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13 de maio de 2020
12 de maio de 2020
Crônica da Semana #02: Josias Lorente e os Caminhos da Salvação
A mudança na vida de Josias Lorente foi repentina. Desempregado, descrente e desavisado, foi com pouca clareza conceitual que ele acumulou outros “des” em seu currículo. “Eu jamais terei filhos”, repetia algumas vezes por mês seu mantra que arrasava o coração de sua pobre mãe. Ela tinha o sonho de ser avó, principalmente para ser a primeira de sua geração na família a carregar esse título e esfrega-lo na cara de suas consanguíneas, uma tradição bizarra que ainda se perpetua no popularismo de nossa nação. Aliás, em termos de sobrevivência da espécie, a família de Josias havia dado sua contribuição para o planeta, quiçá até extrapolado a meta do acaso nas gerações anteriores. Aline, a mãe de Josias, desejava ainda, mais do que tudo, que seu filho se convertesse e retornasse para a Igreja, onde foi batizado e instruído, e se reconciliasse com o padre, já que sua última ida ao templo foi para roubar o vinho (ou sangue). Isso sem contar o ocorrido com a Clarissa do Padre que Josias rolou em amassos dentro da sacristia (Clarissa era o nome e a função dela), episódio que o padre não soube mas que, ao meu ver, sendo o corpo objeto de adoração, resguardar-se na sacristia para veneração à carne, não seria pecado, seria reza. Josias sempre dizia que jamais voltaria ao cristianismo romano e explodia versos nada leves quando tocavam no assunto. Porém, toda via carrega um todavia.
Foi em setembro do ano passado que Josias desonrou seu compromisso com sua identidade e com seu caráter tão criticado pelos pais. Ele que, missionário do apocalipse, seria o primeiro a martelar Jesus na cruz – faltando apenas ter um pôster dos soldados romanos em seu quarto - se tornou um dos maiores defensores do evangelho entre os seus familiares, parentes e amigos. Esses últimos formavam um grupo quase unânime de debochadores. Sim, essa é uma categoria religiosa, para os que não conhecem o universo do ateísmo, do agnosticismo, dos meros descrentes e do deísmo fajuto, isso sem citar os filósofos pós-modernos e os construcionistas gerativistas (não falarei dos psicanalistas pois a adoração ao falo é outra tese). Os íntimos colegas de Josias eram debochadores. Essa é, sem sombras de dúvida, o grupo mais excomungado e desprezado pelos fieis, independentemente da fé dos religiosos. O deboche com o sagrado incomoda, suspende os sentidos dos mais fervorosos em seus dogmas. Josias sabia disso. Josias tinha vivido duas décadas como Rei da esbórnia. Era o guia da seita.
Mas, como eu disse, foi em setembro. Josias se tornou membro de uma das incontáveis Igrejas Evangélicas Reformadas no Brasil, de orientação Calvinista, que lutam para continuar existindo nesse ramo de negócios. O leitor me desculpe a ignorância com que escrevo o assunto, mas basicamente isso significa ser membro de uma igreja evangélica que rompeu com outras igrejas evangélicas e se tornou independente. Considerando o surgimento dos crentes e o rompimento com o catolicismo, é como se Josias fosse membro de uma reforma dentro de outra reforma que terminará, certamente, em outra reforma (talvez dessa vez uma reforma no templo, deixando ele revestido de ouro para os fieis que passam fome rezarem dentro dele de maneira mais confortável).
A imaculada mulher de Josias também era participante assídua do templo. De fato, ela era a voz inaudível que soprava aos ouvidos de Josias. Mãe de alguns pirralhos que Josias tomou como seus, Ortega tinha raízes mexicanas e sua adolescência foi um verdadeiro embate moral. Assim como a família de Josias, considerável parcela de seus familiares eram católicos. E todos sabemos que o catolicismo entre os mexicanos apresenta características particulares de adoração intensa a imagens e aos semideuses. Foi como se Ortega abandonasse o panteão para se dedicar exclusivamente a um ser sem rosto, ainda que retratado como um branco pálido e cabeludo nos quadros que ela passou a repudiar sob o argumento de adoração pecaminosa. Josias também era monoteísta mas no início de seu relacionamento com Ortega, dividiu sua crença em três divindades: Deus, Ortega e uma imitação ocidental de Danu, deusa celta da fartura e prosperidade, conhecida em nosso meio pela frase “nada me faltará”.
