto a poesia do vento,
o aroma do manto negro enaltece os espíritos, é sagrado.
O pouco do sagrado que me resta, que me vale.