30 de abril de 2017

Reforma trabalhista, coerção, análise do comportamento e coisas mais


"A coerção não somente gerará e sustentará diferentes tipos de fuga, mas também fará com que nos esquivemos"
- Murray Sidman, no livro Coerção e Suas implicações, pg. 136

As constantes problemáticas enfrentadas no nosso País, me fazem refletir um pouco a respeito de como nosso governo se utiliza excessivamente da coerção para conseguir suas metas. Não é de hoje que as polêmicas envolvendo questões de aposentadoria e direitos trabalhistas estão em pauta, menos ainda os desvios de bilhões de reais por parte dos que deveriam proteger e que foram eleitos para construir normas e leis que pudessem melhorar a qualidade de vida da população.
Sim, nosso governo é caótico. Não há uma adequada administração, não há aplicação real em educação e lazer, não há. Esse texto objetiva ir um pouco além das picuinhas entre direita e esquerda. Já dizia o músico Tom Zé, "meu coração fundamentalista, pede socorro aos intelectuais, pois a diferença entre esquerda e direita, já foi muito claro, hoje não é mais". Quem se limita a questionar partidos, definir lados, e xingar o voto alheio, não entendeu, definitivamente, o mínimo dos problemas que o país tem enfrentado. O problema não é uma única pessoa, algo que tem sido constante nos termos midiáticos. A questão não é Dilma, Lula, Temer. Esses são apenas marionetes de um jogo político e econômico, onde os interesses dos Bancos e Empresas estão muito acima de qualquer outro. Todo deputado, todo senador, e não vejo porque abrir exceções, representa, no seu discurso, o investimento de determinada empresa que comprou seu cargo. O que quero dizer com isso? Que as empresas investem nos políticos, para que o marketing desses seja bem-sucedido, e nós, peças de um jogo de xadrez, vamos lá, votamos, e voltamos para nossas casas, acompanhamos a apuração de votos de eleições já definidas. Aí então, quando surgem projetos de leis, os políticos votam, mas de certa forma, quem vota é a empresa, os bancos, os donos do capital. Mas isso não é novidade, aliás, é amplamente previsível, conforme apurado pelo jornal Estadão, em 2014, o gasto com campanhas políticas bateram recorde na história brasileira, chegando a 5 bilhões. A revista Congresso em Foco, aponta um levantamento sobre aposentadoria parlamentar, o Instituto de Previdência dos Congressistas, uma espécie de organização que paga aposentadoria para políticos que trabalharam mais de oito anos no cargo, já chegou ao valor gasto de 2 bilhões, nesse século.
Quanto a modificações na constituição e outras medidas, não vemos problema nisso, desde que não nos afete. E tendo em vista que a maioria dos projetos e acordos afetam grupos minoritários ou já desfavorecidos, achamos que tudo está "muito bem, obrigado", e é até compreensível. Afinal, para que a população exerça o contracontrole, ou seja, para que vá contra os comportamentos dos governantes, é necessário algo muito problemático, algo que fira não só um pequeno contingente de pessoas, mas toda uma classe. Além de conhecimento dos próprios direitos. Tendo em vista o baixo repertório adquirido nas escolas, e em outros núcleos de aprendizagem, é característico que a população não adote uma postura de questionamento com mudanças significativas.
Estando a reforma trabalhista em pauta, as coisas começam a mudar um pouco, o interesse pelo tema é de grande maioria, pois nos afeta, imensamente. Principalmente o grande contingente populacional brasileiro, a classe média.
E o que a Análise do Comportamento tem com isso? Bem, se mais pessoas tivessem acesso e fossem reforçadas pelo conhecimento, pelo estudo, e abandonassem o papinho de liberdade, "de agir por querer", talvez algo estivesse um pouco diferente. Não que a Análise do Comportamento ofereça todas as respostas. Mas o Behaviorismo, enquanto filosofia baseada na postura Determinista, não será usado para colocar culpa em alguém ou acusar quem está certo ou errado, se uma medida é boa ou não.
O importante é conhecer as variáveis, saber manipulá-las, prever comportamentos, e controlá-los. No caso da população frente as medidas governamentais, quando prejudiciais, exercer o contracontrole, tendo autoconhecimento e conhecimento do que está em pauta.
Um povo que conhece seus direitos e deveres, nada mais é do que um povo que sabe discriminar variáveis, pode argumentar e lutar pelo bem comum, e que não se limita a desprezar projetos de leis com base somente no que afetará uma ou outra pessoa.
Diversos questionamentos podem e devem ser feitos as medidas adotadas pelo governo em questão. A primeira delas é a de que todas as medidas importantes, que alteram drasticamente as leis em rigor, foram votadas como medidas provisórias ou como lei em regime de urgência, o que impede que a população possa ter acesso ao que está sendo modificado, e por consequência, impede movimentos contra essas mudanças. Para não deixar em branco, alguns projetos que foram votados rapidamente, no escuro: Emenda Constitucional n° 95, que congela por vinte anos os gastos públicos, incluindo recursos para a educação e saúde, o corte de repasse para a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), a extinção do ministério do Desenvolvimento Agrário, além da própria reforma trabalhista, indo de acordo ao que foi lido na matéria “A desconstituição ética, moral, cultural e institucional do Estado”, no Le Monde Diplomatique.
Os líderes e demais membros dos governos brasileiros, ao menos das duas últimas décadas, não sabem agir de forma ponderada. Vale citar um trecho do livro O Príncipe, de Maquiavel, dizendo que se “deve estimular seus cidadãos para que estes possam tranquilamente exercer suas atividades, tanto no comércio quanto na agricultura, de sorte que o lavrador embeleça a sua propriedade sem o temor de vê-la ser-lhe confiscada, e que o negociante instaure seu comércio sem sentir-se ameaçado pelos impostos” (p. 130-131).