Não consigo elucidar a cara de assombro que fiz quando um amigo dele me esclareceu as mudanças na vida de Josias. Ao que me relataram, ele acordava às três da madrugada para rezar – e fica a denúncia, atrapalhando o sono do todo poderoso –, ia para as ruas algumas vezes na semana, antes do Sol raiar, para ir de porta em porta divulgar a empresa de seu pastor; Joel e Ortega não mais transavam, pois ainda não eram casados – mas isso logo deixaria de ser uma questão, eles casariam nos próximos meses e assim não transariam por opção -, pagava, para seu magnífico pastor, vinte por cento do que ganhava no mês (suserania e vassalagem) e, pasmem, além de cuidar dos seus novos filhos, tentava incansavelmente, converter seus antigos amigos, os mais debochadores e burlescos habitantes desse sórdido planeta. O relato desse amigo, inclusive, foi dos mais épicos e carregado de riso que já ouvi. Em um dos momentos de diálogo, me disse que Josias afirmou para ele que, caso não mudasse de vida e seguisse rindo do que é sagrado, iria para o inferno. Nada faz um debochador rir mais do que a ladainha sobre o inferno. Parecia que Josias desconhecia suas próprias raízes, seus próprios comportamentos, parte da própria vida.
No entanto, o grande final dessa miserável crônica recai na mãe de Josias. Ele, ao que indica sua logomania paroquial, em breve arrumaria um emprego ao estilo que Diderot coloca no livro “A religiosa”, um emprego onde “o salário não importa: somente segurança, repouso, pão e água”. Também teria filhos próprios e viveria algo em torno de uma década de casamento, até que num belo dia fosse fisgado pelos prazeres carnais e desistisse do sonho da vida eterna. Ou não. Talvez seguiria a transfiguração monástica, abriria sua própria igrejinha no bairro e conseguisse esconder dos olhares humanos os pecados cometidos, prosseguindo com o casamento, demonizando as ações dos outros e ignorando que seu deus fosse onisciente. O leitor já deve ter percebido que, para além das divindades, minha descrença se concentra em negar qualquer possibilidade do puritanismo no ser humano e de suas boas ações.
E com isso esquecemos a mãe de Josias. Mas não por muito tempo. Seguramente vocês lembram que expliquei que ela era desejosa de ter netos e de ver seu filho no caminho da salvação. E se eu dissesse que, atualmente, ela reza a todos os santos e arcanjos para que ele volte para o pecado? E se eu dissesse que, todas as noites, se ajoelha e implora para deus e para o diabo que curem a cegueira espiritual de seu descendente? Vocês duvidariam? Pois que duvidem! Isso é o que tem acontecido. Dona Aline, mãe de Josias, pranteia só de pensar no rumo que ele tem tomado. Jamais chamaria qualquer filho de Josias, procedente ou postiço, de “meu netinho, minha netinha”.
A razão disso? Bem, meus queridos e queridas e queridxs. Usarei uma parábola. O desempregado é visto com bons olhos por uma empresa. Ele está lá, esperando, desejoso de trabalhar, necessitado, na verdade, e a corporação precisa que ele esteja justamente assim para que, num momento de morte, esgotamento ou impostura de um contratado, ela tenha outros para ocupar a função, ganhando até menos e trabalhando até mais. Agora, por acaso o funcionário de outra instituição é visto com bons olhos pela empresa concorrente? Óbvio que não. Ela precisará demonstrar que é ainda melhor, precisará convence-lo de que, sendo ele ótimo, ela é o local certo para ele. Mas aí surgem problemas. O empregador joga sujo, promete mil e uma coisas para o empregado, vende para ele a promessa de uma vida eterna, de lucros e dividendos. E assim se estabelece a impossibilidade de reposição das peças para a outra instituição. Isso acontece em todos os negócios e empreendimento. Seria diferente com as startups e monopólios da fé? Na medida em que os funcionários do show da fé se sentem patrões, tomariam uma resposta diferente de “não” como absurda.
