A minha descrença religiosa perpassa a própria fé que tenho em meus hábitos. Verdade seja dita, minha crença maior é a de que crenças são aberrações. E mesmo crenças pessimistas, como o crente do fim do mundo, ou o crente de que o mundo é um lugar ruim. Nem bom nem ruim. É como é. E assim está por causas passíveis de explicações, ainda que bizarras.
Não consigo admitir a necessidade de discussão sobre a existência de forças maiores ou seja lá como você chama isso. O nível de descrença é tanto que não posso nem me considerar um ateu. Não mesmo. Ateus se prestam a negar. Vivem a vida negando algo que não acreditam. E para que negar algo que não me presta respeito? Ignorar. Verbo que define. Do outro lado temos os religiosos. Não sou psicanalista, aliás, considero tal prática religiosa também, mas não devo deixar de concordar que aquele que crê está por declarar sua falta. Crê em um céu, em um paraíso, possivelmente porque lhe falta paz, não tem sossego em seus dias. Teme o inferno por ter desejos que não tem coragem de suprir. E então, a lei máxima dos religiosos, tentam arrancar os prazeres alheios por meio da palavra. Dizem, "isto é pecado", "aquilo é o diabo". Oras. Que seja o diabo e que aproveitem a vida. Denunciar o pecado é pecado também, não sabiam?
Mas não quero mudar o foco da conversa. Estava dizendo de minha percepção, de minha autoanálise, de que não consigo, por mais que tente, crer ou ser descrente. Tampouco creio em um só verso que escrevo. Mas também não dou por falso. É questão interessante essa a de não considerar que algo exista ou não, que faça diferença ou não.
Sempre que entro por esses nós de pensamentos, por essas avenidas reflexivas, ascende a resposta de que sou apenas, pragmatista. Na raiz do termo filosófico mesmo. Não no popular da palavra. Por isso, a poesia de P. Leminski me diz respeito. É tal:
eu ontem tive a impressão
"eu ontem tive a impressão
que deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos
quem sou eu pra falar com deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus"
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Paulo Leminski era um gênio. Um desaforado fenomenal. Fiquem com essa.
Vou além : quem é Deus para falar comigo?
ResponderExcluirDeus deve ser um monólogo; e estamos cheios dele(s).
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