23 de novembro de 2018

Pedras afogadas



Me distancio, em lugar de Deus,
sou agora o observador supremo
atento aos movimentos,
dos humanos aos cupins
e dou a graça da interpretação
se, e somente se, houver
necessidade de me comover
com lamúrias de meus filhos
com as palmas nas igrejas
com as putas desse bordel
com as preces de meu povo.

Em função de Deus, ou de Deusa,
estou em todos os cantos e prantos
sem surpresa, sem sensações,
sou apenas uma constante do Universo,
não sou começo e fim, sou
a destruição e aquilo que recria.

Eis aqui a sua graça
beba da fonte da vida,
que também é fonte de morte
e do nem isso nem aquilo,
não sou caos, sou relação ordenada,
e faço do próprio caos, ordenação.

Não, não se esconda. Supõe agora
que as memórias se encontram em substratos?
Sou. E quando digo que sou, é porque o tempo
se ajoelha sob meus pés. As memórias são apenas
descrições temporais dos eventos. E em função de Deus,
sou o tempo para os eventos serem.

Pois sou,
o passado e o futuro
se unem
e se entrelaçam
em mim.

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