28 de outubro de 2018

profetas são pessoas de carne



nem quando for
mesmo que fosse
se humano é
deus que não ouse

não há entre nós
renas ou trenós
há a crua
dureza da rua
ou mesmo da lua

a enfeitar
solidões

27 de outubro de 2018

Lê-gado



vou dizer lento
pra não dizerem
que dizer, é talento

deixo aqui o meu legado
trovas digo verso
humanos eu digo gado

risos eu digo pranto

lágrimas digo suor
olho ao meu redor

diabo morreu santo.

Esquizofrenia: Sartre, Hegel e Heidegger (2)



Confundir
condição com causa
mesmo que

tratar igual
o cu e a calça.

Modismos existenciais
tão diferentes entre si
e nos jargões, iguais.

A ignorância filosófica
má-fé, penso. E fica,
repetindo a mesma história.

Papinhos pós-modernistas
um aplauso aos sofistas:
recusam ciência pela pura crença.

Que angústia, não?

25 de outubro de 2018

Macri-cri-cri




Neoliberalismo? vide
o que está na esquina:
o caos na Argentina.

O sermão da montanha



Esse desconforto
que vivo, morto
que reto, torto

E só chove
que Sol, dissolve
que paz, estorve


E toda
que nada,
só moda

Porém
vem todos!
ninguém vem.

É como se
mas, foi como não,
se foi pé
vai ser mão.

24 de outubro de 2018

Sê, osso




ai, se fosse o intuito
viver ao avesso
incenso apagaria
dor.

se osso não fosse
seria um passo
um passo a frente
desse atraso.

ai, quanta lamúria
esse arraso,
dia dor de perna
noite dor de braço.

e, dorme,
aquela dor
que quieta
sê enorme.
 

23 de outubro de 2018

22 de outubro de 2018

O Liquidificador de Merda



Se não bastasse o tal do Bolsonaro. Se não bastasse a hegemonia tucana em SP por tanto tempo. Se não bastasse a idiotia coletiva que nubla a sensibilidade de meu povo. Se não bastasse - no que pelo visto não basta - o tal do Dória. Se não bastasse tudo o que tem ocorrido: os preconceitos, racismos, machismos, e tantos outros ismos. Se não bastasse o discurso anti-PT, tosco e infantil.

Há ainda o liquidificador. Vi-lo misturar tudo nessa semana. Todos os "se não bastasse" num liquidificador. Batido. Misturado em uma legenda que enoja mais que ovo cru em garganta sedenta: BolsoDoria...

O cúmulo.
O cúmulo.
O cúmulo.

A grande liquidação humana: sapatos




Os sapatos dialogam sobre o ser
barro, riscos, sons do pisar, cadarço
a coisa toda cheia de nós
alguns, limpos demais, ignoram
pés descalços dos alheios

confortável? alguns chinelos descansam
nos pés, outros no lombo humano
chamativos, fluorescentes, mortos de tanta
iluminação. Holofotes marcando as pegadas.

Os sapatos dialogam sobre o ser
são a síntese do operário e do burguês.
Os sapatos verbalizam tua condição,
são haikais desgastados, escondem bolhas
dores, ou mesmo, a sonoridade da elite.

18 de outubro de 2018

Parte I de minhas pitangas políticas



        Se o sujeito é incompetente a ponto de não saber ir a um debate ou mesmo debater, que destreza terá para assumir um cargo de presidente? Até Dilma Rousseff sabe discursar melhor que Jair Bolsonaro. Esse último, somente sabe dialogar com os capachos de Edir Macedo e outros pastores que usam e abusam do controle social.

 

         Contudo, a sociedade tem se habituado com a lógica do absurdismo disfarçada de crítica a esquerda. No momento, para os eleitores de Bolsonaro, tudo é comunismo, tudo é ideologia de gênero. Bolsonaro parece ter saído de um episódio de "Choque de Cultura". É uma piada; e, quem ri, não somos nós. São os do topo da pirâmide. A vida, essa circularidade estocada nas pirâmides sociais.


Oremos!

17 de outubro de 2018

A altivez é própria; a inveja, cópia





Vai-te verbo, Satanás,
atormentar outra poesia
Vê se me deixa em paz
a ti, sou péssima companhia

Pobreza: eis meu estado
Nua e crua condição humana
Um único pão por semana
Não se vive de pão passado

Vou-te verso, meu demônio
me esclareça em sonho
o que o sono escurece
e acordado, se esquece

Vem-tu, em pecado,
doce e deformado
no sofrimento aprazível
desse ser, insensível.

Vai-me-em-verbo, Satanás.
Nem de Deus nem de tu
serei capataz.

Numquam suade mihi vana:
sou-me escuridão
sou-me luz, quando assim
(eu) queira.
E, ainda que sem eira nem beira,
serei-me início e fim
certeza e contradição.