Annuntio vobis gaudium magnum;
Habemus confusione!
8 de maio de 2020
Bloco da Chiste Rimada #01: O seu fresco Canal de Notícias
Seria o Adélio ao lado do Bolsonaro? |
AAAAAARGH!!! Bolsonaro tem todos os defeitos, mas ninguém poderá dizer que não é um bom pai. Defende os filhos com unhas e dentes, ainda que corruptos sejam todos os parentes!
AAAAAARGH!!! Só ele é honesto. Cuidado gados! Maduro era militar, transformou a Venezuela em seu lar!
AAAAAARGH!!! Em defesa da família brasileira da minha casa! Se Ministro contrariar, chamo outro e grito "passa"!
AAAAAARGH!!! Sérgio Moro só sabe xingar em latim! Quis dar uma de herói mas decretou o próprio fim!
AAAAAARGH!!! Ministro da Saúde é o novo Lázaro do novo Messias! Cara de recém ressuscitado, doutorado falso, o Rei das Heresias!
AAAAAARGH!!! Com essa eu me vou me banhar de descaso! Brasil acima de tudo! Uma nova nação fardada ao fracasso!
(O Bloco da Chiste Rimada é seu novo canal de notícias. Aqui não tem "boa noite" do Bonner nem teste de gravidez do Ratinho. Sugestões, deixe nos comentários).
6 de maio de 2020
Crônica da Semana #01: Eu não me Carlos
Seu
Carlos era fanático por futebol. Sempre foi. Sua família tinha no sangue e na alma
o encanto por aquele esporte. Sua esposa, ao que me relatou uma vez o próprio Carlos,
amava assistir aos jogos, principalmente da seleção – também adorava pegar
cerveja para ele durante os dois tempos da partida. Toda terça e quarta-feira,
além do sábado e domingo, assistiam aos embates do interior e dos times das
capitais. Junto com eles sempre estivera compartilhando da alegria do momento o
pequenino Douglas que jamais tirava o olho da tela (do celular) durante os
noventa minutos daquele gramado verde que aparecia na TV.
Foi
com grande luto que Seu Carlos ficou sabendo da paralisação dos campeonatos
estaduais, justo o torneio que ensinou para ele o nome de todos os Estados do
país. Ainda mais arrasado e amargurado o nosso cidadão de bem ficou quando
descobriu em uma segunda-feira a tarde que os jogos da Bundesliga e da Premier
Ligue também sofreriam interrupções, assim como todos os campeonatos europeus,
até mesmo das segundas e terceiras divisões. Naquele momento, Carlos não pudera fazer
outra coisa que não fosse chorar e encher a cara, sempre com o auxílio e
presença de sua amável mulher – nas palavras do próprio – pois foi com os jogos
europeus que ele aprendeu os nomes dos países da união europeia e também uma série
de palavras em inglês, espanhol, italiano e francês.
O
futebol fez de Carlos um verdadeiro patriota. O conhecimento impressionante que
demonstrava em suas opiniões políticas e das causas sociais sempre fez com
que ele fosse reconhecido e aplaudido pelos seus semelhantes. Compreendia o que
se passava no ministério da defesa, pois podia prever com exatidão os ataques
que seriam feitos. Sabia o que ocorria naquele meio-campo, ou melhor, no
centrão do jogo, onde a pelota fica em batalha, de lá pra cá. E, principalmente
e indiscutivelmente, tinha absoluto cálculo do que era um impedimento legal ou
não, então podia antecipar a validade dos lances com precisão surreal.
