3 de março de 2020

A antítese de Deus


Foi durante muito tempo anunciado que o Diabo existe. Em todas as gerações e todos os povos, a figura do capeta rondou os séculos e os pensamentos dos mais canibalescos e mesmo dos mais bobos metidos a santidade. Diabo ali, Diabo aqui. A culpa sempre do Diabo. Igrejas, mansões, templos e oligarquias foram construídas sob a palavra referida. A pedra fundadora do Catolicismo nunca foi Pedro, nunca foi Paulo, nunca foi Madalena. A origem do Catolicismo se dá, em última instância, no mito do Diabo. É o capiroto a imagem anunciadora da salvação. Em termos de mitologia, claro. Pois que, venho anunciar, após séculos e séculos de falseamentos que, o Diabo, meus caros, o Diabo não existe! Apenas o judaísmo chegou tão perto de tal afirmação.

Alguns, devo admitir, já chegaram nessa mesma formulação. Mas, para eles, outra função escorria nos versos. Não diziam "o Diabo não existe" para que assim firmassem a inexistência per si. Não. Havia sempre um algo mais. Talvez, como os satanistas, o interesse seria em agregar pessoas para essa tendência banal de achar que cada um é seu próprio deus. Para os judeus, a obviedade, maior concentração econômica e alívio da culpa quanto aos pecados capitais. E assim seguimos.

O Diabo não existe; não por ser apenas um mito, uma alegoria, ou seja lá como queira chamar. Não também pelo motivo de que os pastores inventaram-no para amedrontar os fieis ou infiéis de seus rebanhos. Menos ainda, como querem os historiadores, por razões de ordem política. Não.

"O Diabo não existe porque Deus não criaria a antítese dele. Para quê? Para encher o saco?". E se vocês acham que a explicação é pouca, ou mesmo incoerente, devo alertar, como o autor da frase disse que, "todos nós somos incoerentes, a vida é uma incoerência".


Post Scriptum: o texto surgiu depois de assistir ao programa Provocações, na época do Abujamra (óbvio), ao qual muito aprecio. O entrevistado que deu essas respostas, nada mais nada menos que, Clodovil. As frases são dele. Feitas durante a entrevista. Um gênio. Encarar suavemente o Abujamra e ainda conseguir respondê-lo com ironia. Para poucos. Se divertir com as perguntas dele, para ainda menos mortais.

Caso queira assistir a entrevista, clique na palavra PROVOCAÇÃO!

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4 comentários:

  1. Sem dúvida, um gênio, o Clodovil. Nunca perdia a oportunidade de ouvi-lo falar, eram certas as finas ironias e as alfinetadas. Esta entrevista com o Abujamra,eu ainda não vi, assistirei agora mesmo.
    E falando no Abujamra, lembra dos finais do programa, em que ele sempre lia algum poema? Já viu esse ? : https://www.youtube.com/watch?v=8LpPNjdJh58
    Se ainda não viu, atente para o nome do autor, que aparece rapidamente logo ao início da leitura, no canto esquerdo inferior da tela.

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  2. em tempo : Abu deixou de ler um trecho e, sei lá por quê, modificou o final. Para o texto na integra :
    http://amarretadoazarao.blogspot.com/2012/05/antonio-abujamra-le-um-poema-do-azarao.html
    https://amarretadoazarao.blogspot.com/2015/04/o-ultimo-dos-provocadores.html

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    1. Quanto ao Abujamra ter lido um poema seu, não me causa espanto. Aliás, que poema! Como cuido de gato também, e assim prefiro, ainda não compreendi a remoção do desfecho de sua escrita. Mas, considerando a personalidade dele, não duvido que tenha sido para incomodar o autor da escrita. Não mesmo!

      Ainda hei de ver um livro seu ser publicado; mesmo que você só fique sabendo após se deparar com ele nas prateleiras.

      Quanto ao Clodovil, certamente um espetáculo de arguição e ironia.


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    2. Na verdade, só fiquei sabendo da leitura do Abujamra muitos anos depois dela ter ido ao ar. E nem fui eu quem descobri, foi minha esposa, que, por alguma razão, estava a escarafunchar meu nome pela internet. Ela viu e me falou. Não fui eu quem enviou o poema ao programa e nem ele poderia ter entrado em contato com ele através do Marreta, afinal, eu nunca havia publicado o Criador de Gatos no blog. Mais tempo depois, descobri que foi uma amiga minha que digitou o poema e o enviou para o site da TV Cultura. Ela me garante que enviou o poema na íntegra, sem nenhuma alteração, logo a modificação foi mesmo feita pós-envio.
      Curiosamente, o Marreta nasceu graças a esta mesma amiga, a partir de uma provocação que ela me fez. Ela é a autora do infelizmente quase abandonado blog Cafe com Chocolate, que, para minha surpresa, vi que está na sua lista dos blogs que lê.

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