Quando leis são usadas para o benefício de poucos em detrimento dos esforços da maioria, e ainda mais quando se retira direitos já conquistados, o governo não pode esperar algo além do contracontrole. Ainda usando do livro de Maquiavel, podemos citar a relação de uso da força, “devemos saber que existem dois modos de combater: um, com as leis; o outro, com a força. Porém, como o primeiro, muitas vezes, se mostra insuficiente, impõe-se um recurso ao segundo” (pg. 99). É nítido o uso da força pelo Governo. Nas diversas manifestações que ocorreram nos últimos dois anos, o uso de poder militar contra manifestantes, e o apelo ao discurso da intolerância, foi a prática comportamental sustentada pelos líderes. É óbvio que isso, a longo prazo, é um tiro no próprio pé. Conforme Murray Sidman, no livro Coerção e suas implicações, “dentro de uma comunidade, fortalecer a força policial apenas intensifica o conflito” (pg. 236), gerando maior desconfiança dos eleitores, indivíduos de direitos, perante sua própria instituição administradora.
É de praxe o conhecimento de que, na maioria dos governos dos países que compõem a América do Sul, a prática governamental é de caráter punitivo. Ou seja, não se dispõe contingências reforçadoras para os indivíduos que agem dentro da lei, que auxiliam no desenvolvimento da nação, apenas se pune o comportamento do transgressor, com privação de liberdade ou com estimulações aversivas, como multas, penas alternativas, etc.
Não é que se dispõe de poucos recursos para prever os comportamentos de infração, mas que não se faz nada a respeito de possibilitar que essas pessoas/grupos possam desenvolver outros repertórios comportamentais, algo que reforçadores educacionais e práticas esportivas poderiam beneficiar. A prevenção só é possível com a previsão das variáveis que levam os cidadãos a agirem contra a lei, e o controle de medidas alternativas a própria punição. Mas, como não é o caso do Brasil, as coisas por aqui funcionam na base da coerção. Se pune o indivíduo, e o julgamento crítico da sociedade quanto ao conceito de justiça se baseia no “agiu porque quis”. Conforme matéria da revista Carta Capital, “o País é o segundo que mais prendeu em 15 anos, mas continua sendo recordista de homicídios”, o que destaca a ineficácia de medidas punitivas.
Skinner, no livro Ciência e Comportamento Humano destaca que “um código (lei) sustenta o comportamento verbal que preenche as lacunas entre aspectos de punição e o comportamento de outros” (pg. 192). Tendo em vista a argumentação, a lei só seria eficaz se outras medidas fossem programadas, como educação de qualidade, áreas de lazer e tempo para lazer, hospitais e medidas em saúde, projetos culturais, etc. Como se sabe que pouco desses fatores são dispostos no ambiente social, e quando são, segregam a população detentora de bens da que pouco possui, não é de se esperar outra coisa que não a ineficiência das leis, do abuso de autoridade, e do desconhecimento e implicações ruins de medidas tomadas sem consulta à população, como é o caso da Reforma Trabalhista.
Conforme Sidman, ainda no livro já citado, “somente alterando as contingências, as interações entre conduta e ambiente por meio das quais as leis comportamentais operam, começaremos a ver a cooperação substituir o contracontrole” (p. 237).
O trabalhador possui recursos para ir contra a reforma trabalhista, seja através da greve, da luta sindical, das mobilizações, seja por meio do diálogo e dos debates sobre esses assuntos. Algumas das partes mais absurdas a que pude ler na proposta de reforma trabalhista (o link da proposta na íntegra está nas referências) estão inclusas as modificações do tempo de trabalho para aposentadoria, os benefícios que não serão retirados da classe política, as questões de teletrabalho, o aumento da carga máxima de serviço diário, e o principal, que considero, a questão de as “normas” das empresas estarem acima da própria constituição, ou seja, a reforma trabalhista acaba sendo um aniquilamento de boa parte dos direitos já estabelecidos, além de que, provavelmente, gerarão danos na sociedade.
Levando em conta que nada até o presente momento foi feito em prol da sociedade, como um todo, nada me faz pensar que o dinheiro economizado com a aposentadoria dos brasileiros seja usado para aplicação em áreas fundamentais, como saúde, educação, lazer e redução de taxas de juros.
Outra observação, é que qualquer cidadão semi-letrado consegue entender que a expectativa média de vida do homem brasileiro, estando em 71,9 anos, e a aposentadoria integral sendo possível apenas para aqueles que terão 70 anos, é nítido que os que dispõem de menores benefícios de saúde e lazer, não atingirão a aposentadoria e, trabalharão a vida inteira pagando para o governo algo que não terá retorno. Sendo por demais otimista, podemos prever que 50% da população brasileira viverá para receber a digna aposentadoria. Ou seja, sobrará verba no caixa governamental em relação a esse quesito. O que será feito com a verba? Será utilizada para cobrir os desvios de caixa, tão recorrentes, além de pagar juros da dívida pública, que só aumentam por péssima administração dos recursos.
Para fechar, vale citar um trecho do poema Verão, de Ferreira Gullar, “e a luta de resistência se trava em todo lugar: por cima dos edifícios, por sobre as águas do mar”, e complementar com a afirmativa de Leandro Konder, no livro Marxismo e Alienação, “a totalidade da economia capitalista se torna ininteligível até para os seus beneficiários” (p. 137).

