30 de abril de 2019
Meio termo
turbulências em som de gaita
notas totalmente discrepantes
chegam a arrepiar os ouvidos
tons
dos mais angustiantes a adentrar
o que chamam de alma.
no mais, tremenda calmaria
chega a assustar quem foi sempre
de pedras e pedregulhos
escutar com a certeza
que ou olvido ou me deixo ser envolvido - continuam
os horripilantes barulhos da gaita do vizinho
pedras e pedras arremessadas no caminho.
14 de abril de 2019
O pão nosso
quente
como areia de praia no pé
mas com intensidade
diferente
como de religioso a fé
ainda que por ironia
nada mais quente
que o pão da padaria
antes mesmo do sol vir
enlouquecer o pós-domingo
no que chamam de segunda
semana nova
e exatamente nada muda
muda a ova
de quem nasceu
com grana para não precisar escutar o maldito despertado
9 de abril de 2019
Um dia comum
um escândalo, por muito
pouco
farelos
mais desejados que o pão
as entrelinhas são lidas
o livro esquecido e abandonado
a lógica das classes sociais
imposta e ignorada
a naturalização do faminto
a naturalização do esnobe caviar
a foder a goela do país
um anúncio no poste diz
QUER SABER SEU FUTURO?
é a última coisa que quero.
Por qual demônio alguém isso quererá?
(e não sabemos todos?)
8 de abril de 2019
Nota de rodapé
Escritor
é quem sabe o que não escrever
e, se escrito, sabe parar,
arrancando as próprias mãos
e as de outras pessoas,
se necessário.
7 de abril de 2019
Acostumar: por diferença e semelhança a "acomodar"
acostumar-se
ao pouco
ao louco
ao sol e a chuva
que transitam pelo calor da cidade
fica tudo, costume.
Ainda que enaltecidos os ânimos
a flor da idade ávida por mudança
não há que se faça mudar
pois mudar por mudar
também não deixa de ser costume
permanece apenas aquilo
que se habitua e na pele
faz suportar
se acostume com isso
2 de abril de 2019
Oração da manhã
cores tão vibrantes do dia
faça sol essa poesia
deixai-me descansar em pé
na chuva que não vem
deixar-me dormir até
depois do alarme, amém
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