12 de janeiro de 2016

Essa raça definida (2)

A vida maltrata
o cão que na rua
se lambe.

A noite arrebata
o dia
então vem a Lua.

A noite é ainda mais extensa
mas, acaba por ser refúgio,
enquanto muitos dormem alguns despertam
e saem do automático,

em vias de ser lunático, talvez,
e como sempre, fervo água
para outro café, para outra poesia
tosca de duas horas,
ou, uma leitura concentrada em livros,
pois ainda existem livros bons
dignos de serem lidos. E estão esquecidos.

Vira-lata, desses que não vivem se dando a muitos,
desses que preferem o sossego que o formigueiro,
desses que querem apenas uma carne para comer
algo para beber, pernas para andar, olhos que não fecham,
alma que se cansa fácil.

Vira-lata, e apesar do apesar, feliz com sua infelicidade,
feliz por ir, feliz por não precisar ser sempre feliz,
por se dar ao direito de ser, apenas ser, um vira-lata
que não quer ser lembrado nos livros de história.

Vira-lata não gosta de foto, vive do que lhe oferece a memória.
E se se esquece, melhor.

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