Não
revelarei aqui o nome do time do coração de Seu Carlos, mas, ele odiava o
Botafogo, equipe que seu melhor amigo, o Rodrigo, idolatrava. O que Seu Carlos
talvez ignorava era o fato de seu amado clube só comprar jogador, curiosamente,
do Botafogo, mas isso é outra história. Ou seria estória? Isso, tão cedo não
saberemos. Seu Carlos só faz um pedido: o Brasil não pode parar.
Ainda bem que
ele é o Seu Carlos. Não o meu.
(A "Crônica da Semana" é uma nova série de deboches e desgostos que será produzida uma vez por semana (?) e trará assuntos delicados com tons mais brandos e leves. Caso queira, deixe sugestão de temática nos comentários).
4 de maio de 2020
A falência de um sistema falido (em memória de Ruy Fausto)
3 de maio de 2020
Rostos
formas difusas
nuvens não se decidem
dragões, cavalos e narizes
nuvens confusas
azulejo antigo
imagens nunca vistas
caçar obras primas
que deixaram pistas
rostos na mancha da porta
figuras humanas na parede
tantos e muitos
1 de maio de 2020
"E não se deve dormir vestido. Senão a roupa estraga" (Tchekhov: o assassinato e outras histórias)
Longe, longe, longe
eu de mim percebo
sou a cura, sou monge
sou somente, placebo
Longe, longe, longe
permanece sua graça
nas folhas do outono
e dentro de Tchekhov
Eu, sujeito experimental,
no labirinto que me encerram
sem saber o que esperam
finjo que tudo é acidental
longe, longe, longe
para além dos olhos
para além de Dubai
para além da rima e do verso métrico e, da, gramática, e, para além da tese, da antítese; para além da síntese eu não sei. Amanhã confirmo.
30 de abril de 2020
Ingenuidade ou persistência?
Ao teu redor
o mundo que tu mesmo construiu
flores, lírios e ervas daninhas
plantas secas e mortas por insolação
vida há onde não bate o coração?
Ao teu redor
os verbos de praxe
a tagarelice tosca do cotidiano
frases e requintes de crueldade
aquilo que de outros
em ti encaixe
Ao teu redor
o que tem tido?
lamúria e grito
medo inibido?
minutos de calma
séculos de trauma
nada do que digo?
Nada de culpa ou julgamento
mas repare bem se
ao teu redor
houver somente dor e lamento
27 de abril de 2020
Antologia poética
o tempo escreve
antologias inúteis
prateleiras de pó e ácaros
intocáveis baratas donas de bibliotecas
tenho onze
antologias poéticas
nas minhas prateleiras
e elas nunca me trouxeram
uma dose de pinga, uma xícara de café ou um pão
eu mesmo
me conformo
de nem mesmo ter
uma antologia poética
de jamais ter ânimo para compilar
ordenar, descartar, repor, meus escritos
para acabar ali, na sua prateleira, intangível, decorativo
me recuso
a deixar um antologia
para que vocês manuseiem como quiserem
procurando sílabas que confirmem vossas verdades
como um horóscopo, uma cartomante acessível, uma puta
antologias
são obras fadadas
ao sucesso do pós-morte
e é sempre melhor que assim seja,
em vida o escritor é puro sofrimento
alegria em demasia seca a garganta dos que bem escrevem
dos que bem sofrem para que outras almas possam lê-los
e assim possam saciar a angústia, como se a antologia fosse um confessionário
sem divindade, sem deuses, sem representantes, sem mártires.
25 de abril de 2020
Nota de rodapé (2)
E não seria
estar certo sempre
um indício
de seus constantes
erros?
