1 de junho de 2016
Retrato do ontem e do amanhã
Em mim, os atos frios e cotidianos da minha tola espécie,
não sou missionário de novidades, apenas emito o comunicado,
não caminho as cinco e meia da manhã nessa rua tão deserta e cheia
de demônios porque desejo, apenas caminho, pois tenho meus compromissos
fúteis, mas não posso me atrasar. Fúteis, mas não posso me atrasar. Repetitivos.
Não te dou bom dia por querer, dou bom dia, franzindo até a inexistente alma
ao passar apressadamente sob teus olhos de viés e lábios tão velhos
soando, desesperadamente para não fugir do nosso maldito contrato social,
"bom dia". Você sabe que não está bom, você sabe que ainda é madrugada para nós.
Em mim, toda esquizofrenia da nossa fiel normalidade,
os detalhes e retalhos de uma vida como é, de velhice mental precoce.
Não sou meu ideais, até porque ideal não se pode ser.
Não sou meus verbos e minhas ações, sou o sepulcral silêncio contido
no oco do sentido,
naquela indefinição constante entre a palavra dita e a palavra entendida.
E até que enfim escrevo algo que me agrade
no meio de uma fria e pacata tarde,
que zela pela solidão, sem holofotes, sem alardes.
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