Seu
Carlos era fanático por futebol. Sempre foi. Sua família tinha no sangue e na alma
o encanto por aquele esporte. Sua esposa, ao que me relatou uma vez o próprio Carlos,
amava assistir aos jogos, principalmente da seleção – também adorava pegar
cerveja para ele durante os dois tempos da partida. Toda terça e quarta-feira,
além do sábado e domingo, assistiam aos embates do interior e dos times das
capitais. Junto com eles sempre estivera compartilhando da alegria do momento o
pequenino Douglas que jamais tirava o olho da tela (do celular) durante os
noventa minutos daquele gramado verde que aparecia na TV.
Foi
com grande luto que Seu Carlos ficou sabendo da paralisação dos campeonatos
estaduais, justo o torneio que ensinou para ele o nome de todos os Estados do
país. Ainda mais arrasado e amargurado o nosso cidadão de bem ficou quando
descobriu em uma segunda-feira a tarde que os jogos da Bundesliga e da Premier
Ligue também sofreriam interrupções, assim como todos os campeonatos europeus,
até mesmo das segundas e terceiras divisões. Naquele momento, Carlos não pudera fazer
outra coisa que não fosse chorar e encher a cara, sempre com o auxílio e
presença de sua amável mulher – nas palavras do próprio – pois foi com os jogos
europeus que ele aprendeu os nomes dos países da união europeia e também uma série
de palavras em inglês, espanhol, italiano e francês.
O
futebol fez de Carlos um verdadeiro patriota. O conhecimento impressionante que
demonstrava em suas opiniões políticas e das causas sociais sempre fez com
que ele fosse reconhecido e aplaudido pelos seus semelhantes. Compreendia o que
se passava no ministério da defesa, pois podia prever com exatidão os ataques
que seriam feitos. Sabia o que ocorria naquele meio-campo, ou melhor, no
centrão do jogo, onde a pelota fica em batalha, de lá pra cá. E, principalmente
e indiscutivelmente, tinha absoluto cálculo do que era um impedimento legal ou
não, então podia antecipar a validade dos lances com precisão surreal.
Não
revelarei aqui o nome do time do coração de Seu Carlos, mas, ele odiava o
Botafogo, equipe que seu melhor amigo, o Rodrigo, idolatrava. O que Seu Carlos
talvez ignorava era o fato de seu amado clube só comprar jogador, curiosamente,
do Botafogo, mas isso é outra história. Ou seria estória? Isso, tão cedo não
saberemos. Seu Carlos só faz um pedido: o Brasil não pode parar.
Ainda bem que
ele é o Seu Carlos. Não o meu.
(A "Crônica da Semana" é uma nova série de deboches e desgostos que será produzida uma vez por semana (?) e trará assuntos delicados com tons mais brandos e leves. Caso queira, deixe sugestão de temática nos comentários).
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