22 de junho de 2016
Texto e prosa desvalorizada
Quantas vezes é necessário apagar um texto
e escrevê-lo de novo, inteiramente,
para que assim, eu possa lê-lo e criticá-lo?
Ai se essa besteira de ditar poesias não for só coisa da adolescência...
não quero ser um desses velhos poetas, colecionadores
de vidas não vividas.
Talvez um Pablo Neruda, mas me enoja aquele charuto.
Talvez um Drummond, mas não carrego em mim o sentimento do mundo,
se possível fosse, abandonaria o meu.
Menos ainda um Mário Quintana
com essas poesias de uma vida
que mais parecem todas feitas em uma semana.
Caro leitor, não desprezo nesse lamento os poetas
mas poesia, coisa tola sempre foi, sempre será,
não mais se encanta mulheres com elas, como fazia o Seu Moraes,
não, elas hoje ridicularizam sentimentos, não fazem questão de disfarçar
que não querem mais amar.
E cá estou eu, falando de amor de novo.
E cá estou eu, folheando Borges, folheando Borges, folheando
silêncios vagarosos, pensamentos em espanhol
de uma saudade.
Quantas vezes é necessário apagar um texto
e ele permanece ali, insistente, querendo se escrever
ainda que sem o mínimo do meu desejo.
Poeta é só isso sim, é só instrumento para que as palavras
digam o desimportante, parecendo indispensável.
Mas em poesias, se rima o desinteresse do escritor
com, em geral, o desinteresse dos leitores.
Quando há leitores.
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