30 de novembro de 2015

Hoje para o ontem

Quantos amanhãs serão necessários
para suportar tantas vezes o hoje
que não quis de todo ir embora
para o nunca mais. E se rumina,
no dia seguinte
e no dia seguinte ao dia seguinte
e no dia...

Até ser enfim passado
e não termos nenhum futuro pela frente
até estarmos mesmo cansados
passados para trás por esse presente.

E então não teremos leis e obrigações
morais,
e então seremos livres nas ações
e por medo não faremos nada
mais.

28 de novembro de 2015

Seja o que Flor

Não se perca demais na realidade
para todo trágico existe o belo,
e para todo o belo existe a assimetria.

E o suicídio, diriam.

Para a vida existe a Arte, seja qual for,
a arte de se machucar, de ser espinho
ou a arte de ser puro, urro da flor,
há ainda a arte mista
que é criar sempre o oposto
do que se tem em vista,

Se a realidade diz ser círculo
façamos pois o melhor quadrado,
se os outros dizem ser ridículo
façamos pois, de novo, tudo errado,
ai a beleza está, e desperta um sorriso.

Ou muitos. O inesperado
na verdade é sempre o desejo supremo
daqueles que vivem no monótono
angustiante e surreal da realidade.

27 de novembro de 2015

Madrugada e Poesia

Madrugada, e logo o dia virá
atormentar os espíritos que vivem
felizes na confortável caverna da noite,
esperando e contando as horas
para esperar e contar as horas do amanhã.

Madrugada, e não faz diferença
se as luzes ainda estão acesas, processando
versos infinitos na nossa mente
infeliz mente, que não sabe descansar,
que não sabe desligar desse inferno
mundo.

Madrugada, e os escritores solitários
tramam juntos no silêncio silibino
a morte de folhas e folhas traçadas em vão,
folhas ávidas por silêncio e paz,
folhas que para nós nunca são apenas folhas,
são o nosso outono, o nosso inverno
fingindo ser primavera,
fingindo sorrisos e sendo verdadeiramente
cínico. A vida é que debocha de nós.

Madrugada, nós rimos compulsivamente
para não enfrentar nossos medos.

25 de novembro de 2015

Es!

A tua alma é pura
meu bem, e não
tem culpa da loucura
que vive no meu
coração.

24 de novembro de 2015

Es!

Nós, que saciamos a sede
com doses eternas de loucura.

A ressaca?
essa tola normalidade.

23 de novembro de 2015

Cada palavra

Meu bem, quantos poemas
quanto verbo era necessário
para calar o silêncio
e fazê-lo tagarelar as dores,
as nossas dores?

E enquanto lê,
se pergunta: e por que não
se entregar ao desejo intenso
que massacra o sentimento
que outrora imenso?

22 de novembro de 2015

Eu que deveria ter calado e deixado acontecer...

Minhas palavras dormiram
preocupadas e em agonia
pelos poemas que não quis mais escrever.

Me sufocaram
a noite toda
para tomar nota dos pensamentos
tristes, tristes, tão tristes.

Minhas palavras ficaram
em silêncio me consumindo,
me pareceu absurdo qualquer
verso que eu pudesse expor.

E a dor que sinto, e o medo
e este poema tão sincero
que quer fugir dessa alma infeliz
sem expressão humana. Ou,
sem expressão de gozo pela vida
de zelo pelo amanhã, não
isso não.

Minhas palavras:
não sei ao certo o que é o certo
ou o que quero e não quero
tudo é dor
e nos meus pensamentos
o mundo inteiro se apavora com algo
que nem sequer existe:
o depois, o tempo, o futuro,
e se o presente já se faz tão obscuro;
as palavras, essas sim se magoaram
e a prova disso é o silêncio
e do silêncio os olhos abertos
não queriam (não querem) fechar.

Uma chance mais.
Não pude me dar, como não?
Outra chance?
Ponto de interrogação que se afirma
e morre, pássaro triste.