Referências utilizadas:

CAMARA DOS DEPUTADOS. Reforma Trabalhista. Disponível em: <www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2122076 (lei de reforma trabalhista) >. Acesso em: 29 abr. 2017;
CARTA CAPITAL. Se cadeia resolvesse. Disponível em: <https://www.cartacapital.com.br/revista/838/se-cadeia-resolvesse-4312.html>. Acesso em: 29 abr. 2017;
CONGRESSO EM FOCO. Caixa preta da aposentadoria política. Disponível em: <http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/abrimos-a-caixa-preta-da-aposentadoria-dos-politicos/>. Acesso em: 30 abr. 2017;
DIPLOMATIQUE. Desconstituição do estado. Disponível em: <http://diplomatique.org.br/a-desconstituicao-etica-moral-cultural-e-institucional-do-estado/>. Acesso em: 30 abr. 2017;
ESTADAO. Campanhas políticas gastaram 5 bilhões em 2014. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,campanhas-gastaram-r-5-bilhoes-em-2014-imp-,1600362>. Acesso em: 30 abr. 2017;
IBGE. Tábua completa de mortalidade para o Brasil – 201 5. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Tabuas_Completas_de_Mortalidade/Tabuas_Completas_de_Mortalidade_2015/tabua_de_mortalidade_analise.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2017;
KONDER, Leandro. Marxismo e Ideologia: Contribuição para um estudo do conceito marxista de alienação. 2 ed. SP: Editora expressão popular, 2009. 131 p.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. 1 ed. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002. 99-130-131 p.;
SIDMAN, Murray. Coerção e suas Implicações. São Paulo: Editora Livro Pleno, 2009. p. 236-237;
SKINNER, Frederic Burrhus. Ciência e comportamento humano: Science and human behavior. 2 ed. SP: Edart São Paulo, 1971. p. 192.


