30 de dezembro de 2019
But I could, so fuck off.
Você quer que tudo se foda
toma seu gole de seja lá o que for
e realmente quer que vá tudo para o inferno
mas quer também
que os outros aproveitem e gozem
pois sabe bem que todos querem que tudo se foda.
Você não é o único. Nunca foi. Não há nada de especial.
Ainda bem, viu?
Estou sendo ríspido com as palavras, mas convêm.
Você suporta tanta coisa, uma ridícula poesia não te ofenderá.
E se ofender, com o que é que não nos ofendemos?
Vá junto com os demais se foder. Irei junto.
Sinceramente, vamos todos. Abraçaremos o caos.
Lamberemos a última gota do cálice do diabo.
As coisas - me dê licença para inventar a roda - serão piores
serão piores e piores serão. Não se deixe levar pela esperança.
Ela é a última que morre, já foi dito. Todos morrem antes.
Bradarão alguns, "oh, mas que lástima de versos". Estão certos.
Estão sempre certos, e esse é o maldito problema.
Estão sempre cheios de certezas, e certezas otimistas.
Oras, vão se foderem. Talvez até encontrem antes o céu.
Como eu ia dizendo até que estes infelizes me aparecessem em pensamento,
você quer que tudo se foda.
Mas estamos por aí, fodendo com tudo também.
Ou não?
29 de dezembro de 2019
Verum velle, parum est
Heresia
é crer.
A fumaça do arcebispo
na face das criancinhas
a cobra fumando o Sol
a Lua putrificada abençoa
"vinde todos, vinde"
dizia o maldito.
Perdão é falta de análise.
Pecado é uma honra.
A semente da discórdia floresce
E todos sabemos que ela é necessária.
Na sacristia, a traição.
Jesus jogando tudo ao chão.
Aos pastores, ele, puto, dizia,
"seus filhos da puta, transformaram o reino do meu pai, num mercado de peixes".
Depois, dizem que aprenderam com ele
a multiplicar os peixes recebidos dos pobres.
Garanto.
Heresia
é crer.
Numa divindade só, pior ainda.
Se for para acreditar, que seja no Panteão,
qual queira.
*P.S.: vocês também se incomodam com as imagens católicas de Jesus e Maria? Branquelos, parece que nunca viram Sol, narizinho empinado, cabelinho arrumadinho. Dedinhos limpos. Por vir de família com tradição católica, sempre achei engraçado tais imagens. Tem um quadro na casa da minha avó, suponho que seja Maria. Além de todos esses pontos que comentei, ela ainda tem a bochecha rosada de blush. Não querendo problematizar nada, até porque a maioria do Brasil já é protestante mesmo (protestante, o nome parece piada), e não são chegados em imagens, só em suor do Valdomiro e em madeira da terra santa de um outro pastor que não lembro nome, mas provavelmente, e confesso que depois pesquisarei a respeito para ter certeza, Jesus (e o povo todo lá da segunda geração do Best Seller Bíblia) era negro. Enfim, só um comentário solto aqui.
24 de dezembro de 2019
Com tradição
Natal, por cerimônia.
Nada a comemorar.
Apenas um preparativo
Juntar os familiares (alguns)
Eu disse juntar, reunir não faz sentido
Ouvir os causos. Mas não as causas.
Aturar até saturar. Então, trégua.
Alguns dias. E depois,
Virada de ano, por cerimônia.
Nada a comemorar.
E vocês já entenderam a coisa toda.
Mas
Tem lá sua lógica.
Para que ver a todos sempre
Se reservamos alguns momentos do ano
Agendados previamente
Para tal questão?
É, por cerimônia.
22 de dezembro de 2019
"Conciliação" pragmatista entre eus (IV)
Uma calmaria que até estranho
Incertezas que fazem cócegas
Em meu ego que não revida.
Para onde foi todo tormento?
Lamento comigo, enquanto leio.
De certo, adormece, para de pronto,
me tomar por inesperado, me domar.
Há de se estranhar sempre que algo vai bem.
Quem incrédulo sempre foi
não é em uma noite que toma fé, nem em si.
Talvez o fim do ano, talvez.
O impasse de saber se o que virá é pior.
Ou a repetição já me devorou e nem vi.
Meus eus, outrora gladiadores estúpidos,
presos parecem na constante do agora.
Até quando isto segue, suponho que não muito.
Na ausência de tempestade, fiquemos com o copo d'água.
19 de dezembro de 2019
Foi ontem e não me contaram
Nem orgulho nem tristeza
menos ainda felicidade
é um tempo suspenso
sentimentos ficam de fora
dessa imersão de pensamento
em que está
dentro, um estrondo
fora, esse silêncio completo
dentro, é se, porém e quando,
fora, de certezas repleto
as estrelas não dormem
pela nossa visão
é que apenas somem
na longa escuridão
de mim e de ti, léguas
duelos internos sem tréguas
não me avisaram que o céu estaria nublado
não me avisaram que a revolução já passou.
16 de dezembro de 2019
Abster-se de um além
Vulgar. Qualquer resposta sobre a morte é vulgar.
Prometer ao cego sua visão, ao miserável, o pedaço de terra.
Vulgar. Usufruir da ignorância dos pecadores.
Prometer a salvação, a saliva, o alívio da dor que não encerra.
Grosseiro. Fingir conhecimento das trevas e da luz.
Aqui não se paga, aqui não se faz; aqui, se sofre.
Grosseiro. Espiar a culpa e ampliar o peso da cruz.
Roubar a esmola ao mendigo e fingir-se nobre.
Repudiável. Tirar proveito da amargura.
Como se houvesse salvação, como se houvesse um amanhã.
Repudiável. Dizer que o fim também é cura.
Como se o corpo apodrecesse para que a alma se dê por sã.
