20 de novembro de 2016

Poema sem codinome


Havia desejo nos seus movimentos, e certo mistério.
Mas não apenas no sentido carnal, pois cactos
até abrirem para outros olhos sua bela flor
insistem em conhecer tudo ao redor, nos mínimos detalhes
(oh, de detalhes é que se vive, de detalhes é que se morre, lentamente).

Havia medo. Medo, e ela sabe disso, como ninguém.
Suas palavras, ainda que de terna doçura, expressavam
certa angústia, certo arrepio ao mais leve toque.

Sua boca, carnuda, e suas gírias pouco usuais, apenas
faziam com que a noite ganhasse em estranheza, em anormalidade.
Afinal, os normais são tão secos, tão sem cor, tão nus de graça.
Oh sim, não poderia deixar de repetir, havia certo mistério.
Até mesmo para escrever-te versos, bela dama, necessito de critério.
Jamais poema se escreveria, se não fosse a dúvida e o que não se sabe,
ou o que não se diz, e que em silêncio, se entende.

Mas sabes, não sei se tão bem, ainda que isto vivas,
que a solidão és tua melhor companheira,
e que teus melhores sonhos e instantes são com teus silêncios.
Sei

que procuras em outro alguém
não o que outros procuram.
Sei

que procuras silêncio, para que entendas
tudo.
E olhares, para que se olvide
tudo o mais.
Sei

que queres na presença alheia, a ausência dos teus problemas
por isso vazio me faço, como sou, para que ouças
com certo riso no canto de teus lábios
o silêncio composto equalizado entre as paredes de teu quarto
 Sabes

que querendo, aqui estou,
verso aleatório nesse mundo contraditório.
Sei

e certo mistério.

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