29 de setembro de 2018

Estudantes bolsistas do Brasil, (Pro)uni-vos, vós não tendes nada a perder a não ser vossas bolsas de estudo



documentos empilhados
carteira de trabalho
holerite
(parece até crime isso daqui)
imposto de renda
imposto de ausência de renda
declaração de moradia
documentos assinados no cartório
cópia de tudo, até da cópia
(além de não ter grana
tem que atestar semestralmente.
Aos olhares de julgamento
deixe notas de lamento.
Aos murmúrios, brade:
burguesia pobre de valores
burguesia tola e covarde.

tem quem queira tirar décimo terceiro
tem quem defenda o discursinho de democracia
glória, glória, glória
tem que privatizar a ração escolar
tem que privatizar a água da Sabesp e o ar
ou, estoca-lo.
Aqui não. Ele não.
Babar ovo em juizinho de primeiro grau?
auxílio-moradia pra quem tem casa?
se arme com argumentos e livros
não com objetos de doutrinação e fetiche social.
Arma, nem a pau.

Os playba que pagam sete mil por mês de faculdade
gritam e protestam "queremos o fim das cotas".
Épocas atuais de ignorâncias remotas.

Tem horas que penso, prato também voa, se eu quiser,
mas, me controle,
esperar o que de uma burguesia direitista?
ôôô, que porra! diria Tom Zé.

A tucanada do interior de SP
vota em qualquer fascista que vê.
Por preconceito e imoralismo
vive abraçada ao cinismo.
...

fone de ouvido
um amigo apresentou
canção do Racionais
"Carlos, Carlos Marighella"
que letra, que letra.

Deixo-vos, operários,
os versos desse homem.
De poesia, "urubu".


Pairando pelo espaço onde quer que pressinta
carniça, podridão, matéria decomposta
essa ave original de cor preta retinta
o cheiro da imundice alegremente arrosta.

Vem descendo depois. Já não é uma pinta
escura na amplidão do firmamento exposta.
Vem descendo inda mais, cada vez mais distinta,
até que no terreno o corpo feio encosta.

Desde então principia a ceia horripilante
e belisca a esterqueira e grunhe a cada instante,
sacudindo-se toda, inquieta e assustadiça

Assim como o urubu há no alto muita gente
poderosa a fartar que, entanto, moralmente
só consegue viver à custa de carniça

21 de setembro de 2018

Momentos do dia - entre rúcula, mates e casa das máquinas



A poesia morreu?
Ou - segredo fácil -
quem morre sou eu?

Os versos na avenida
depressa descritos
são velozes e bonitos?

Ou - se espante -
a poesia é perna
de plebeu e infante?

Rei protegido no tabuleiro
cavalo avançando e em defesa
qual será a próxima presa?

Antes do Xeque-mate
algumas jogadas e o olhar
de que virá obra de arte.

A poesia morreu?
Não.
Tem rúcula na geladeira
e carne no congelador.
Tem Casa das Máquinas
na caixinha de som.

Pisca, pisca, pisca.
Certo sim, Seu Errado.

O demônio é o anjo ao lado?

20 de setembro de 2018

De que Messias estamos falando?

 
 
Escuto dizer com frequência: o voto é secreto. Porém, é de saber comum que as consequências do comportamento de votar, essas, não são secretas. Inclusive, são de fácil previsibilidade, a depender das políticas públicas do candidato em questão.

Uma excelente forma de conhecer as propostas de seu candidato/ de sua candidata é ler o projeto de governo dele/dela.

Claramente, os preceitos morais estão em jogo nessas eleições: Bolsonaro tem sido apoiado por Evangélicos e Católicos, em sua maioria. Homens, brancos e com formação acadêmica também são grupos que estão a eleger o sujeito em questão.

Faço um apelo a coerência de pessoas que estão nesse grupo religioso, a saber. Por favor, analisem as propostas. Não é meu intuito questionar seu voto. Meu intuito é questionar valores. É questionar os interesses e ideais. É questionar as consequências do nosso comportamento. É possibilitar um momento de reflexão, mais do que de discussão.

Costumeiramente, em seus discursos, e de seu vice, palavras de ódio são proferidas contra grupos sociais. Não só minorias. Ele já declarou seu ódio para com as mulheres. Por diversas vezes, inclusive.

Bolsonaro é a favor do porte de armas para a população. Me dirigindo aos amigos evangélicos e católicos que acessam o Blog: Jesus, enquanto pessoa, defendia a paz e o respeito, não o ódio, o armamento, a ignorância. Não apedrejar os que pecam, pelo contrário, ajuda-los para viverem uma vida de paz, amor e sabedoria. Jesus oferecia a outra face, multiplicava os peixes, atendia os interesses dos pobres. Bolsonaro apoiou as reformas do Temer, prega a segregação, atende os interesses dos bancos e ricos. É esse o modelo a ser defendido?

Bolsonaro defende privatizações, em excesso. Defende a política do "quem tem mais, paga menos; quem tem menos, paga mais". É justo tirarmos dos mais pobres? É justo doarmos o que é público para os interesses dos magnatas do poder? Se uma estatal não está funcionando direito, há de investir e corrigir os problemas, não simplesmente vender os bens públicos. Essa ideia de "reduzir custos", na verdade, é de extrema ignorância. Ficaremos reféns dos interesses exploratórios do mercado, dos banqueiros, dos que não dão a cara a tapa. O serviço público não tem funcionado direito porque o investimento tem sido baixo. O SUS não é um problema, é uma solução. Se privatizarmos tudo, acreditam mesmo que as empresas privadas vão se preocupar com quem mais precisa, com o povo, conosco? Bolsonaro é a versão Temer Popular.

