6 de abril de 2016

(Quase) Filosofia da arte do Desejo

Não muito, estava conversando com um amigo, um grande amigo, companheiro de inúmeras tentativas de filosofia. Falávamos - como aqueles gafanhotos da Antiga Grécia - sobre questões abstratas, como quase sempre, mas, de plena utilidade prática: a questão do desejo.
Creio que, nas nossas conversas, o desejo teria como definição - menos científica, mais sentida - a falsa, inventada ideia de necessitarmos de algo ou alguém, no qual projetamos ou idealizamos noções e sensações que nos proporcionaria o prazer.
Dentro dessa temática, a palavra Prazer tem papel fundamental. Seria a mola propulsora de qualquer abstração ou prática do desejo. A pedra cantada, que nos motivaria a concretizar o desejo disso ou daquilo. O Prazer, por essência, ao menos no que compete ao campo da Psicologia, tem a condição de ideia que fora concretizada na sua jornada, dando a sensação, ao sujeito executor, de Felicidade, ainda que (sempre) momentânea. O prazer não pode, tampouco deve, ser banal. Sendo banal, se torna autodestrutivo, pois não reserva a sua conditio sine qua non, de ser exclusivo, pessoal e incomparável. Sendo banal, perde o substrato de prazer. Não há prazer no vício, ainda que o sujeito sinta que tenha, há apenas a causa última, a insaciedade destrutiva.
Pensando por esse caminho, a discussão de seguiu, brevemente, atravessando alguns conceitos, até chegar ao questionamento que me rodeia até então. Seria o desejo, na sua condição primária, uma idealização incontrolável? Em outras palavras, não temos a liberdade de escolher ou não desejar? Não temos ainda a possibilidade de impedir que o desejo se direcione ao objeto x e não ao objeto y? Ou, no âmbito da natureza humana, o homem constrói inconscientemente (talvez até no inconsciente coletivo) seu querer, e, na (falsa) necessidade de tomá-lo na prática acaba por "concretizá-lo" no pensamento, chegando assim à condição de desejo, por assim dizer?
Paramos a conversa, após algumas possíveis respostas, sabendo que nenhuma delas satisfazia nosso desejo de saber, verdadeiramente, a arte do desejo. E, a filosofia, por questões narcisistas (que questões não são de cunho narcísico?) não nos traria a verdade, nos traria a nossa verdade, a verdade que não é falsa, mas que se limita apenas na possibilidade de ser, talvez, uma verdade pré-concebida. Se limitássemos tais questionamentos no espaço-tempo compartilhado naquele breve instante, estaríamos nos enganando. E, por outra razão nos detemos.

Ambos, em uma sincronia do pensar, nos questionávamos sobre outra dúvida a respeito do Desejo. Por que, após o desejo ter sido compreendido e direcionado (isto é, se fora compreendido, já estava direcionado), e, partido para além do mundo das ideias, se materializado e tomado forma, e, considerando que houvera a conquista real desse desejo, por quê não há a satisfação, o Prazer, que levaria a sensação de felicidade e de saciedade? Por quê, antes mesmo da concretização do desejo no ato, se constrói, de forma banal, outro movimento de desejo, impedindo que se prorrogue e leve até ao êxtase o sujeito principiante da ideia? Não há espaço para a satisfação, e, por desfecho, para o ócio? Por fim, estaremos todos cegos, marionetes da fábrica de desejos, muitas vezes, quase sempre, produzida no ser (e introjetada por opção ou por falta de ideais), e não, em essência, concebida?

Como sou mais do universo da (quase) poesia e um tanto menos da (quase) filosofia, deixo também o gênero que sei escrever menos pior:


Angústia, o verbo surge,
quer ter forma, quer a vida,
quer me sugar, quer, apenas quer.
Tolo que sou, dou a alma
para ver o que meus olhos
não conhecem, ou fingem não conhecer.

Quanto desejo vem à tona
meus sentidos se prendem
me deleito no sabor, no aroma,
mas não conheço a essência,
sei que no centro incansável
de cada ideia, decadência.

As dores que os amores trouxeram
e o complexo insistente
me empurram para novos amores.
Sou filho da filosofia de mercado
não vejo os preços, apenas quero,
o demônio é quem faz a composição
eu dedilho os acordes finais.

Angústia. A definição do homem.
Angústia. A única finitude dos meios,
eternos meios virtuosamente viciosos.
Corra, corra, o quanto puder,
apenas para se manter no mesmo local.
Corra, corra, ainda mais veloz
que a saltitante linha de chegada.
Corra, corra, antes que a morte venha
enquanto tu, apenas com a lenha
tenta recriar o fogo.
Corra, corra, fuja para a multidão
abrace aquele que apenas deseja
que não busca razões existenciais,
apenas diz que prefere ser feliz
do que ter conhecimento, do que ter
razão.

Angústia. Até a glória nos leva
dormentes, enquanto pensamos gozar da vida.
Angústia. O desejo é que dá forma ao homem
ou o homem, por assim ser, dá forma ao desejo?
E queremos. E queremos até mesmo não querer,
queremos esquecer.

Esquecer. Olvidar.

Feliz de quem, sem tentar, consegue.
Angústia ao que quer esquecer, e, ao tentar,
por ordem suplantada na própria natureza,
no gênio infernal, não consegue.


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