(texto de origem própria, elaborado para o blog de Análise do Comportamento que colaboro, Blog de Análise do Comportamento )

28 de abril de 2017

Reforma poética, que poesia também é trabalho


 Re-forma trabalhista
(a) tirem apenas
meu nome da lista

coisa já prevista
projeto pro jeito
do contra-controle
quem sabe assim

de pedras
rosas brotem

ou, revoltem


(só não votem
que aí é hipocrisia
e não poesia)

23 de abril de 2017

Coerção, dinamites, carne e osso


Ser livre na sociedade? Esse trem tão coercitivo?
Tem jeito não, coisa louca, cada verso composto
é uma dinamite, tem que estar morto e vivo,
acordar as cinco, trocar de pele, máscara, rosto.

Como é que se diz o que tem que ser dito
se o silêncio é ofensa e o verbo um insulto
se já julgam estranho, asqueroso, esquisito,
que o sujeito é aquilo, que o sujeito é inculto?

Dizer de liberdade? Tolice.
No país das maravilhas só Alice.
Aqui é pedra sobre pedra, selva com muro
claridade demais nesse céu ainda escuro.

Ninguém dorme, isso não,
trabalha desde cedo o Sr. Cidadão
que nem nome no poema tem.

Mas se sabe que falar é bobagem
que escrever poesia é arte do passado
que olhar nos olhos é viagem
que o negócio é se comunicar pelo celular
(mesmo estando ao lado?) Sim.

Ser livre, mas me diga, o que é a liberdade?
Isso é só pra gente sentir culpa?
Só pra justificar ignorância de algum superior?
Ou quem sabe pra manter a desigualdade
vai dizer que o Sol nasce pra todos?
que existe a tal meritocracia, democracia e cracia não sei mais o que?

Vê se acorda
vê, se a corda
já está no pescoço

daquele
daquilo
pois carne pra alguns tem
e viver só de osso, é osso.

20 de abril de 2017

Antes de falar


Antes de falar, escreva
se atreva a não se atrever
se atreva a antecipar
aquilo que pode ocorrer.

Antes de falar, respire
se o outro estressado
estiver
não "se vira", se vire
para um canto de sossego.

Antes de falar, note
se o que tu disser
pode causar dor
ou até, causar morte.

Antes de falar, possibilite
a fazer diferente
tudo o que até agora existe,
faça novo, se preciso, de novo.

Antes de falar, respire
conte um, dois, três,
quem sabe assim
possa mudar o fim
mais outra vez.

Antes de falar
falar de antes
falar do depois
falar do agora
veja se o rancor
em ti, mora.

Do contrário,
se tudo em paz,
veja se necessário:
se sim, diga,
se não, jamais.

19 de abril de 2017

Um poema-ensaio quase psicológico


O sujeito não tem conceito
conceito ele é, é maneira
é volátil, in constante movimento
dentro? Não, é coisa
ou seria apenas substância?
Quem sabe o sujeito
seja apenas sujeito à redundância...

filosófica?
Ou só fica
filo-sofista?

O sujeito é
enquanto
talvez até
durante

pode ser que seja métrica
pode ser que.
Mas pode ser quando

nunca, se não quem?

O sujeito
é
o conceito

que quiser?

Ou apenas papel limitante
ou apenas um papel militante?

Ah! Quem se sujeita a estudar o sujeito?
esse, sem dúvida, sujeito a não ter jeito
sem dúvida, não vai além

(Dito isso, sujeito é o comportamento que tem).

