19 de julho de 2015

Poeta de gaveta



Poeta de gaveta
é cheio de coisa e pontos:
os versos nem estão escritos
mas nos dedos estão prontos,
cria prosa, rosa e moda,
mundo que ao redor molda,
poeta de gaveta tem pouco chão,
vive com amor e muito carinho,
ama, não quer estar sozinho
nos delírios da própria imaginação.

Poeta de gaveta não pensa,
puramente o puro condensa,
mesmo que densa a noite.
É mais poeta vivo que escrito,
dizem que o silêncio é seu grito
mas calar só se faz preciso com outro olhar.

Visto que poeta de gaveta não tem fama,
escreve o anonimato para quem ama
e o leva para outros universos.

Poeta de gaveta tem dia e rima ruim
mas sua perspectiva não é assim,
tão, tão, tão baixa.
É astucioso, pensa alto
e num louco salto
tudo se encaixa.

Poeta de gaveta
no fundo quer ser poente,
na noite se deita
livre da própria mente,
que livre de si mesmo escreve,
longe de cacto,
e pensa em ser sempre de gaveta.

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