13 de outubro de 2018

A história é a mesma



Venezu
ela
tem
petróleo

Ira
que
tem
petróleo


ria
tem
petróleo

Afeganis
tão
tem
petróleo

Rúss
ia
tem
petróleo

Coré
ias
tem
petróleo

Cu
ba
tem
petróleo

Guate
mala
tem
petróleo

e você aí
achando que tudo
é culpa do comunismo.

e você aí
achando que privatizações
trazem algum lucro.

Repara bem
se EUA
ver petróleo ali
vai ali também
invadir
com militar
o shell petróleo
para os outros


Bra
sil
tem
petróleo

12 de outubro de 2018

As bolhas de Bolsonaro (texto de L.C.M.)

*Texto retirado do Blog: Meu Verbal


Bolsonaro é o candidato mais bem adaptado ao que eu creio ser o futuro das campanhas políticas. O candidato do PSL provavelmente sob orientação de Steve Bannon soube se aproveitar com maestria da natureza das interações em rede, que hoje em dia chegam a ocupar uma boa parte de nosso tempo. A questão é que não se trata mais das mesmas regras de quando as mídias tradicionais tinham monopólio da informação sobre os candidatos, a informação hoje circula de modo diferente e para que possamos entender como o candidato tirou proveito disso devemos  antes entender o que as redes sociais trouxeram de novo.
A TV tem por objetivo oferecer um produto que garanta a audiência do telespectador, quando se trata da TV aberta os telespectadores formam um grupo amplo, já nos canais da TV fechada os telespectadores formam grupos reduzidos. Tanto a aberta quanto a fechada modelam aquilo que emitem de acordo com o feedback fornecido pelos seus telespectadores, um programa é cancelado quando tem pouca audiência, notícias polêmicas, que são garantia de audiência, inundam nossos televisores, o único poder que tem o telespectador (se é que tem algum) é o de continuar assistindo ou não. Aqui é importante notar que o cidadão não tem um papel de emissor e/ou criador do conteúdo. Outra característica é que o conteúdo emitido pela TV atinge simultaneamente todos os telespectadores, e desse modo a chance de desagradar algumas pessoas é maior do que no caso das redes sociais (discutiremos mais adiante), sendo consequência disto um certo controle do conteúdo pela média do feedback fornecido pelos telespectadores. A mídia poderia, por exemplo, distorcer algumas notícias, mas não ao ponto de perder audiência, caso haja um descontentamento por parte do telespectador a retroação será sobre o conteúdo emitido.
No caso das redes sociais a questão difere drasticamente. O primeiro passo é entender que as redes sociais não são emissoras, ou seja, elas não tem um produto audiovisual que se modifica em função da audiência, o seu produto é mais sutil, ele é condição tanto para a emissão quanto para a recepção do conteúdo, seus usuários são "emissoras" e "audiência" ao mesmo tempo. Entende-se, então, que as redes sociais na verdade fornecem um meio, seu produto é uma ferramenta que se modifica pela eficácia e eficiência em seu uso, o Facebook, por exemplo, está sempre realizando modificações a fim de ser mais útil ao usuário. O usuário caso se rebele não será quanto ao conteúdo recebido, como nas mídias tradicionais, mas sim quanto ao uso da ferramenta. É a combinação do fato de as redes sociais terem como produtos ferramentas e estas ferramentas serem basicamente de interação que leva ao problema, sendo que ele se constituiu da seguinte forma: a rede social precisa que sua ferramenta seja de uso eficaz por parte do usuário e este será eficaz no uso somente quando tiver sucesso na sua emissão de conteúdo e na recepção de conteúdo, dessa forma as redes sociais acabam modelando seu produto de forma com que você seja sempre eficaz nas suas interações (o que difere da vida fora da rede), mesmo que para isso ela o engane exercendo um controle muito mais sutil. A ferramenta condiciona o homem. Porém que controle é esse, como ela condiciona as pessoas e quais as consequências disso?
O controle tem por base o reforço imediato dependente do emitir e do receber, por exemplo, quando uma pessoa envia  uma mensagem em um grupo de WhatsApp e rapidamente tem como  feedback do grupo mensagens de apoio, concordância, incentivos e etc. a probabilidade de ela enviar no futuro novas mensagens do tipo aumentam. Um importante efeito disso será que o feedback do grupo será sempre no sentido de receber mensagens do mesmo tipo, criando com isso redes de interação chamadas de bolhas ideológicas. Nelas haverá sempre uma baixa variabilidade no repertório de seus integrantes, sendo que qualquer coisa que fuja de uma estimulação positiva será punida por mensagens de discordância ou facilmente excluídas do grupo. O único requerimento para participar do grupo será o de concordar com ele, fazer rir para poder rir.
Atualmente há muitas bolhas ideológicas, sendo que até mesmo algumas ferramentas criam mecanismo para garanti-las, os algoritmos do Facebook garantem a eficácia da emissão selecionando previamente quem verá as postagens e garantam a boa recepção do conteúdo selecionando previamente a quem será emitido.
A grande sacada da campanha de Bolsonaro foi a de ter se aproveitado das características das bolhas ideológicas. Os grupos de WhatsApp, por exemplo, são bem representativos do que seriam as bolhas. Cada grupo pode ter até 256 integrantes, estes podem ser de qualquer lugar do país e ter como apoio qualquer tema, por exemplo, porte de armas, antipetismo, parada hétero entre outros. Sua equipe e apoiadores ao disseminar conteúdo nesses grupos fazem com que fragmentos da imagem do candidado circulem somente pelas bolhas onde seja vantajoso circular, sendo assim Bolsonaro não tem o risco de desagradar seus eleitores mostrando qualquer coisa que desagrade o grupo específico. Talvez seja por isso que o candidato se recuse a participar dos debates, há o risco de apresentar suas facetas de uma só vez. A  bolha terá o funcionamento já citado, seus membros terão baixa variabilidade no repertório e devido a um condicionamento diferencial passarão a se comportar de modo característico ao do grupo, este modo se caracterizará pela falta de debate e a exclusão imediata do que indica a posição oposta. Além do já dito, entende-se também o motivo de Eduardo Bolsonaro ter sido eleito com tantos votos, sua estratégia foi criar bolhas sobre temas específicos reunindo pessoas que antes eram incomunicáveis entre si, conseguindo um aumento de votos de 130% em relação a candidatura de 2014.
Embora não exista tantos dados a respeito do tema, procurei reunir um conjunto de forma um tanto rudimentar, mas que já oferecem alguns indícios.
Hoje o Brasil tem 147 milhões de pessoas aptas a votarem, 117.364.560 (79,67%) foram às urnas no primeiro turnoBolsonaro teve 49.276.990 (46,06%) dos votos válidos. A questão é que 81% dos eleitores de Bolsonaro são usuários de alguma rede e se levarmos em conta seus votos válidos serão cerca de 39.914.361 de seus eleitores. Desses 39 milhões 57% leem notícias pelo WhatsApp, cerca de 22.751.186 de seus eleitores, 61% leem pelo Facebook, cerca de 24.347.760 pessoas. O número de eleitores de Bolsonaro que compartilham notícias pelo Facebook é de 12.373.475 (31%), já pelo WhatsApp é de 15.967.744. Nenhum candidato chega ao mesmo número de pessoas, Haddad tem, por exemplo, apenas 59% de seus eleitores fazendo uso das redes, lembrando que seu número de eleitores é muito menor que o de Bolsonaro. Outra questão também são as fake news, uma pesquisa realizada pela veja mostrou que 67% das que se referiam ao candidato eram positivas, 22% negativas e 11% neutras, sendo que nenhum  dos outros candidatos tiveram o número de positivas maior do que as negativas.
Creio que o mais importante seja notar como que as redes mudaram a qualidade das nossas interações e como os candidatos tanto de esquerda quanto de direita - atualmente mais de direita - estão e continuarão tirando proveito de tudo isso.
 