Idoso, aproximadamente 68 anos, cabelo quase branco e tomando subzero
Mão no cigarro
mão na lata de cerveja
põe a máscara
tira a máscara
mão na lata de cerveja
camarada passou, mão,
mão na máscara
põe a máscara
pega moeda no chão
esfrega o rosto
tira a máscara
outra tragada
e outra e outra
goles eternos
volta no bar
compra outra lata
mão no dinheiro
no saco, na lata
na sacola, no bolso
põe a máscara
abre o latão
de novo, tira a máscara
termina a lata
um e dois cigarros
agora põe a máscara
pega o cartão do ônibus
deixa cair o cartão
pega o cartão do chão
senta pra esperar o busão
oito reposições de máscara
cuspida no cimento
três mexidas no olho
dois espirros
o ônibus chega
entra no ônibus de máscara
cidadão do ano
cumprindo a lei municipal
24 de abril de 2020
Solzin
Ao vivo e em cores
o sol do meio dia
derretendo amores
e o que ali havia
Agora o sol domina
nem formiga na rua
nem aqui nem na tua
nem na sombra da esquina
Secando a roupa
que está na varanda
hoje não tem sopa
é o sol quem manda
Sol até na madrugada
a Lua ri, se vinga,
pois nunca foi amada.
22 de abril de 2020
Banquete para sua profana imagem
Você sempre esteve nas minhas manhãs, tardes, noites e madrugadas
nos meus pensamentos sombrios, nos rasos, nos profanos e nos mais sacros
vive em minha consumada liberdade e na minha impiedosa determinação;
enquanto lavo a louça, você está ali, me soprando aos ouvidos
enquanto tomo meu banho, enquanto bebo meu café, minhas doses de seu nome,
nas músicas melancólicas você está, sempre esteve, nos pedais, nas notas do baixo,
gritam seu nome em todos os rostos e ventos, o mendigo me disse seu nome
as jabuticabas são seu olhos, o céu escuro teu corpo, as luzes de natal piscam você,
nas angústias que ninguém mais conhece, você secou cada lágrima que você mesmo causou,
nos meus pesadelos e nos meus minuciosos e indescritíveis sonhos de uma sociedade alternativa,
na minha nudez, na vergonha, no ócio não preciso comentar. Você está presente,
no campo vazio da poesia que tem suas curvas, a letra cheia e disparada, que tem suas mãos
seus olhos julgam cada movimento que esse peso realiza, as rimas tem sua autoria,
as hipocrisias que narro são todas suas e não há sujeito que não você,
o som da gaita é sua sonoridade desenhada em sopro e aspiração,
a leitura que faço de Jorge Luis Borges, Neruda, Thoreau, todas, fotografias de seu sorriso
ou mesmo de seus choros, seus ataques histéricos e sua paz inigualável
o conceito de alienação carrega sua graça, os pássaros que vejo voar, as desgraças do cotidiano
tudo e todos são você.
Deus e deuses e deusas, você.
Ao passo que olhando no espelho, escrevo essa poesia e me dou conta de minha compostura narcísica.
Não me apedrejo.
Não me crucifico.
Não me espanta.
Vocês também só veem vocês nos outros.
Mentirosos.
20 de abril de 2020
Pontos de ônibus e de vista
caras tampadas
máscaras
evitando
a proliferação
do discurso
desnecessário
caras tampadas
eterno silêncio
será
conto de fadas?
caras tampadas
ônibus higienizado
nada de lotação
alegrias inválidas
rostos cansados
desço nessa estação
poluição em queda
ruindo o capital
o vírus contribui
adia ao mundo
o inevitável funeral?!
respiram os oceanos
enquanto em pausa
recuam os centros urbanos
questão de pontos
de vista de ônibus
19 de abril de 2020
Pirâmide social
Até
cara ou
coroa seria uma medida
mais ajustada de equidade social
do que a dita democracia pregada pelos ventos
18 de abril de 2020
17 de abril de 2020
Maná
•
capricho
escrever madrugado
acordo
ali, todo pregado
•
mistério
quando foi escuridão
e então era dia?
perdi parte da vida
escrevendo poesia?
ganhei a outra metade?
ou cheguei todo tarde?
