1 de março de 2017

De promessas que não faço, causas que não abraço - Parte I



Prometeria-te versos
diversos, inversos e perversos
se minh'alma permitisse tamanha ousadia,
se o desejo, existisse, toda noite, até de dia,
arderia, meus pensamentos, movediços
escassos, rasos e tão vulgares, como nuvens
que vês, que ao invés de chuva, sol raiasse.

Prometeria-te o meu amor, eterno fosse
tão grandioso, tão sublime e terno
mas não ouso escrever-te no caderno
tampouco ouço teu soluço, teu gemido
pois dele já tenho olvidado, esquecido.

Prometeria-te. Mas promessas
são feitas e desfeitas, são remessas
de (des) prazeres descumpridos
são amores inacabados, são versos intrometidos,
de nada adiantam.

Prometeria-te luas e luares
mas os astros se viram bem sozinhos,
e estão em todos os lugares
como o Sol, iluminando os caminhos,
bem como tu, quando sorri ao desastre
que é essa poesia, esse verso, essa "arte".

Prometeria-te a santidade e o pecado
mas não sou anjo ou diabo
as vezes nem humano me sinto,
mas te garanto, ser sempre sucinto
naquilo que, as vezes, sinto;
ao que não sinto, pouco direi
mas certamente, ausente, escreverei.

Prometeria-te mil maravilhas
mas sei de minha própria natureza
tão vazia de novidade,
provável que reconheça a milhas
o meu jeito, minha estranheza
no meio dos outros, da cidade.

Prometeria-te rimas e doçuras
mas sei de minha própria natureza
tão entediante, sem aventuras;
e eu, sem dignidade de tua realeza
trovo a trova da tristeza,
do feliz entristecer, não da triste felicidade
cíclica, rítmica, de nossa geração.

Prometeria-te um começo, um meio, um fim,
mas sei de minha própria natureza
e, o pouco que lhe dou certeza
é que meus poemas terminam sem graça, assim.
 

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