 
 
*O texto é de um Blog de um amigo, analista do comportamento, contêm coisas de análise do comportamento, política, poesias, textos reflexivos, etc.
Para entrar diretamente na fonte, é só clicar lá em cima, no "Meu Verbal"

10 de outubro de 2018

Versos de classe I



Quanta violência
o brasileiro na aparência
diz não ser racista, diz não ser fascista
mas toda oportunidade que tem, meu bem,
apedreja e exorciza; lá vem, zé povinho,
dizer que político militar é bonzinho,
tá precisando isso aqui de uma revolução
cada operário com uma arma na mão
ao som de Racionais
lutar pelo socialismo e por nossos ideais
sim, tô cansado desse blá-blá-blá de burguês
que fica pregando que pobre aqui não tem vez

longe, perto,
um verso no peito acerto,
a mira do poema
nunca foi problema
o que se enfrenta nesse caos
é o ódio: o dilema.
A raiva ao negro, ao pobre, ao nordestino
parece coisa de cinema
mas vem lá de cima, é real, vem do homem fino
vestido de terno
ao pobre dá esmola
e retira o caderno

tudo, tudo anda assim diferente
os malucos fecham o vidro
finque que andarilho não é gente
minha fé na humanidade se esvaindo 
os problemas do mundo e os merdas sorrindo
na fila do café
pagando seus impostos
bando de mané
o verso, aqui descontrolado
é por ter esses burguês
andando do meu lado
cê não tem noção da raiva que eu sinto
quando rico tem dois pratos na mão
come os dois e deixa o menino faminto

