31 de julho de 2015

Ruminando haikais e uma poesia

Não minto
já menti demais
já não sinto mais
sou sucinto,
escrevo breve
estou de greve
de palavras.

quem se atreve

a dizer para que

dizer serve?


Sou conciso
carrego feliz
meu pouco riso

Sou aquilo:
água que transborda
a borda do Nilo


30 de julho de 2015

Como quase

Como quase tudo que se espera
do contrário sempre se torna,
a água fria que na pele dilacera
logo logo queda-se morna,
não se pode viver pensando
se haverá outra hora, outro dia,
não se deve pensar quando
mas sim viver em estado de poesia,
quando chegar a hora
simplesmente, chegará,
pode ser que ela demora
mas de certo virá, virá.

Como quase tudo que se espera
se espera e só se espera,
até brincar de era uma vez
e de uma vez já era,
leitor que não é tolo nem bobo
não dirá que agora é madrugada
só por conta do uivo do lobo,
mas também não dirá que seja nada,
dirá certamente:
A realidade é o melhor conto de fada.

Como quase tudo que se espera
se era já não é mais
e talvez nunca tenha sido.

29 de julho de 2015

28 de julho de 2015

Ego!

Que tudo seja.

Que quando queira assim se torne.

 

Que tudo veja.

Que quando inveje se conforme.

 

Que tudo fim.

Por ego. Eu quis assim.

27 de julho de 2015

Tonto

Se tudo estiver pronto

fino rico e no ponto

haverá sempre um tonto

uma piada de sempre

para que você se lembre:

 

Nem tudo é perfeito

e por efeito

nem tudo é defeito.

26 de julho de 2015

A Rima

Foi de fato meio asqueroso
conceito arcaico da rima
aquilo me veio assombroso
mas por fim de boa estima.

Nem onde nem quando
veio do jeito que estava
e eis que caminhando
a palavra sozinha rimava.

Coisa estranha e bela
como se a grandiosa lua
viesse na minha janela
receber um beijo, nua.

Foi de fato meio asqueroso
enigma da nossa natureza:
um ser de todo horroroso
ter a mais delicada beleza.

25 de julho de 2015

Uma frase

Me mata a desordem mas me anima o caos.

Não é poesia mas gostei do que escrevi ai em cima.

24 de julho de 2015

Desastre

Meus vícios são como pedras
derradeiras pela colina,
deslizam sobre esse espantalho com vida.

Velho que habita esse corpo de adolescente
ranzinza.

Humor tônico e com enorme variante.

Um drummondiano acostumado a se passar de Neruda pelas estribeiras dessa calle,
inventando sem barreiras
Leminski e tantas fibras de Caetano e Jorge Luis Borges.


Meus vícios são como são,
sem mais nem menos
nem ais nem amenos.

23 de julho de 2015

Que?



O tempo. Que seria?
O vento. Que leria?

Mas será que o vento,
o tempo levaria?
Afinal, já não é hora
da noite ser dia?
Ou seria agora,
que o agora esqueceria?

Bola de gude,
enquanto brinca
se ilude,
ao menos não trinca
a cara com o mundo.
Vagabundo.

Feitas de rosas todas as crianças,
chocolate e bala,
e o garoto cria as próprias lambanças.
Mas o tempo, estala.
Fazendo-lhe rapaz.
Parte do mundo.
Vagabundo.

22 de julho de 2015

Estrelas



Foi uma estrela cadente

que passou entre a gente

e eu fiz mil pedidos,

todos, aos poucos, atendidos,

versos por vez,

a sensatez

cria poesias insanas

das quais nenhuma estrela

é capaz de compor.

21 de julho de 2015

Silêncio



Para cada silêncio

uma prece.

Para cada voz,

uma pressa,

uma presa

que perece,

e a vela acesa

se esquece

no início da oração.

20 de julho de 2015

Poema de carne e osso



Poema de carne e osso,
na margem, beirando a estrada,
curto e grosso,
não queria saber de nada.

Talvez foi escrito
ao meio-dia,
quase como grito
que a palavra ardia.

Não era nada bonito,
vivia meio
abscôndito,
do leitor, totalmente alheio.

Mas sem dúvida, entendo-o,
o coitado era bastante lido,
mas o autor, desconhecido.

Tantos e tantos cidadãos,
e ele se perguntava
onde estavam as mãos
que até pouco ele estava?

Se perguntava sempre
qual seria o propósito
se o próprio viver era insólito?

Indagava, mas tinha certeza
que a vida dos versos era curta,
a folha gloriosa da primavera
tem seu verão, mas o que a espera
é o fim rigoroso do outono e inverno.

19 de julho de 2015

Poeta de gaveta



Poeta de gaveta
é cheio de coisa e pontos:
os versos nem estão escritos
mas nos dedos estão prontos,
cria prosa, rosa e moda,
mundo que ao redor molda,
poeta de gaveta tem pouco chão,
vive com amor e muito carinho,
ama, não quer estar sozinho
nos delírios da própria imaginação.

Poeta de gaveta não pensa,
puramente o puro condensa,
mesmo que densa a noite.
É mais poeta vivo que escrito,
dizem que o silêncio é seu grito
mas calar só se faz preciso com outro olhar.

Visto que poeta de gaveta não tem fama,
escreve o anonimato para quem ama
e o leva para outros universos.

Poeta de gaveta tem dia e rima ruim
mas sua perspectiva não é assim,
tão, tão, tão baixa.
É astucioso, pensa alto
e num louco salto
tudo se encaixa.

Poeta de gaveta
no fundo quer ser poente,
na noite se deita
livre da própria mente,
que livre de si mesmo escreve,
longe de cacto,
e pensa em ser sempre de gaveta.