24 de dezembro de 2017
Falação (Xylella) fastidiosa
Um show na rua
gaita, tambor, violão e voz (e boina)
era um cara só
uma roupa qualquer
e ainda tinha tempo de parecer
o Che Guevara,
mas estava cantando em inglês
tocando gaita e fumando
tudo ao mesmo tempo
as vezes até conseguia respirar
uma senhora passou do meu lado
apreciando o show, e disse aos sussurros
"podia tá trabalhando, moço forte"
desse tipo de comentário, a rua não precisa
nem o rapaz, nem o ouvinte, nem a senhora que disse.
Mas fiquei pensando na vida dela
mas fiquei pensando nas variáveis
até, depois de algum tempo, voltar-me
para o comportamento verbal dela de depreciar;
fiquei triste, o mundo é meio sombrio
quase sempre é assim; quase; nem sempre.
E eu querendo julgar.
Que culpa ela tem de ser condicionada a emitir
relâmpagos e pragas?
E eu querendo me julgar por querer julgar.
Que culpa eu tenho de ser condicionado a emitir
meus relampejos de tempos em tempos?
Que culpa alguém tem de censurar com ódio o ódio alheio?
O show foi bonito.
A gaita soprou prazeres.
E o rapaz ganhou o pão do dia a dia.
Se não fosse dezembro
até manteiga ele comprava.
O preço sempre sobe em fim de ano.
Parece que o mundo vai acabar.
Até - o cúmulo - a cerveja encarece.
Só sei que ninguém vai se embriagar com gasolina;
como diz uma amiga aí,
é Cantina da Serra, tá de bom tamanho
quatro litros e seiscentas ml
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