12 de novembro de 2016
Discurso inútil dos desejos
Nenhum poema vale à pena ser escrito
quando a intenção do autor é tornar
o verso cada vez mais narcísico, bonito,
quando há necessidade de cravar
com palavras, o discurso inútil dos desejos.
Nenhuma poesia é para ser elegante;
quando se quer destruir a diferença
entre uma pedra qualquer e um diamante.
Quando se quer acabar com a crença
na rima, na prosa, nas letras todas.
Nenhum discurso é livre.
A liberdade é o discurso do cego.
E o efeito de suas palavras, a religião,
com que convence quem dormente
vive.
Todo poema corrompe seu criador
bem como todo silêncio se espalha,
ainda que este poema não valha
um só segundo de nossa atenção:
para o próprio criador
é prosa inútil, reles, falha.
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