Olhava o Sol, e pensava no que faria,
uma \ilha/ presa no concreto e no cimento,
lamento em dó maior, tempo de sobra,
sobra é o que era, o que sentia ser;
oh, cidadão. Me dê uma moeda
me dê de comer, me dê seu olhar
sua mão distante, parece viva,
dez centavos não lhe fará falta irmão.
E costuma chover, costuma ter ratos,
rosas não vi, ele me disse, rosas não vi.
Olhava a noite, até a lua sabe se esconder,
a noite é dos ratos, ele me disse, ratos de farda,
roedores, que pelas beiradas comem a paz.
"Eu só estava deitado no banco, Senhor".
E cidadão tem esse direito, ele me disse, tem?
Eu calei. Calei. Não ia falar. Não ia não.
Eu falaria o quê? Dei meu silêncio.
Olhava o Sol, e não parecia importar a hora
o dia o ano a vírgula o ponto era sempre de interrogação
semáforo é indústria dos não alienados.
Trabalhador é só mais um nome bobo, desses
que se inventa para separar pessoas e justificar
o que costumava silenciar. Não há verso que resolva.
Poesia é acordar no colchão.
Poesia é - as vezes - ter uma lata de cerveja e o que comer.
Mas poesia não alimenta, senhor.
Não mesmo.
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