4 de julho de 2017

No decorrer de uma noite qualquer



A TV ligada, na casa que passo um dia ou outro,
o medo de ficar no silêncio, a hipocrisia da geração passada,
tudo isso assusta.

E político rouba dali, rouba de cá, me perguntam:
" -Você viu a última que saiu no jornal?"
respondo que não faço ideia a última vez que vi jornal,
julgam-me então de alienado, de pouco ativo,
como se saber d'algo da telinha fosse mudar
meu futuro, meu presente, meu passado,
ou o futuro de qualquer um que na rua transita (vive).

Tomo um vinho.
Tomo um café.
Tomo outro café.
Viciado!

A TV ainda ligada, por volta das duas da madrugada,
os idosos sofrem.
Os idosos não dormem sem suas telas ligadas em alto volume.
Talvez, medo da escuridão dos anos.
Talvez, medo da solidão dos anos.
Talvez, a ausência de companhia no decorrer da semana.

Não se dorme. Vá então ver as estrelas, diz um pensamento.
As estrelas? Numa noite fria, nublada, não há nada para se ver.
Acabo então por escrever um poema qualquer, que acabas de ler.

A TV ligada
não me deixa
escrever nada
decente. Mas isso não é novidade,
faz algumas centenas de semanas que nada vale ser escrito.
E o que vale, esqueço de jogar em tinta.

Talvez a música tenha sugado a rima, a letra.

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