16 de abril de 2015

Escrevo e (a)pronto ...

Quando Paulo Leminski, poeta catarinense, escreveu a seguinte frase: "Escrevo. E pronto.", fico imaginando o alívio que sentiu nessas breves palavras, tão breves, mas tão embriagadas de lucidez. É de outro mundo. Escrevo e pronto. É isso, sem um motivo intrínseco, ou então extrínseco, além do ato do próprio escrever. Sem buscar fama, sem buscar ser compreendido, sem buscar prazer nisso, sem buscar o próprio ato do buscar (que, aos bons escritores, seja na escrita propriamente dita, seja nas atitudes marcantes e simples, isso tudo vêm com o tempo, mesmo que após essa breve existência). Escrevo e pronto. E quem quiser entender, que entenda o que quiser, ou o que lhe for conveniente. 
Sem se contentar com o alívio imediato causado pela frase, ele vai além, e diz "Ninguém tem nada com isso". Que grito! Para quem lê com presença de espírito, concentrado no que está lendo, obviamente se arrepia. Quando pensamos na escrita, pensamos logo no leitor, ou então na linguagem como código para transmitir ideais, ideias e tudo mais. Com Leminski é diferente, ninguém tem nada com isso, e por que afinal deveria ter?

"A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?"

Lemos então, ao final do seu poema, uma conclusão que surpreende, quando compara o homem aos outros animais, ergue uma crítica a questão da objetividade humana. Expressão que sempre escutamos e lemos "o homem é um animal que vive da objetividade e da finalidade". Não para Leminski. Na prática é o mesmo de fazer o bem sem olhar a quem, e sem pensar em ganhos ou benefícios. Apenas fazer o bem. Apenas escrever. Escrever. Crer no que se escreve, e não apenas escrever o que se crê.

E para aquele que nunca cansou de viver, e almejava ao máximo o prazer da vida, um breve recado do bigodudo catarinense:

"A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!"

Para terminar, deixo escrito uma breve poesia que escrevi:

Quando escrevo
é puro diálogo,
não atrevo
a dizer o contrário.
Poesia (me)enlouquece
exigindo autonomia,
quer fugir do escritor
ter sua própria mania

me trás o verso pronto
enquanto penso no primeiro ponto,
por vezes exagera na rima
ri, finge ser obra-prima
e eu que ainda tonto
nem sei direito o que quero

por fim, por vezes, fica assim o placar:
tudo meio escrito ao meio
tudo quase mudo, zero a zero.
                                                   (GRF)
 

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