21 de novembro de 2015

Ich hasse weil ich nicht lieben kann

"Odeio porque não posso amar"
todas as palavras do dicionário
são doces mas são o contrário
recalcam as dores agudas do luar,

quasi-besoin, na margem do pesadelo
todos os demônios brincam de ciranda
e tocam harpa, flauta e violoncelo:
a minha alma sempre é a varanda.

Odeio porque não posso amar.
A neblina atormenta meu cemitério
e quando no espírito o mistério
a mente começa a dispersar.

Quando é a angústia que se perpetua
os rios se banham e aos poucos secam
a sede voraz que na poesia atua.

Odeio porque agora, não quero amar,
e já próximo o navio, não do cais
mas próximo do caos, belo porto.

E do inverno. Que inverno, amor?
Ich hasse weil ich nicht lieben kann,
verachte dich und frag mich warum du so bist.

20 de novembro de 2015

Desmaterializando a palavra IV

Na
teo
ria
na
prá
ti
ca
ra,
ou
não
ria
na
da
di
va
a
vi
da
foi
fei
-a
-ta
pa
ra
rir
pa
ra
ir
para
parar

19 de novembro de 2015

Desmaterializando a palavra III

a
mor
te
quer
a
mar
é
vem
ver
men
te
mo
que
a
mar
é
do
me
o



(algumas sílabas devem ser repetidas para a leitura ser interpretada da melhor forma que o leitor queira, ou da forma que ele possa e consiga entender)

18 de novembro de 2015

Haicais temporais II

Alma, meu outono,
chuva com tom
na janela, o sono.

Cai outro pingo
parado me molho
olho, e não ligo.

Vem logo o Sol
chatear, sustenir
qualquer bemol.

17 de novembro de 2015

Haicais temporais I

Chuva não molha
o térreo do prédio:
enterro o tédio.

¡Venga, Noche!
El día no, no
No-che.

16 de novembro de 2015

Sentido proibido II

Sentido, obrigatório e inevitável
não ter nenhum sentido,
antes eu tivesse tido
um querer mais alcançável.

Mas fui querer muito
sentir o sentido do intuito;
eis o sentido proibido:
não inibir a líbido.

15 de novembro de 2015

Sentido proibido I

Sentido proibido
libido.

Nem tudo
tem sentido,nem tudo é
sentido

ou devorado.
Pode ser que seja do bolo a cereja!

14 de novembro de 2015

Pantera!

E dá-lhe Botafogo de Ribeirão!
Campeão inquestionável da Série D do Brasileirão!!!

Utopia em que vivemos

Matar os outros
e depois se matar
ou
se matar
matando os outros,
lógica perversa
que foge da realidade
das leis de Merton
das leis aleijadas,

E
não é da paz que vem a guerra,
vem lá dos Unidos
da poesia estadounidense,
da poesia do país da obesidade
que se gaba de ser ridículo
e intrometido.

Depois, oferecem ajuda
oferecem-se para o sangue
oferecem-se para matar.

Perfume e Símbolo

Dona, é esse teu jeito
que quando me deito
me ponho a sonhar,

e as bromélias
e as orquídeas
sorriem para a rosa.

Dona, quanta prosa
te escrevo
sem que saiba,

e não me atrevo
a dizer quanto
desejo no verso
                caiba,

e no entanto
no entanto meu bem,
silenciamos a dança,

qualquer símbolo
perfume
e versos que não escrevo
ou versos não lidos
que sucumbem ao tempo
aos segundos.

13 de novembro de 2015

Eis que...

Das minhas palavras
surgiu o universo,
fui eu quem tudo criei
no primeiro dia
fiz tudo num só verso,
noutros só descansei;
por meio da poesia
por meio da solidão
por meio do eterno nada:
inventei a gnosia
e tanta coisa, rapaz,
por meio do palavrão,
eis o motivo de tanta cagada.

Foi num só verso
que se mostrou perverso
e não encontrei rima,
por isso o poema
é o que é
e nunca obra-prima.

Agora, canso da vida
e não encontro saída
senão com tudo acabar.

