Poeta
de gaveta
é
cheio de coisa e pontos:
os
versos nem estão escritos
mas
nos dedos estão prontos,
cria
prosa, rosa e moda,
mundo
que ao redor molda,
poeta
de gaveta tem pouco chão,
vive
com amor e muito carinho,
ama,
não quer estar sozinho
nos
delírios da própria imaginação.
Poeta
de gaveta não pensa,
puramente
o puro condensa,
mesmo
que densa a noite.
É
mais poeta vivo que escrito,
dizem
que o silêncio é seu grito
mas
calar só se faz preciso com outro olhar.
Visto
que poeta de gaveta não tem fama,
escreve
o anonimato para quem ama
e o
leva para outros universos.
Poeta
de gaveta tem dia e rima ruim
mas
sua perspectiva não é assim,
tão,
tão, tão baixa.
É
astucioso, pensa alto
e
num louco salto
tudo
se encaixa.
Poeta
de gaveta
no
fundo quer ser poente,
na
noite se deita
livre
da própria mente,
que
livre de si mesmo escreve,
longe
de cacto,
e
pensa em ser sempre de gaveta.