16 de abril de 2017

psicoanálisis y el aburrimiento



Os olhos, vidrados no LED, na tela antirreflexo
na tela anti reflexão.
Os olhos, madrugados em versos universitários
em criações fantasiosas
de uma tal psicanálise, que descreve com precisão
a guerra dos espíritos
metafísicos e dualistas.

CONCEITOS.

Pesam minha mente
e ela nem existe.


15 de abril de 2017

O insensível e desprezível poema de um crítico de crítica, Ou, Nostalgia do que não ocorreu


Daí que quando tu escreve já não sabe pra quê
já nem sabe pra onde, muito menos pra quem
e desistindo, vai morrendo as palavras, e até o idioma,
e apaga verso ali, e apaga verso aqui, depois
já deprimido, quer fazer verso remido
copiar d'outro poeta, renovar a coisa velha
reler prosa antiga, dos anos dourados,
e pensando e pensando e pensando
que renovar a cópia não é pecado
muito menos plágio, se ninguém perceber.


Daí que quando as coisas estão bem, tu esquece
do poema, do problema, do dilema, do
soneto, do haicai, da terceira guerra mundial;
e não tem erro nisso não, poema bom vem de verso
deprimido, insensível, ou cansado,
ou quem sabe quando tu está parado
sobra tempo pra discutir sobre o cheiro do café
sobre assuntos filosóficos, sobre sentimento.

Daí que quando tu termina, todo contente com o feito,
olha bem, olha de novo, e então acha perfeito,
o transtorno vem depois, quando já relido, acha defeito,
e retira som dali, retira som do lado, e o verso depenado
fica todo condenado, sem sentido, sem contexto
mas tu divulga mesmo assim, e no fim:

vem sujeito requintado, ler conversa desfiada,
lê, relê, e não entende é nada
mas por vergonha ou por já estar condicionado
joga a crítica sobre a mesa:

- "que magnífico, que beleza"
e chama de pós-moderno
aquele lixo rascunhado no caderno.

13 de abril de 2017

Já é um clássico!



QUE PUTA SOM!



No link, uma música do álbum "Melhor do que Parece", da banda O Terno!
Só clicar no nome da música e ouvir esse som!

Segue a letra:

Me desculpe, meu amor
Mas não posso te perdoar
Meu coração é grande até demais
Mas o que você me fez, não se faz

Ai se eu pudesse voltar no passado
Como esquecer o que não me convêm?
Apaixonado, eu não sabia me zangar com você
Hoje não sei como amar outra vez

Me desculpe, meu amor
Mas não posso te perdoar
Meu coração é grande até demais
Mas o que você me fez, não se faz

Ai se eu pudesse voltar no passado
Como esquecer o que não me convêm?
Apaixonado, eu não sabia me zangar com você
Hoje não sei como amar outra vez

E olhando nos olhos, ela me pediu perdão
Eu quis lhe perdoar, mas meu orgulho disse não
E hoje, arrependido, caminho na solidão
E ela está por ai, de mãos dadas com outras mãos

Me desculpe, meu amor
Mas não posso te perdoar
Meu coração é grande até demais
Mas o que você me fez, não se faz

9 de abril de 2017

A revolta dos Dândis (III)


Poema de criação própria, baseado na música Guardas da Fronteira, de Humberto Gessinger e Maltz:


Não era para ser assim, ele pensava, enquanto sua televisão
choramingava afeto, em um canal qualquer para qualquer pessoa.
Nos últimos anos se perguntava de maneira insistente
qual seria a razão do mundo viver assim, sempre em guerra?
Suas filosofias, beirando ao irracionalismo, haviam se modificado
passara a questionar o que via, e então, deixou de ver boa parte.
O piloto automático havia tomado seu lugar, mas de uns tempos pra cá
o comando não lhe foi tirado.

Já não perdia tempo com jornais, tampouco com novelas
não tinha saco para aturar propagandas, vivia com o básico.
De tecnologia, somente o necessário para poder se ter identidade
no estupro midiático dos dias atuais. Um meio de se estudar,
de trabalhar as vezes, de ler e perder algum tempo com blogs.

