10 de fevereiro de 2018
EntreVersos
Entre versos e entre mundos
gostaria de ter sido eu o autor
de Conformópolis, dos milongas
e de todas as letras de Tom Zé.
Não sou.
Gostaria tanto quanto de ter composto
"a causa e o pó", de Lenine.
Finjam todos a inexistência dessa canção
deixem-me fingir que sou o dono
de tamanho encanto:
"A dureza real de quem é pedra
Que a volúpia do atrito lapida
Esse brilho tenaz que quase cega
É ventura do ventre da ferida
Quem dirá, migalha de sol
Que o brilho é teu apogeu,
Se ofuscado no caldo das estrelas
O brilho se perdeu?
Sou de estrelas a causa e o pó
Sou de estrelas e só
Do ser ao pó, é só
Carbono
Solene, terreno, imenso
Perene, pequeno, humano
Natureza tão sólida de tinta
Que o frágil atrito transporta
Esse risco voraz te faz faminta
E a rasura te move em linha torta
O contraste será troféu
Que teu risco alinhavou
Ou vestida mortalha das estrelas
O risco se apagou?"
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