29 de abril de 2016

Reescrevendo Leminski de forma cruel



"Não discuto
com o destino.
O que pintar
eu assassino"



(Apenas uma brincadeira com as palavras,
não uma tentativa de estragar tão bela poesia). 

28 de abril de 2016

O Criador

O poeta criativo
(não cria)
remodela o livro.
Corre da moda
pois quer ser moda
(ainda que negue)

O poeta joga
palavras de guerra
em fundamentos de Yoga.
Finge que erra
mas quem erra, revoga.

O poeta é demônio
o nome do autor
coisa da coisa, pseudônimo.

Vamos obrar, a obra ruminada
mastigada, escrita para ser leiloada.

Poeta criativo
só publicitário
ou poeta
sem ser poeta
que não dá palavra
ao imaginário.

Dar forma
é limitar
impor norma
logo, imitar.

Dar forma
é para quem
não se conforma
de só ser
esse ninguém.

A poesia
coisa que nasceu
para morrer
perfeita em si.

27 de abril de 2016

A parte básica

Desisto! Desisto de tudo,
agora só luto pelo Nada,
ou pela rima cansada
que vem do fim do mundo.

Cansei! Quero somente o óbvio
nenhuma verdade escondida
nenhuma privada entupida
quero só o exuberante cheio vazio.

Basta! De agora em diante
ando somente com essa dor
essa dor poeta, dor elegante.
Enjoei de cantar o amor.

Sim! Me deixem com a (p) arte básica:
Resolvam os problemas do mundo
que eu agonizarei sozinho, a vida nostálgica
essa vida que dá saudade, essa que deixo de viver.

26 de abril de 2016

Farto e fartura

Farto de olhar tua boca
e não beijá-la
Farto de sentir teu aroma
e não arrancar tua roupa.
Despi-la, penetrar-te
os sentidos
purificando assim minha poesia e tua realeza.

Farto de ser atencioso e prestativo
como se eu fosse o pai do mundo.
Farto das rosas mortas que apenas me deixam
espinhos.
Quero o querer, o teu querer calado, teu espírito.
Tua carne humanamente sacra, ai, ai sim.

Quero que o onírico, pleno deus dos homens
repleto de sexualidade e loucuras
tome forma. Sob tua forma.

Quero mesmo. Tu. Quero mesmo que leias essa maldita poesia,
sufoco do ato que se esconde nas líricas palavras vazias.
Pois farto estou dos meus romances, escritos, que morrem
quando tentam ser.

Quero a ti. E a tantas outras, quero também.
Sou um homem qualquer como outro homem, qualquer,
e não vou salvar o mundo dos seus pecados.
Mas vou salvar o pecado do mundo e guardá-lo em mim,
fazendo dele, santidade humana, pois nós, meros mortais
é que somos deuses e deusas. Deusas, ninfas.

Farto.

17 de abril de 2016

Quanta mudança...

Nada muda.
Só a cidadania
queda muda.

Não creio
na mudança política,

Câmara
de retórica rica.

Um lado, militantes
mortadela e corrupção.

Outro lado, alarmantes
em corrupta ação.

Nada muda.
Não se iluda.

Não ponho a mão
no fogo, por canalha,
no fundo
tucano
também é petralha.

Nada muda.
Mas a corrupção,
se espalha, espalha...

Amanhã, trabalhamos normalmente
com aquele salário indecente.

(E enquanto esse tal processo existiu,
aprovaram leis, aprovaram projetos
que prejudicarão diversos versos,
e, quase ninguém, viu).



12 de abril de 2016

Meu monumento

Quero criar
um verso monumento
graça dar
na irrelevância do cimento.

Um verso monumento
que chegue ao céu
e torne a torre Eiffel
mínimo elemento.

Um verso monumento
para ser adorado
em qualquer
canto ou momento.
Verso, verso monumento:
(só me falta)



Talento.

10 de abril de 2016

O tal do silêncio

Silenciamos.
Nada foi feito.
Só pensamos.
Frases de efeito.
Eu e ela, sempre.

Silenciamos.
A dúvida constante.
Que eu me lembre,
nunca existiu
aquele arrepio.
Ficava, eternamente,
no meio fio,
querendo ser, não sendo.

Meu coração doendo
estúpido
cupido!
O que, não sendo,
teria sido?

Silenciamos.
A razão...
O motivo...

Para dizer
não sirvo.

Quedamos assim
(porque não dissemos)
eu sem você
você sem mim.

Melhor? Pior?
Enfim!

