9 de maio de 2018

Que herdou, que herdou, que herdou, que herdou, e assim por diante



Um colega me disse que comunismo não funciona. Disse ainda que vivo em ideais utópicos.
Um colega me disse que uma Walden II não funcionaria. Disse ainda que vivo em ideais utópicos.
Ele considera que o capitalismo funciona. Disse ainda que passa fome quem quer.
Ele considera que não é necessário uma redistribuição de renda. Diz que professor de escola pública ganha o suficiente. Exigir mais? Isso é babaquice, segundo ele. Quase não trabalham.
Ele considera que trabalhos desnecessários são indispensáveis. Não retira o prato da mesa de um restaurante, afinal, pode gerar desemprego. Não deve dar descarga no banheiro. Afinal, deve gerar desemprego.

Eu que vivo em um mundo utópico.
Eu que vivo em um mundo utópico.

Esse colega nunca pegou um busão. Seu pai herdou a grana do avô, que herdou do bisavô, que herdou.
Esse colega acha graça em vídeo de gente se fodendo.
Esse colega vive pra si. Vive das pequenas coisas, mas não consegue olhar ao redor.

Viver para si.
O pior que se pode fazer em vida.
A poesia fere o homem em alguns casos.
É, inclusive, uma morte constante. Um processo de limitação.
Só se desenvolve quem se envolve, quem ouve, quem.

Eu que vivo em um mundo utópico.
Eu que acredito em jornais?

Eu que vivo em um mundo utópico.


Tem mais.
Tem gente que considera cultura como sinônimo de hábitos da burguesia.
Segundo tais, funk não é cultura.
Cultura é Chico Buarque.
Ninguém consegue pensar que escovar os dentes é que é cultura?
Cultura é vestir uma roupa, não vestir-se bem.

No mundo acadêmico as utopias se distanciam do homem.
Não notam que tudo ao redor não passa de uma utopia, das piores.
O sistema é medíocre.

Eu que vivo em um mundo utópico?

Tem mais.
Mas, me limitarei, no momento.

A estrutura desses versos são poéticas
a funcionalidade deles, bélica.

3 comentários:

  1. Na escola, tem muita professora, mulheres empoderadas, que não lavam o próprio copo em que põem a boca suja de porra; dizem que é para garantir o emprego das faxineiras. você teve aula com algumas dessas.
    Cito Arnaldo Antunes : bactérias, num meio, é cultura.
    A funcionalidade(intencionalidade) de seus versos é bélica; e a eficiência, a eficácia?

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    Respostas
    1. É o que fazem... certamente por causa de uma aprendizagem cultural ineficiente, o que gera discordância entre o falar e o fazer. Não preciso nem comentar o quanto isso é prejudicial, tampouco necessito me aprofundar na temática ao dizer que não se pode/deve julgar toda uma utopia pelos comportamentos de alguns poucos.
      A eficiência dos meus versos é continuar levando o prato para ser lavado e dar uma mera descarga no banheiro, coisa que venho notado: em escola pública os alunos são bem mais ordenados e cuidam mais de seus materiais que em escola particular; a diferença? é que no particular há sempre alguém limpando e lavando, daí não se nota os danos. Há ainda gente limpando até as portas dos banheiros, por exemplo, a todo tempo.

      Enfim, a poesia (que nem poesia é) era só para me livrar do cansaço desses assuntos.

      Quanto ao que comentou, prefiro, sem dúvida, uma pessoa que faça do que fale. Tu, por exemplo, faz muito mais pelo mundo que as referenciadas professoras: lava o que usa, não dá trela para bobeira, anda sem veículo motorizado, tá ótimo. E não que o faça pelo bem social, pois sei que isso lhe é aprazível. Mas só lhe agrada por ter aprendido.

      Abraços!

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    2. Bem verdade o que disse : nas instituições particulares, o dano é melhor camuflado.

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