28 de novembro de 2018
Olhares analíticos
Pequena observação
Esses meus olhos fundos
O espaço vago, e tédio,
Uma sutil distração e um aceno.
Ao lado, descansa o companheiro.
Do outro, riem os papagaios.
Nas costas, parede.
Na frente, um docente afirma
algo sobre o pai ser representado pelo cavalo.
Na minha mochila
tem café amargo
ideia genial para controlar
o consumo excessivo de cafeína.
Queria saber desenhar
desenhar-te
desdenhar-te
desde a arte
até ao bom dia.
Seu olhar não é profundo
o suficiente. Encanta
mas não mantêm tal feito.
Vai da história de vida.
Vai das contingências de reforçamento
anteriores aos meus frequentes passos
cotidianos em solo burguês, da época
de curso técnico,
de café por cinquenta centavos tomados
em torno das dez da noite, ao lado de pavões,
e aquela Lua que nunca se sentiu
tão bem.
Quando é que o poema termina?
26 de novembro de 2018
Personagem I - retratos de um pombo
E quantas vezes, olhando para o céu todo cinzento
não quis ser aquele pássaro?
O pombo que analisa o mundo pelo telhado,
parece muito mais civilizado que esse emaranhado
de variáveis a preencher minha solidão.
Tenho me negado a minha própria ilusão
não me parece viável chutar outra vez a pedra
e carrega-la, passo por passo, nessa estrada
longa caminhada em rota circular.
Tenho me negado aquilo que jamais abdiquei
(descrevo-lhe amigo, sinta minha lamúria
escorrendo pelas palavras ocas e secas que ecoam de minha voz),
sou aquilo que neguei? Sou mesmo isso?
O pombo, a decifrar as praças e os meios públicos
e eu, aqui, olhando o céu cinzento, as nuvens
que nem vejo formas. Tempos que ali havia algo.
Sou aquilo que neguei? Sou isso mesmo?
O profeta se alimenta de suas pregações:
anuncia a redenção e diz "arrependei-vos, pois ainda é tempo",
tempo de quê? para que? sou isso?
Jogai-me a primeira pedra, e deixarei cair a fé.
23 de novembro de 2018
Haikai que leitor nenhum entende
Minutos eternos
passam assim
estalar de dedos
Pedras afogadas
Me distancio, em lugar de Deus,
sou agora o observador supremo
atento aos movimentos,
dos humanos aos cupins
e dou a graça da interpretação
se, e somente se, houver
necessidade de me comover
com lamúrias de meus filhos
com as palmas nas igrejas
com as putas desse bordel
com as preces de meu povo.
Em função de Deus, ou de Deusa,
estou em todos os cantos e prantos
sem surpresa, sem sensações,
sou apenas uma constante do Universo,
não sou começo e fim, sou
a destruição e aquilo que recria.
Eis aqui a sua graça
beba da fonte da vida,
que também é fonte de morte
e do nem isso nem aquilo,
não sou caos, sou relação ordenada,
e faço do próprio caos, ordenação.
Não, não se esconda. Supõe agora
que as memórias se encontram em substratos?
Sou. E quando digo que sou, é porque o tempo
se ajoelha sob meus pés. As memórias são apenas
descrições temporais dos eventos. E em função de Deus,
sou o tempo para os eventos serem.
Pois sou,
o passado e o futuro
se unem
e se entrelaçam
em mim.
22 de novembro de 2018
A concha
ondas constantes
seguidas de uma suave calmaria,
contudo, o mar
quando calmo, atrai gente
até demais,
e as ondas voltam
ao que antes eram
20 de novembro de 2018
Velha
Tem uma senhora
vejo pela janela
todos os dias
ela vendo novela
na mesma hora
menos de domingo.
De domingo
ela dorme mais cedo.
Não tem novela
a reprise, da rotina,
é só na segunda.
19 de novembro de 2018
Gato II
gatos
lutam contra sua própria sombra
quando há o mínimo de luz
humanos
não?
18 de novembro de 2018
Gato
...