O verbo nunca foi divino
e desde menino
era a carne que interessava:
a palavra sempre foi, sem dúvida,
sem sombra, mera escrava.

12 de novembro de 2015

As penas e as pernas

fica apenas
as penas
da ideia,
depenado o sujeito
sem jeito
de dizer ou de calar.

fica somente
a semente
do ideal não dito,
tempo maldito
que anoitece
o poema.

fica o sonho
o sono
e o redemoinho
demônio
no meu caminho.

fica, será mesmo
que fica?
ou trupica
na palavra?

fica a noite
para não dormir
para escrever
conversar com o silêncio
embriagado
com vinho e solidão.

11 de novembro de 2015

La tonada cordobesa II

"Para ser cordobés basta con estirar la sílaba anterior a la del acento"

Seu ar de interior
sua graça e praças

e minha saudade se perpetua
desde
o La Cãnada
atravessando suas
águas dançantes
e seu famoso ¡O!
el patio Olmos.

A carne que aqui não tem
o ar que aqui me falta
o sossego das tuas estações
o excesso de pão
pão e mais pão.

Para não falar dos vinhos
e das pessoas.

Longe, 700 km do caos,
a que se denomina Buenos Aires
e não sei onde são bons.

“Hola Roberto! Buen dia!”
e que dia, que dia incrível.
”Dos media lunas y un cafe, si?".
Sim, sempre meu bem.

Com exceção do café, tudo é belo
tudo é poesia, na cidade eterna
de encanto e felicidade.

A Córdoba, um saudoso abraço
y que los cordobeses no se olviden a mi.

10 de novembro de 2015

Velocidade dispensável

O carro passa
a linha do horizonte
é logo ali    -------->

e cria asa:
que se desmonte
e caia
aqui
aqui
aqui!

9 de novembro de 2015

Precisão

Quanto
                   tempo
é preciso
para o
                                tempo
             ser preciso?

8 de novembro de 2015

No fim: SANGUE

um som esquisito:
o mosquito
ecoa o infinito...

vou bater palma:
e retirar
dele a alma...

e se não pegá-lo
logo agora
escutará o estalo


que não demora.

7 de novembro de 2015

Flor negra

menina
a
tua
sina
atua
na
minha;
coisa
fina
na
esquina
o
amor
caminha.

Flor
no
deserto
bela
rosa
ah, aquela, aquela, sim aquela
rosa
decerto
que
vai
na prosa, na prosa...

6 de novembro de 2015

Sorriso Sul

Tua alegria
causa alergia
nos que não
escutam
a canção,
e você baila
bem sorridente,
já não te
           cala
o caos em frente.

Pauso;


te admiro
bailarina no asfalto
voo alto
vou ao delírio,
e num só salto
atravesso o rio
Nilo

Tua alegria
magia
margeia no poema.
A que tanta beleza?
a solução no problema.

5 de novembro de 2015

La tonada cordobesa I

Una chiste que escuché en Cordoba:

Cómo sería de mala aquella suegra que cuando murió, le pusieron este epitafio:
- "Aquí descansa doña Juana Eleuteria Inchona. En casa descansamos todos".



Pintando verbos e pessoas

Uma pinta
          pinta na pele
depois de muito;
                Caravela de Colombo,
coisa extinta
                 seguir o intuito
e contar as pintas
que pintam
                                                por ai...

4 de novembro de 2015

Morra menos

Morra menos Contemple a manhã
e viva, corra!!!
Corpo são, mente sã
e não, não morra
[todos os dias]...

3 de novembro de 2015

2 de novembro de 2015

Desmaterializando a palavra II


F
        oi...
a-mor-a
primeira
vista,
espero ela
amadurecer
ou já devo comer?

amora, amora
vi também jabuticaba
mas sei que logo acaba:
devo come-la agora?


Observação: Não culpe o autor pelo seu pensamento...

1 de novembro de 2015

Desmaterializando a palavra

          V                                                                   

            ou        

              a

        cai    r


hai


 -vida na pa:

                                                     lavra cata      ...  vento