Não era para ser assim, ele pensava, mas já não ousava
dizer qualquer sinônimo da palavra "liberdade".
Não havia isso. Pura hipocrisia de quem segue com olhos vendados
vendidos, fechados. Liberdade era irracionalidade. Era balela
(anti) filosófica. Ninguém faz algo por simplesmente querer fazer.
Não mais se via na obrigação de culpar ou de reconhecer mérito.

Simplesmente as coisas aconteciam porque aconteciam.
Qualquer formulação hipotética contrariava a observação dos fatos.
"É assim que o mundo que nos cerca, nos cerca muito bem", escutava
numa canção antiga.
Pois bem, ele pensava, não era para ser assim, mas a única forma
de deixar que assim fosse, era reconhecer que assim era.
E por quê? Pensava.

Navios de guerra se aproximavam um do outro, países em autodestruição.
É fácil apertar o botão de "tocar o foda-se" quando as consequências
não recaem sobre a própria pele, pensava.
São uns vermes, dizia.

O noticiário lhe era tedioso. Não era necessário vê-los para saber
que o mundo acordaria em pura desgraça, mais uma vez.
Foi então que atirou sua TV pela janela.

Após uma semana, reconheceu que até os Guardas da Fronteira,
os donos do mundo, como se diz por aí, eram cegos.
Sim, por quê caralhos agiam assim? Destruir, destruir, destruir, para lucrar.
Não fazia o menor sentido.

Os guardas da fronteira eram cegos, repetia.
Os guardas da fronteira somos nós mesmos.
Que me importa a política? que me importa
o me importar? que me importa a moral?
Que me importa a religião? As bombas que caem
em cidades fantasmas. As bombas que caem
em cidades cheias de gente, futuras cidades fantasmas?

O pior é que se importava, e se sentia impotente.
Sabia da inexistência de qualquer divindade, negava-a ao menos.
Mas sabia da existência de uma afirmação:
quando o homem tenta brincar de deus, coisa boa
não há de sair.

Mas que culpa tinham?
"eles não sabem o que fazem"
já dizia um judeu a tanto tempo atrás,
"eles não sabem o que fazem".

Talvez não saibam, talvez até saibam
só não sabem como parar.
E como diz a canção
"E é assim que eles fazem
e fazem muito bem".

Destruir, destruir, destruir.

Repetia.
Resolveu se desligar disso tudo por um tempo
ligou seu som, tocando Tom Zé,
e encarou o espelho, que parecia não refletir
a realidade.

Desde aquele dia - Humberto Gessinger

     
     Desde aquele dia é uma canção do álbum A revolta dos Dândis, da banda Engenheiros do Hawaíi, quem me conhece, sabe do meu fanatismo pelo conjunto. Desde então, Humberto Gessinger tem seguido carreira solo, com alguns projetos, como o Pouca Vogal, com Duca Leindecker.
Depois de 30 anos do álbum a Revolta dos Dândis, Humberto resolveu tocá-lo na integra e... do caralho!
Além de ótimo músico, tocando doze instrumentos, o cara é um puta compositor. E esse não é dos melhores álbuns, tem muitos melhores. Meu favorito sempre foi o que menos fez sucesso, de nome "GLM - Gessinger, Lickts & Maltz", de 1992, com a sensacionais músicas "Pampa no Walkman" e "No inverno fica tarde mais cedo".

Só gostaria de expor duas canções que ficaram perfeitas na regravação, ainda que faça falta o trio original.

São elas, Guardas da Fronteira e Desde aquele Dia!

Algumas frases dessas músicas são intrigantes.

"Acontece que eu não tenho escolha, por isso mesmo é que eu sou livre", logo em seguida, criticando a fenomenologia (felizmente), diz "não sou eu o mentiroso, foi Sartre quem escreveu o livro". O sarcasmo sempre é válido, até em música com cunho filosófico.