Bolsonaro, além de tudo, desconhece o valor do contato social, que as igrejas conhecem bem, pois trabalham a cooperatividade e a ajuda mútua. Recentemente, o candidato em questão, defendeu que as crianças sejam educadas em casa, argumentando que na escola pouco aprendem. A ignorância tem seus custos. A escola não é somente um lugar de aprendizagem de matemática e português, é lugar de convívio e partilha. Lugar de civilidade e convivência. Jesus, novamente faço esse apelo, ensinava na Sinagoga, atraia multidões para partilhar com eles palavras de amor, conforto e gratidão. Não por menos, foi crucificado por isso. Os docentes, por muito tempo, estão sendo crucificados por isso. Um verdadeiro professor, Jesus sabia o valor social que o conhecimento trazia.

Eu poderia enumerar outras quinhentas mil coisas. Como por exemplo o fato da equipe de Bolsonaro ter espalhado, por diversas vezes, notícias falsas para prejudicar outros candidatos. Jesus, ao contrário, repudiava a mentira e, além de tudo, ensinava o que hoje se chama de caminho da verdade e da vida.

Não caiam em propaganda de marqueteiro de político. Os valores morais que Bolsonaro diz defender, são incoerentes com todas as suas práticas. Não sou religioso, mas tenho fé de que a humanidade não se deixará ser guiada por práticas subversivas. Muitos tem me dito que vão votar nesse cidadão por ele ser anti-PT. Não é necessário votar em alguém só por ser contrário a algo. Existem outros candidatos, outras propostas que certamente podem e devem ser estudadas por cada um de nós.

Não sou contra quem vota no Bolsonaro, penso que é preciso entender os porquês de tal prática tão prejudicial a nossa nação. Apenas repito, principalmente aos de religião evangélica e católica que estão a ler: pense em seus valores, pense nas consequências desastrosas que podem ocorrer. Espero que a religião seja uma forma de trazer paz, amor e solidariedade ao mundo. Não um mecanismo de exploração e alienação. Não é com preconceitos e ódio, tão disseminados na campanha desse sujeito que mudaremos algo. Jesus, Bashô, Cruz e Souza, entre outros, como Leminski nos revela, eram profetas de boas palavras, de boas práticas culturais, de amor e cooperação; não de preconceito e ódio.

Por fim, deixo um verso do Paulo Leminski, para que seja claro o óbvio que vos comunico:

"Eu, hoje, acordei mais cedo
e, azul, tive uma ideia clara.
Só existe um segredo.
Tudo está na cara".

13 de setembro de 2018

No mercado do mundo, tudo é imposto!



Não tenho meu rosto
para dar de cara ao mundo
contudo, com tudo
ocorrendo a mil, me é imposto
viver decente

o mundo, em sua decadência,
exige formalidades
inúteis e pouco aprazíveis

olhando demais as estruturas do poema
se esquece da função:
fazer rir e chorar o coração.

feliz quem vive
na ilusão
de viver livre

9 de setembro de 2018

Castigo e castigo


Do pão e do circo
entende o pobre
compreende o rico

o primeiro, se alimenta
o segundo, moda inventa
o pão se requenta
de tempos em tempos

a mão do livre mercado
bagunça e esfaqueia:
há quem acredite no teatro,
há quem não saiba distingui-lo
confunde rio Tietê com o rio Nilo.
(Bolsa de valores sobe:
rico não produz; especula).

No nome, Messias.
Ironia? Prega aos ouvidos e olvidados
suas pragas e profecias.
Novo merchandising:
ultranacionalismo de direita populista.

No fundo, na lama, 
é um Temer versão popular.
E o pobre vota, toma bota,
depois chora pitangas e impostos.

Tá ok?




Texto escrito após leitura de:

8 de setembro de 2018

Em galhos frágeis com pernas ágeis



Vida, amarga
projeto de vinho barato:

quando, então, fosse
bela e formosa
sem ranço na doçura
como jabuticaba
doçura que não acaba?

Vida, amarga
na cerveja de meus pensamentos
limão e água
além do sal em feridas e lamentos.

quando então,
agradará meu paladar?
se no calor, joga-me ao fogo
se no frio, me faz nadar.

quando então,
em um momento cantante
não me irritarás
no meu feliz instante?

quanto então,
deitado no meu reinado
poderei me alegrar
sem me preocupar
com o inimigo ao lado?

vida, sejais jabuticaba,
galhos flexíveis
doçura que não acaba.

7 de setembro de 2018

Água e sal



Tudo escrito
tenso, lido,
vomitado
em versos
dóceis.

Tudo rito
denso, temido,
pouco experimental
essa vida
que muitos levam
que eu levo
como bolacha
não doce, não amarga
não ruim, não desprezível

mas, assim,
bolacha de água e sal.

Algum problema nisso?
Não é que eu viva omisso
apenas que

deixe pra lá.

1 de setembro de 2018

Tronco de árvore



Natural que não se sinta
obrigada a sorridente ser
que lamente e repita
que não vale a pena reviver,

um barco que se fura
deixa em pânico a embarcação
águas turbulentas, uma loucura,
a atravessar-te o coração,

em tudo que há, um pouco dela?
a porta aberta te parece uma cela?
voa, voa? quer ficar, quer ficar.

A noite a dominar suas dores
o dia a alimentar o que não se espera.
Perda. A distância dos atores.
Vai-se, esvai-se, tudo o que antes era.

Que passe, natural; a vida tem dessa,
levar o que faz bem com toda pressa.

Minha amiga,
escrevo pela dificuldade
em saber descrever algo que ajude
e que traga serenidade,

meus versos
que fiquem imersos
em ti, em nós, pessoas de carne, osso e sentimento:
escrevo com sinceridade.

Dúvida existencial nº 03



vai, tudo aquilo
ficar denso
quando tranquilo?