6 de abril de 2016

(Quase) Filosofia da arte do Desejo

Não muito, estava conversando com um amigo, um grande amigo, companheiro de inúmeras tentativas de filosofia. Falávamos - como aqueles gafanhotos da Antiga Grécia - sobre questões abstratas, como quase sempre, mas, de plena utilidade prática: a questão do desejo.
Creio que, nas nossas conversas, o desejo teria como definição - menos científica, mais sentida - a falsa, inventada ideia de necessitarmos de algo ou alguém, no qual projetamos ou idealizamos noções e sensações que nos proporcionaria o prazer.
Dentro dessa temática, a palavra Prazer tem papel fundamental. Seria a mola propulsora de qualquer abstração ou prática do desejo. A pedra cantada, que nos motivaria a concretizar o desejo disso ou daquilo. O Prazer, por essência, ao menos no que compete ao campo da Psicologia, tem a condição de ideia que fora concretizada na sua jornada, dando a sensação, ao sujeito executor, de Felicidade, ainda que (sempre) momentânea. O prazer não pode, tampouco deve, ser banal. Sendo banal, se torna autodestrutivo, pois não reserva a sua conditio sine qua non, de ser exclusivo, pessoal e incomparável. Sendo banal, perde o substrato de prazer. Não há prazer no vício, ainda que o sujeito sinta que tenha, há apenas a causa última, a insaciedade destrutiva.
Pensando por esse caminho, a discussão de seguiu, brevemente, atravessando alguns conceitos, até chegar ao questionamento que me rodeia até então. Seria o desejo, na sua condição primária, uma idealização incontrolável? Em outras palavras, não temos a liberdade de escolher ou não desejar? Não temos ainda a possibilidade de impedir que o desejo se direcione ao objeto x e não ao objeto y? Ou, no âmbito da natureza humana, o homem constrói inconscientemente (talvez até no inconsciente coletivo) seu querer, e, na (falsa) necessidade de tomá-lo na prática acaba por "concretizá-lo" no pensamento, chegando assim à condição de desejo, por assim dizer?
Paramos a conversa, após algumas possíveis respostas, sabendo que nenhuma delas satisfazia nosso desejo de saber, verdadeiramente, a arte do desejo. E, a filosofia, por questões narcisistas (que questões não são de cunho narcísico?) não nos traria a verdade, nos traria a nossa verdade, a verdade que não é falsa, mas que se limita apenas na possibilidade de ser, talvez, uma verdade pré-concebida. Se limitássemos tais questionamentos no espaço-tempo compartilhado naquele breve instante, estaríamos nos enganando. E, por outra razão nos detemos.

Ambos, em uma sincronia do pensar, nos questionávamos sobre outra dúvida a respeito do Desejo. Por que, após o desejo ter sido compreendido e direcionado (isto é, se fora compreendido, já estava direcionado), e, partido para além do mundo das ideias, se materializado e tomado forma, e, considerando que houvera a conquista real desse desejo, por quê não há a satisfação, o Prazer, que levaria a sensação de felicidade e de saciedade? Por quê, antes mesmo da concretização do desejo no ato, se constrói, de forma banal, outro movimento de desejo, impedindo que se prorrogue e leve até ao êxtase o sujeito principiante da ideia? Não há espaço para a satisfação, e, por desfecho, para o ócio? Por fim, estaremos todos cegos, marionetes da fábrica de desejos, muitas vezes, quase sempre, produzida no ser (e introjetada por opção ou por falta de ideais), e não, em essência, concebida?

Como sou mais do universo da (quase) poesia e um tanto menos da (quase) filosofia, deixo também o gênero que sei escrever menos pior:


Angústia, o verbo surge,
quer ter forma, quer a vida,
quer me sugar, quer, apenas quer.
Tolo que sou, dou a alma
para ver o que meus olhos
não conhecem, ou fingem não conhecer.

Quanto desejo vem à tona
meus sentidos se prendem
me deleito no sabor, no aroma,
mas não conheço a essência,
sei que no centro incansável
de cada ideia, decadência.

As dores que os amores trouxeram
e o complexo insistente
me empurram para novos amores.
Sou filho da filosofia de mercado
não vejo os preços, apenas quero,
o demônio é quem faz a composição
eu dedilho os acordes finais.

Angústia. A definição do homem.
Angústia. A única finitude dos meios,
eternos meios virtuosamente viciosos.
Corra, corra, o quanto puder,
apenas para se manter no mesmo local.
Corra, corra, ainda mais veloz
que a saltitante linha de chegada.
Corra, corra, antes que a morte venha
enquanto tu, apenas com a lenha
tenta recriar o fogo.
Corra, corra, fuja para a multidão
abrace aquele que apenas deseja
que não busca razões existenciais,
apenas diz que prefere ser feliz
do que ter conhecimento, do que ter
razão.

Angústia. Até a glória nos leva
dormentes, enquanto pensamos gozar da vida.
Angústia. O desejo é que dá forma ao homem
ou o homem, por assim ser, dá forma ao desejo?
E queremos. E queremos até mesmo não querer,
queremos esquecer.

Esquecer. Olvidar.

Feliz de quem, sem tentar, consegue.
Angústia ao que quer esquecer, e, ao tentar,
por ordem suplantada na própria natureza,
no gênio infernal, não consegue.


2 de abril de 2016

Metade escrito

Metade do que escrevo
não passa de lixo,
a outra metade, nem isso.

Escrita de bicho-grilo
que entra na piscina
e diz estar no rio Nilo.

Vivo naquilo que escrevo:
menos na poesia romântica
isso, ultimamente, não me atrevo,
acaba sendo mais entediante
que a tal física quântica.

Metade do que escrevo. Basura.
A outra metade, apenas rasura,
coisa que não passa de sobra,
mas me engano e digo:
"que bela, bela obra".

E se criticarem, tampouco ligo.