E Desde aquele dia deixo na íntegra:

"Desd'aquele dia
Nada me sacia
Minha vida tá vazia
Desd'aquele dia
Parece que foi ontem
Parece que chovia
Um rosto apareceu
(Uma heroína)
O rosto era o seu
(Seu rosto de menina)
Parece que foi ontem
Parece que chovia

Desd'aquele dia
Minhas noites são iguais
Se eu não vou à luta
Eu não tenho paz
Se eu não faço guerra
Eu não tenho mais paz
Não aguento mais
Um dia mais, um dia a menos
São fatais
Pra quem tem sonhos pequenos
Sonhos tão pequenos
Que nunca têm fim

Eu só queria saber
O que você foi fazer no meu caminho
Eu não consigo entender
Não consigo mais viver sozinho"



O show que ocorreu essas semanas atrás, é só clicar aqui

Talvez ninguém leia essa publicação, mas isso não é novidade. 



Nu vens





Nuvens, se aproximando da cidade
talvez até, quem sabe, uma tempestade.

Nuvens, fazendo cair sobre terra
todo medo que aqui se encerra.

Nuvens, prontas para desabar no barraco
no meu eu, nesse inútil palco.

Nuvens, e trovões, o céu todo cinza
meu sorriso esconde um ser ranzinza.

Nuvens, vens ver, o fim do universo
ou venha ver, apenas, o fim do verso.



5 de abril de 2017

Sarcasmos



Sarcasmos; sempre eles,
só os que partilham
dos preconceitos necessários
dos vícios de linguagem
dos cansaços rotineiros,

Entenderão, talvez, do que se trata.
Os outros, tomarão como desprezo
ou ainda, não reconhecerão o termo,
outros mais, se sentirão contentes
por achar que de piada se trata.

Nada disso. O sarcasmo
é o idioma dos que cansaram
de repetir incansavelmente o hino.
Que não batem no peito e despejam
ideias que ninguém quer escutar.

Sarcasmo.
O deus
do cotidiano.

2 de abril de 2017

Uma virtude?


A realidade como sendo a balada dos mortos-vivos
O obscuro sendo, constantemente, adorado pelos curiosos.
Paulo Coelho nos dizia nos seus livros
Mentira, nunca li Paulo Coelho (já tentei), não me dou bem
com seres que gostam de ser supersticiosos.

A realidade como sendo a balada dos insensatos.

A realidade não é um evento psíquico, não há margem para relativismo.
A realidade é o evento, em sua própria função, nada mais.
Pra quê perder tanto tempo com filosofias banais?

A realidade é essa mesmo,
qualquer comentário
ao desejo, à liberdade
não passa de imaginário
para continuar
na ignorância.

Essa última
bênção, talvez.

A adoração ao desconhecido
não deixa de ser curiosa.
Por vezes, assombrosa.

1 de abril de 2017

Poema urbano, ou, a história do maracujá

 (Alerta: poesia ruim, sem sentido)

Aí, tu compra um quilo de maracujá.

Ai, desse quilo, tu retira o líquido,
já na vontade de tomar um suco dus bons.

Ai, desse líquido, depois de bater no liquidificador
tu tira a semente.

Ai tu se pergunta "porra, o que faço com essa semente?"
ai tu desiste, tu joga na terra,
já sabendo que ali não vai nascer maracujá
já vai é nascer capim, no solo fértil.

Ai, desse líquido, concentrado: tu e o suco
tu observa

e fica ali, só observando,
naquele insight estranho

"porra, de um quilo de maracujá
sobra só um mísero copo, concentrado,
que raio".

Ai vem sujeito sorrindo
abre a geladeira, e vê que tem na jarra de um litro
algo em torno de 200 ml de suco de maracujá
que tu deixou ali pra gelar, pra tomar concentrado: tu e o suco.

Ai sujeito, aproveitando que ninguém tá vendo
taca água
taca açúcar
taca gelo

e te oferece suco de maracujá!

"Pããããããta que o pariu!!!!"
como diz um companheiro aí

Pããããããta que o pariu!!!!

e da história do suco de maracujá
vem a insônia
de saber que todo esse processo
que poderia terminar
na apreciação de um copo concentrado
de suco de maracujá, sem açúcar, sem água,

termina com a felicidade alheia


aí tu pega uma cerveja, que está gelada,
dá uma relaxada, e vai jogar xadrez.

Amém.