•
capricho e mistério
nada resolve
a cara de sério
só dura até às nove
•
capricho
que a p/alma não amansa
a poesia descansa
deitada nessas linhas
escritas por mim
e que nunca foram minhas
•
puro capricho
o sol veio mais cedo
a noite foi embora
pra criança não ter medo
mas fica a escrita
coisa misteriosa
juro que deitei
sem escrever essa prosa
capricho
escrever madrugado
acordo
ali, todo pregado
•
mistério
quando foi escuridão
e então era dia?
perdi parte da vida
escrevendo poesia?
ganhei a outra metade?
ou cheguei todo tarde?
•
capricho e mistério
nada resolve
a cara de sério
só dura até às nove
•
capricho
que a p/alma não amansa
a poesia descansa
deitada nessas linhas
escritas por mim
e que nunca foram minhas
•
puro capricho
o sol veio mais cedo
a noite foi embora
pra criança não ter medo
mas fica a escrita
coisa misteriosa
juro que deitei
sem escrever essa prosa
16 de abril de 2020
Poesia escaldada
ali um desaforo
dormia na calçada
alguém levou pra casa
no final da noite passada
e outro desaforo
foi levado embora
o terceiro esperou e esperou
mas também chegou sua hora
13 de abril de 2020
Comportamento verbal
digo
nem tão extremo
quanto me dizem
nem tão flexível
quanto me testam
paciência e delicadeza
dependem
dos ventos da natureza
11 de abril de 2020
Covard-17 e João sem Maria
João era amigo do Messias
do Messias da terra de Deus
(o outro Messias)
tinha apelido de trabalhador
e passava creme nas mãos.
O Messias também era
amiguinho de João
mas fingia que não.
Dizia ser diferente
era católico e crente
e comia panetone de seu filho
usufruindo da aposentadoria que,
como qualquer Messias,
recebia desde os 33 anos.
No momento, João e Messias,
antes de caso, vivem de viés.
É que João e Messias estão
metendo as mãos pelos pés.
Mas, fogo que apaga,
logo nossos personagens
amiguinhos novamente
retornam em nova saga.
Atleta e pulôver,
até que o jogo
diga game over.
9 de abril de 2020
*
quisera rima completa
nevoeiro que não passa
chovesse na rua deserta
e embaixo da minha asa
queira rima completa
passar longe do bairro
do contrário a gente flerta
e em ti eu me amarro
que chova lá na secura
não sob a luz do poste
vá bem na parte escura
longe de todo holofote
8 de abril de 2020
don't be Put/in off
Dó Livro Tudo
isto CCCP Num
é toy Stálin
whisky stoy-co boom
amor platonóvico
don't be Put/in off
5 de abril de 2020
3 hai e 1 cais
barata tonta
vivo o que
a vida apronta
• ○ •
até que a vida
a vida me negue
•
até que vaso
de alimento raso
se seque
• ○
Até que amanhã
fim da picada
reste semente nada
•
1 de abril de 2020
Cantiga para criança mimada dormir - parte I
Dorme passarinho
sou teu ninho, teu ninho
ruído vem do mundo
um segundo, um segundo,
fecho a janela começa garoa
eis que teu choro aqui ecoa
dorme dorme dorme
dorme passarinho
sem forma se conforme
a sombra é companhia
tu não está sozinho
tem tua barriga vazia
dorme passarinho
sou teu ninho, teu ninho
o escuro desse cômodo
é pra te confortar
a visão é um incômodo
sente o banho do luar
dorme passarinho
não tem ninho, não tem ninho
deus não te escuta
camuflado na igreja
é tua toda a luta
que milagre tu almeja?
dorme passarinho
que teu sangue é teu vinho
dorme dorme dorme
que a dor já é enorme
dorme passarinho
sou teu ninho, sou teu ninho
imagem e semelhança
meu rosto de caveira
não chora minha criança
tirarei tua dor inteira
dorme passarinho
sou teu ninho, teu ninho
venho com a gadanha
ofereço a morte eterna
trago pão para barganha
meu alimento te hiberna
dorme passarinho
sou teu ninho, teu ninho.
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