na rua, só quem vai na rua
conhece a realidade
miséria, pobreza dessa sociedade
e você aí na tua
tomando sua cervejinha
tá errado não, mas para pra pensar
você fuma sua erva em paz
se nego faz o mesmo, diz que tem que apanhar
tudo em ti parece tão contraditório
sua vida parece vivida para um auditório
não tem a menor consciência de classe
não deixa a oportunidade passar e quer todo o realce
se liga playboy, mas, é, o que eu espero de ti?
a burguesia é podre, foi na sua cara que eu vi

se liga, acorda pra vida, chega de jornal nacional
não pode ver um playba que já quer pagar pau
o mundo gira gira gira, uma hora tu desce
vê se não esquece
foi eu que te avisei
rico vagabundo, tem a vida de um rei,
mas nem tudo é eterno
quem nega esmola é o homi de terno
não o operário com a cerveja da lata
esse ajuda o outro, mesmo que falta
o pão de cada dia
mas não deixa de fazer o outro sorrir
quer viver em sintonia
com quem
com quem sempre lhe ajudou
posso até subir na vida mas não esqueço do que sou

porque o mal do pobre
que sobe na camada social
é bancar o esnobe
e esquecer seu ideal:

um mundo igualitário
começa com você, otário,
se o outro pede esmola, isso já é humilhação,
vê se dá o dinheiro e não fica de sermão,
tem jovem que parece pastor de igreja evangélica
fica de sei não, fica de migué, e cás ideia cética
suspeitando do sujeito sem nada
não vê no olhar que a pessoa tá cansada
de tanto andar perambulante
só querendo uma sombra
nesse instante.

O papo é prolongado
por isso preste atenção:
se nóis já foi gado
e cresceu, é pra ajudar o povão.

Não pra ficar julgando quem tá no crime
quem cheira, quem bebe ou quem queime o filme,
a vida é só esse mar de circunstâncias
analise o ambiente e  não fique de intolerância,
respeite o bêbado que cai na rua
se não for pra ajudar, fica na tua.

8 de outubro de 2018

Haikai: balança mas não cai



Salva o Brasil, o nordeste
aqui pra baixo
difícil achar um que preste

(Não sou petista
mas tendo em vista
o abismo na nossa frente
voto em qualquer ente,
ditadura nunca mais).

6 de outubro de 2018

Desequilíbrios espelhados no tabuleiro


Escrever
sempre foi
impreciso

não de hoje
essa dor
igual a de siso

o xadrez
jogo de azar, segundo a segurança do shopping,
é conforto
outra vez

café em demasia
forte, diferente
dos versos dessa poesia

barulho mesmo
quem faz é a chuva
ainda
coisa toda turva

 

5 de outubro de 2018

O Sermão de seus pensamentos



lá vem
aquele
que não
quem

lá foi
aquilo
que nem
oi

lá no fundo
esse troço
que só
imundo

lá no raso
esse abraço
erro crasso
dá espaço
para o tempo

lá vem
com sorte
a vida
em semana
cheiro
de morte

1 de outubro de 2018

Obséquio é a puta que pariu (versos afinados e afiados)



De tantas palavras, deixam a poesia escassa
por obséquio é a puta que pariu;
poesia é ocupar casa abandonada e praça
pois, convenhamos, há de se preencher o que anda vazio

Vago, todo nosso preconceito social
família tradicional brasileira é vizinha no quintal
ajudando a criar o filho do homi que sumiu
pelo cercado dos fundos: ninguém viu

bolsa família tá aí: alvo de murmúrios e protestos
migalha jogada aos pobres, resto de outros restos:
enquanto o rico, esnobe, tem auxílio moradia
tem mansão, tem vale-terno e disso ninguém pia

pois sim, índio tem que ter suas terras
tem demais o fazendeiro e senhor feudal
homem branco quer fazer paz com novas guerras
quer recitar metralhadora no sarau

aborto
nem escrevo
já olha torto

aborto, sim, é questão de saúde pública
burguesia aborta onde entende
pobre, todo mundo repreende
cada mulher decide sobre seu corpo
e isso não há quem me tire: é lei única.

Gente que agride mulher, que defende a ditadura
a sanidade já perdeu, vive nas barbas da loucura

De tantas palavras, deixam a poesia escassa:
não adianta deixar sujo o cu e limpar a calça.

Essa poesia, por exemplo
não se inscreve na política:
papinho moralista é lá no templo
onde pastores e padres apoiam o Velho Testamento
(aqui atesto, que esperar desses? Meu lamento)

só a discussão pública é que fica


De tantas palavras, deixam a poesia escassa
é querer sanar dor com mais desgraça.

Espero, um dia, Waldens, sociedades planejadas
onde a luta seja por pessoas amadas, não armadas.