23 de março de 2019

A pele e o vazio: apenas enfeite



Toda essa mesquinharia, um eminente nada profetizado a muitas e muitas décadas,
o efeito da estética sobre o meio da escrita - e não somente - pois que tudo é desprezível se não for como se supôs,
é preciso estar ordenado ao Zeitgeist - vivo sempre do passado,
e deixar-se despreocupado: corpo flutuante em meio ao que ocorre
enquanto ocorre, anular-se por completo, sem desejo, sem sentir-se
é preciso alienar-se,
pensar enaltece a morte; "ser pensante". Uma vida, um papel.
Amanhã muda o vazio. E não muda, também.

As sensações veladas: o pânico contido na pele, como nos consome!
(Eu deveria dizer somente por mim, deveria dizer "como me consome!",
os outros que descrevam seus fantasmas: mas sou a eles, também).
Levantar e o Sol, importa? Alguns olhos fitam sem a menor expressão
e choram, choram, choram. O café sem açúcar é para ter algo mais amargo no paladar? Perguntas retóricas.
Açúcar é alienar-se dos sabores. Sal, também. Temperos, no geral.
A vida é crua, não é frita, não é assada, não é temperada, é crua!

Crua! E é preciso ter um apetite extremo para não enlouquecer com o tempo,
é preciso ter uma dor aguda a ferir o estômago e se acostumar com ela,
ser Odin e abandonar os vieses de Huginn e Muninn - se despir dos corvos diários, a enfeitar os movimentos doentios.

Discutimos e sabemos - e sabemos que não queremos saber - que nada disso importa,
São apenas palavras evasivas a preencher a forma. São apenas formas a preencher palavras evasivas. São apenas problemas inventados para diluir
os medos, os perigos e os sentidos.
Apenas temperos. Expressões que nos mantêm vivos e enlouquecidamente normais.


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