27 de outubro de 2017

dia de outubro do passado



Ela sorri, como se não fizesse sentido o que acabará de escutar.
Sorri de maneira vazia, sorri com o vazio, sorri com tranquilidade.
Seu sorriso é bonito, não é falso, mas é falsidade.
Até a respiração que tem é pura falsidade, inadmissível.
Mas continua sorrindo: se fosse meu sorriso, já estava cinza.
Não é, então ela sorri.
E sorri por não ter entendido. Não a frase. A vida.
Seu sorriso é puerilidade, é nonsense. É apenas um sorriso.
E não pode ser, não se pode ser.
Um sorriso tem que ser mais que o ato de sorrir.
Voltemos ao fato: ela sorri.
Quem lê esse poema se pergunta incrédulo: Como?
É meu caro leitor, minha cara leitora, ela simplesmente sorri.
E a televisão está ligada, nove mortes.
E o celular a todo momento lhe dispara mensagens para sorrir.  
Ela só sorri.

Desse poema, ela não sorri
provável que nunca existiu
naquele rosto que é sorriso

talvez eu veja sorriso
onde só existe antidepressivo
e eu acho que aquilo
é estar vivo

enquanto habilmente
não sei se com sabedoria da própria ignorância
não sei se com ótima perspicácia de que sorrir convence mais que argumento
mas ela sorri.

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