Sob os olhares de E. A. Poe é que vos escrevo. |
15 de dezembro de 2019
3 tempos de leitura: Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski
I-
Já não podia conter-se. Tinha guardado aquele prazer por tanto tempo. Pensou em como estivera feliz naquele ato, ainda que a humanidade lhe julgasse. Sabia que sentenciavam por ignorância das causas, e mais, julgavam por inveja, pois na medida em que não se satisfaziam, haveriam de ajuizar aqueles que gozassem de sombra e água fresca. Assim, aproveitava a sensação que lhe arrepiava o corpo e se deixava levar pelos sentidos, como um animal, como uma besta fera, como um deus. E não sentia qualquer arrependimento, tampouco mágoas.
II-
Mas, devo confessar, meus leitores, ainda que houvesse tamanha identificação com o personagem, me corria em pensamento que aquele estado de coisa só poderia terminar daquele modo. Crime e Castigo... E que castigo? E que crime? A literatura tem dessas de nos pregar uma peça. Tem dessas de nos permitir o fingimento. Tem dessas de nos referir o deleite, a maldita satisfação imprópria, negada pelo mundo. E que querem que eu diga? Que Rodion Românovitch Raskólnikov é culpado? Não defenderia uma vírgula dessa estúpida frase. Tampouco é inocente. Louco, menos ainda. Rodka, te defendo. Por compreensão, se queres que eu diga. Não pelo ato em si, mas pela dúvida. E por tantas certezas.
III-
Quem quiser, que julgue. Me abstenho de erguer o dedo e dizer "culpado, culpado!". A culpa, senhoras e senhores, é um elemento particular, não uma sentença qualquer. E olhando mundo afora, são muitos os que esperam sua vez de atirar a primeira pedra. Me abstenho.
*Esse texto faz parte e inaugura a nova série de publicações que farei sobre livros recentemente lidos. Serão sempre três tempos de escrita.
** Obra: Crime e Castigo, Fiódor Dostoiévski, garanto que não li em Russo (1866).
*** Se recomendo ou não: Sim, recomendadíssimo / e, tolere sua insanidade
Haicais de síntese entre tempos verbais
que a vaca tussa
e vá pro brejo
eis ai o que almejo
mas ela pasta
segue a vida
sem dizer "basta!"
10 de dezembro de 2019
Raskólnikov?
cabeça a mil
tontura e tonteira
sou eu a gota
dessa torneira
cruel e vil
viu por dentro
nada sentiu
só o nervoso
vermelho correndo
é assombroso
que esteja doendo
cumpriu-se a profecia
como um condenado
o cárcere interno
seu eterno legado.
7 de dezembro de 2019
Sobre crenças, pragmatismo e Leminski
A minha descrença religiosa perpassa a própria fé que tenho em meus hábitos. Verdade seja dita, minha crença maior é a de que crenças são aberrações. E mesmo crenças pessimistas, como o crente do fim do mundo, ou o crente de que o mundo é um lugar ruim. Nem bom nem ruim. É como é. E assim está por causas passíveis de explicações, ainda que bizarras.
Não consigo admitir a necessidade de discussão sobre a existência de forças maiores ou seja lá como você chama isso. O nível de descrença é tanto que não posso nem me considerar um ateu. Não mesmo. Ateus se prestam a negar. Vivem a vida negando algo que não acreditam. E para que negar algo que não me presta respeito? Ignorar. Verbo que define. Do outro lado temos os religiosos. Não sou psicanalista, aliás, considero tal prática religiosa também, mas não devo deixar de concordar que aquele que crê está por declarar sua falta. Crê em um céu, em um paraíso, possivelmente porque lhe falta paz, não tem sossego em seus dias. Teme o inferno por ter desejos que não tem coragem de suprir. E então, a lei máxima dos religiosos, tentam arrancar os prazeres alheios por meio da palavra. Dizem, "isto é pecado", "aquilo é o diabo". Oras. Que seja o diabo e que aproveitem a vida. Denunciar o pecado é pecado também, não sabiam?
Mas não quero mudar o foco da conversa. Estava dizendo de minha percepção, de minha autoanálise, de que não consigo, por mais que tente, crer ou ser descrente. Tampouco creio em um só verso que escrevo. Mas também não dou por falso. É questão interessante essa a de não considerar que algo exista ou não, que faça diferença ou não.
Sempre que entro por esses nós de pensamentos, por essas avenidas reflexivas, ascende a resposta de que sou apenas, pragmatista. Na raiz do termo filosófico mesmo. Não no popular da palavra. Por isso, a poesia de P. Leminski me diz respeito. É tal:
eu ontem tive a impressão
"eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos
quem sou eu pra falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus"
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Paulo Leminski era um gênio. Um desaforado fenomenal. Fiquem com essa.
5 de dezembro de 2019
Regras ocidentais empanadas em farofa de pensamento (I)
"Suspeite daquilo que mais desejas", é o que vos digo. E, repito, com outras palavras, para que não sejas refém de tua sina e de teus sórdidos pensamentos: "ignore o lado poético que suspende as regras morais e, num só golpe, desperte de seu estado hipnótico de almejar algo".
Ao fundo, bem sabes que queres somente o que jamais terá. E não por incompetência, mas que no modo ocidental de arranjar as coisas, o desejo é puro estado de ausência. Então, repito a mesma asquerosa frase: "suspeite daquilo que mais desejas".
4 de dezembro de 2019
Um em busca de sei lá
Pelo viver
não
o que se
vive
Pelo desejo
não
o que se
deseja
Pelo além
não
o que se
tem
Por faltar
sempre
coisa
algo
alguém
isso
aquilo
troço
Pela ausência
daqueles que não queremos ver
no dia de hoje
mas que amanhã
talvez
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