31 de agosto de 2016

PsicoPoema III

I-

Poesia, tanto digo, tanto sinto,
confio-lhe meus segredos
vagos e não tão secretos.

Poesia, enquanto faço, habito,
sem que o oculto me oculte
sem que a rima seja
maior que o sentido,
e sem que a estrutura
te limite ou imite outras poesias.

De onde vens?

Queria eu ser poeta
espontâneo e acreditar
que vens
de um além
ou de outros "aléns"
(se é que assim se diz)

Mas nasces, condenada.
E não nasces da mente
e não nasces do nada.
Nasces sim de um ato
que te determina

nesta minha poesia
(tu és o prazer)
mas já nasces, condicio-nada.


II-

Em ti, pouco de místico,
diferente do que escritores
dizem sobre teu nascimento.
Tu vens, desnuda do lírico,
e te lapido no pensamento.
Ainda que pouco se explique
sei que não surges
da alma, do espírito, do vento.

E anda-te nua
e siga-te crua
de ornamentos e apetrechos,
pois se mudares,
se resolveres criar moda
ou quem sabe a roda
inventar,
só para que pareças mais bela
só para que, ocultando
o que carece do oculto,
venhas a receber
mais seguidores e culto,
retiro meu nome de ti
e te faço criação
de artista desconhecido

ou quem sabe poema
morto, torto, na noite
esquecido.


III-

(Haicais)

Poesia, que nasce,
só poderia nascer
se não há o "quase".

Chuva de pensamento:
o psicologismo e o cinismo,
fazem nascer meu lamento.






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