30 de junho de 2016

Seis capítulos em versos



Algo que diz
"eu preciso fugir"
emanava dela,
nunca soube entender os motivos aos quais ao vê-la, meus olhos congelavam.

Tudo que fiz
"a saída é resistir"
e pacientemente, a lua na janela
se erguia, exuberante, sem me explicar nada, dizendo o que eu precisava ouvir.

No fim das contas
a conta é a mesma
e não haveria o "e se". Nada do que foi, diferente teria sido.

Receber elogios ou afrontas
cabe riso ou choro, prisma,
Quem se importa se o livro não foi lido?

Nesses erros que nunca aprendo
lições, apenas moralidade e mais erro.
Não, não me importaria sua grandiosidade. Nem teu verbo.

A vida? A vida vai acontecendo
para minha glória, para meu desterro.
Mas não sorrio demais, e nem o choro exacerbo.
 

22 de junho de 2016

Texto e prosa desvalorizada



Quantas vezes é necessário apagar um texto
e escrevê-lo de novo, inteiramente,
para que assim, eu possa lê-lo e criticá-lo?

Ai se essa besteira de ditar poesias não for só coisa da adolescência...
não quero ser um desses velhos poetas, colecionadores
de vidas não vividas.
Talvez um Pablo Neruda, mas me enoja aquele charuto.
Talvez um Drummond, mas não carrego em mim o sentimento do mundo,
se possível fosse, abandonaria o meu.
Menos ainda um Mário Quintana
com essas poesias de uma vida
que mais parecem todas feitas em uma semana.

Caro leitor, não desprezo nesse lamento os poetas
mas poesia, coisa tola sempre foi, sempre será,
não mais se encanta mulheres com elas, como fazia o Seu Moraes,
não, elas hoje ridicularizam sentimentos, não fazem questão de disfarçar
que não querem mais amar.

E cá estou eu, falando de amor de novo.
E cá estou eu, folheando Borges, folheando Borges, folheando
silêncios vagarosos, pensamentos em espanhol
de uma saudade.

Quantas vezes é necessário apagar um texto
e ele permanece ali, insistente, querendo se escrever
ainda que sem o mínimo do meu desejo.

Poeta é só isso sim, é só instrumento para que as palavras
digam o desimportante, parecendo indispensável.
Mas em poesias, se rima o desinteresse do escritor
com, em geral, o desinteresse dos leitores.

Quando há leitores.

20 de junho de 2016

Secar


O rio que seca, morte.

Transborda outros rios

lágrimas e vazios.

Sob o partir, para uma rosa que se desespera



Nebulosa e esclarecedora, com sua foice
leva aos poucos os herdeiros deste mundo,
sob passos vagarosos, como se fosse
o caminhar mais sereno e mais profundo.

Nos apresenta, sob forma de inexistência
o vazio de ser tão somente um ser humano,
e ao que chamamos de alma, essência,
assim se torna tosco e profano.

Vem, sem pressa ou com ela, vem
e sabe-se lá de que modo ou quando
pronta para saborear o outro alguém.

Vem, e aos vivos deixa o pranto.
Para alguns, salvação, vida eterna.
Para outros, o fim realmente,
não-mais-ser, acalanto.

18 de junho de 2016

Só parece



Palavras, de funcionalidades difundidas,
como o vento, como o pastel,
exigente, transigente, alomorfia
radical, cheia de vogal temática,
ou, desinência nominal (que hoje
para alguns 
quase ninguém sabe dizer qual).

Palavras, olhos atentos
buscando o sentido
mas não da vida,
apenas no dicionário.

Palavras que nada dizem
ou ficam por se dizer.
E se se diz, palavras se esperam,
parece óbvio, mas só parece.


17 de junho de 2016

Behavior and poem


Discussão em caráter poético, pois assim não preciso ser (c)ético:


Leio o dicionário
e percebo
que a linguagem
é o placebo
do comportamento.
Ou, só mais um elemento.

Talvez, quem sabe,
a linguagem
como queria Skinner
dentro do operante
cabe...

Até que tem sentido
não volvermos ao mentalismo
para explicar o que tem sido
só biologia e determinismo.

Ou, nada disso,
vai ver ficou algo
na ciência, omisso.

E se a linguagem
se define pela função
tosca será a poesia.
Se é que ainda não.

Talvez, os comportamentalistas estão certos,
os psicanalistas apenas reinventam a areia
nova, em velhos desertos.

16 de junho de 2016

Vaga-lumes, com hífen.



Dentre os mundos possíveis, os delírios
e a tentação de fugir ao que nos parece comum.
Na busca tosca e inútil por vaga-lumes
nos encobrimos todos de pura gruta, de pura escuridão.
Mas, quem é que ousa dizer que poderia ser diferente?
Não, isso não, o que tem que ser, simplesmente, é.
E o que não tem que ser, seja pela falta de estimulação, seja
pela falta de audácia, ou pela necessidade de escrever os atos não realizados,
não acontece. Tão simples. Conceito pedra, coisa concreta.

Dentre os mundos possíveis, minadas são as crases e quase
possibilidades. Como a mentira que se esquece de acontecer para ser verdade,
a felicidade se esquece de ocorrer para que possa deixar de ser
mera poesia de não poeta.

Dentre os mundos possíveis, o mundo que acontece,
esse mundinho pequeno e gigantesco, dócil e grotesco,
para não dizer, mas já dizendo, pitoresco,
onde passa uma mosca, e tudo, tudo, estremece.

7 de junho de 2016

Drama



Dia do dia qualquer e do dia nenhum,
não quero nada, só quero o nada,
nem vida, nem sonho, nem conto de fada,
muito menos zum-zum-zum,
que dos outros parte para me partir.

Viajar ao sul no deserto
estando absoluto e certo
de não querer norte.

Dia que olho ao redor, orbito, canso,
escrevo elipse, mas não danço,
nada além de desarmonia,
o humano, a mania
de falar e falar e falar e falar...