11 de julho de 2015

Poetisa...

Mas nem se eu quisesse descreveria com exatidão o que acontece naquele olhar
naquela mirada lancinante de doer o peito de qualquer poeta
mas não por angústia, por fogo mesmo, por amor e por medo
daquela linguagem imprópria que Camões tagarelava nas suas versadas poesias
daqueles olhos em chamas que Hoffmann descreve Clara, daquele pavor do feminino...

Mas nem se eu quisesse entender aquele, só aquele sorriso sincero e singelo,
gaivota que cruza o céu, que repousa tranquila em terra (que não parece) firme,
aqueles lábios nem secos e nem molhados, mas perfeitos, sedutores
clamando por um beijo sem trégua, sem inibição,
nem se eu quisesse compreender, e por sinal, não quero, meu desejo é apenas sentir.

Mas, cá entre nós, silêncio que me escuta enfurecido pela monotonia das teclas,
cá entre nós, alguém saberia dizer tamanha beleza?
alguém capaz de decifrar os enigmas duma deusa, uma ninfa talvez?!?
Alguém capaz de perder tempo com entendimentos enquanto pode muito bem gozar da realidade
das rimas dessa obra-prima?
Quem, a beira do nirvana, se preocuparia com a estação ou com o mau tempo?

Mas nem se eu quisesse, as aspas e as entrelinhas não permitiriam.
Meu coração desnudado, título de um livro de Baudelaire, por sinal, só sabe que te quer
feliz.
Só sabe que te quer, e quer amar.


Na mente de quem escreve, os ângulos são perfeitos e o abismo, imperceptível.

2 comentários:

  1. Ela deve ser uma mulher de sorte, deve guardar declarações assim no mais intimo que a forma humana pode suportar, porém, que nenhum anatomista pode decifrar, lugar onde estão as melhores recordações. São de demonstrações como essa que é bom de se recordar, quando a fonte parece cessar.

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