24 de julho de 2018
Resumo poético do filme "La antena"
A cidade sem voz
sou eu e somos nós
nesse mundo pacato
que tudo é feito
que tudo é defeito
em um só ato.
A cidade sem voz
se encanta com sua inexpressividade
e quando pode timbrar suas cordas vocais
somente
grita
grita
grita.
Bem,
ao menos, grita.
17 de julho de 2018
Vi(d)a parada
rodas e alças
arrastam solidões;
os navegantes param
desesperados por café:
demanda alta, oferta
é pouca; preço alto.
Pombos no teto, voam.
Anunciam a chegada
doutra linha de ônibus
na rodoviária dessa
pequenina cidade.
Quilômetros na estrada
para que, enfim,
nessa vida reste nada
9 de julho de 2018
Nadica de título
é com imenso prazer que vos digo:
hoje, não fiz, porra nenhuma!
e fiz tudo isso muito bem.
Acende um cigarro
Parado; acende um cigarro,
inquieto, seu pulmão ganha vida,
queria ver o mar
queria pisar na areia
se sente velho, esgotado,
seus amigos, no bar,
faz duas décadas que parou de beber,
faz duas décadas que se embriaga de café;
saudável? que isso significa?
após os cinquenta, saudável é não estar enterrado.
parado; observa a tristonha felicidade dos vizinhos,
ali, ao lado, escutam samba e fazem churrasco.
ele reconhece a canção, é Cartola tocando.
Seus pés balançam, quase de forma imperceptível.
O sino da igreja toca. Por um minuto, voltou ao passado
aos enaltecidos momentos de prosa, samba e sorriso.
Seis horas da tarde, da noite. Se despe, se banha,
se estranha com o espelho.
Acende um cigarro.
Toma um café, nas pausas de cada verso o fez.
Se alimenta e cuida da casa.
Amistosamente, retoma sua leitura, do dia anterior.
Ali encontra sossego; entre uma à três da madrugada
não há nada que lhe desvie o olhar. Após,
acende um cigarro.
Descansa até meio-dia.
Acende outro cigarro.
e assim, segue.
Uma sensação tão particular que não se sabe definir.
Só os velhos sentem. Por isso não se nomeia.
Tem coisas na vida que é melhor não denominar.
Acende um cigarro.
Seu pulmão vai bem.
Mas, claro, do cigarro que acende, fuma somente um oitavo.
O resto, o vento leva; é só fumaça.
Carbono,
como nós.
8 de julho de 2018
Para além do que o olho pode ver
Está sempre ali; onde menos se espera.
Não importa o quanto se dedique, ali está.
Nos cantinhos desse universo quadrado,
nas dobras do tempo e do espaço.
Ali está. Não tenha a menor dúvida.
Ali sempre estará. Sempre, viu.
Vão até te julgar por isso, todavia
saiba, tranquilamente, que não tens culpa.
É inerente; intrínseco ao caminho.
Quem conseguir provar o contrário; mente.
Fato é que, por mais que se esforce,
aquele rastro de cabelo, de pelo, de poeira, sujeira,
farelos, enfim, estará no canto de sua casa, de seu apartamento
após a limpeza e o cansaço.
Disso é feito a vida.
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