A vida
é essa
caixa
de areia
pulos
mordidas
e meia
Antropofagia Burguesa: ¡La puta hostia! - Parte II
Na boca, a hóstia desce seca
O rosto do fiel que pregaria Jesus na cruz
Lembra formas de dominação furreca
Pintar quadros de um semideus de olhos azuis.
Jesus era negro. Cabelo enrolado.
E comunista que era, dividia o pão.
Se estivesse conosco hoje, cansado
Estaria desse caos controlado e sacristão.
O Magistral Império Romano
Hoje, não tão glorioso,
Esconde por debaixo do pano
Dos seus bispos, o gozo.
Na boca,¡la puta hostia!
15 de novembro de 2018
Antropofagia Burguesa: ¡La puta hostia! - Parte I
Igrejas elegem seus deputados
é a festa do Reino dos Homens
de terno, brindam no lombo
de quem lhes garante a vida.
Igrejas elegem seus deuses
e profetizam a palavra nas mãos de juízes.
Eis o meu corpo, eis o meu sangue
jorrando pelos tribunais de Franz Kafka,
o processo sem fim.
Igrejas. Palavras tão próximas
dízimo e dizimar. Cobrar com o que é de César
cobrar com o que não é de ninguém.
Crucificar os programas sociais na cruz:
médicos cubanos são ditadores que atendem
senhoras e senhores esquecidos pelos de jalecos
brancos.
O pobre é o lobo do pobre. E poderia ser diferente
se os meios de comunicação e domínio estão sob mãos
invisíveis?
Poucas palavras e a multidão contente.
Sem médicos pelo interior, essa profissão
tão sólida para os que detêm o capital;
e, cada vez mais, o sal, como diria Ciro, desaparece
nos mapas dessa terra.
O processo sem fim.
A túnica vermelha para o batismo,
virá em breve.
O renascer. A fênix.
A fúria se fará ver. Previsível.
Revoluções surgem assim, meu bem.
Enquanto isso, tomai.
Faça o diabo feliz.
O poder pelo poder.
40 milhões de quase-humanos
e a alma, por um triz.
Comei: ¡La puta hostia!
12 de novembro de 2018
Definições: vida ou morte?
cinzas no ninho
felicitam o nascimento
pólvora e explosões
lamentam a morte:
vida, essa destruição,
quem, que corpo
tem, não quer,
aceita calada?
não, não, vida
escolhe se vive
não
o indefinido
definido por verbais
doutrinários;
quem é que segue
as ideologias mesmo?
tal
qual
as propostas
que prefiro
nem
co-
comentar.
9 de novembro de 2018
Pesadelos
Tome meus pesadelos como presente. Cuide deles, como se fossem reais. Talvez ressurja uma gota de esperança em solo árido e insensível. Os meus sonhos, estes, são frágeis. Ao menos, são recorrentes e lentos. Há neles uma sensibilidade a longo prazo. Há em meus pesadelos, o imediatismo de nossos porões sociais.
Pasmem.
As vezes um haicai é eterno, e um soneto, falcão a soterrar céus.
Mundo aflora
Que como haicai
veloz passou:
o que para ti, sou
5 de novembro de 2018
Tus ojos
Essa coisa da vida
coisa nem lida nem ouvida
a duvida que (me) olvida
Lírios e coqueiros
alguém que vem do povo
que emana do povo
que é braço de Cohab
cinza que a obra negou
lançada ao mundo
no sertão das pedras
no interior do interior
sem capital
alguém que vem de lá
do morro que entre
2012 a 2014, subi, exausto,
em horário de putaria, 23h37min,
e sorria, sorria, e chutava o balde
(era delícia; cenas de trevas: luz natural).
que perambula sob o chão
que nasci
meu bairro
que é horta e terra,
que é porta e telhado
alguém que vem da comunidade
guria selvagem nos instintos
absolutamente perdidos
dessa pátria de poucos
vem
alguém que o povo confie
que no olhar, se vê guerra
e se encontra paz
4 de novembro de 2018
Mate
A vida, diferentemente do xadrez, só deixa o peão em xeque
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