10 de agosto de 2016
Útil-idade
Não tenho produzido nada útil;
meu comportamento carregado de sonolência,
meu olhar desinteressado
mediante a coisas que os outros julgam
indispensáveis, os debates políticos
e tantas coisas mais deixam-me
nada mais nada menos que cansado.
Olho ao lado, após quatro horas de descanso,
(se é que posso chamar quatro horas de sono de "descanso")
a cor vibrante do Sol deixa o olhar emburrecido,
e isso porque o Sol ainda está oculto pela Lua.
Olho no espelho, vejo a cara de um ermitão, velho e acabado,
ele me encara, não devolvo o olhar,
deixemos nossos demônios em paz,
ao menos eles podem tê-la ainda.
Não tenho produzido nada útil;
tenho agido bem, sido menos pessimista,
criticado um pouco menos, tomado meus cafés
amargos como esse dia, esse cotidiano,
tenho ainda saído com algumas mulheres
trabalhado tanto quanto estudo, mas
é tudo isso, tudo, exatamente o que me deixa vivo
é exatamente o que parece me matar silenciosamente.
Não tenho... Tenho sim, mas sem o drama
viveria o poeta de quê? A escrita, o que nos resta,
o que nos faz suportar a nós mesmos, insuportáveis.
Ai de nós, ai de nós se buscarmos somente sermos úteis.
Não tenho produzido nada útil
pois não há o que me obrigue a ser de aço,
e a banalidade faz parte do meu lado religioso.
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