31 de dezembro de 2016
O artifício de ser artificial
Fogos de artifício? Me poupem.
Me chamem quando houverem estrelas
Quando o céu, sem demasiada interferência
dessas bugigangas de homo sapiens,
se permitir ser visto.
Quando a lua, na sua embriaguez (na minha, também),
estiver disponível para romance.
Ou quando a chuva rimar com o vento.
Por momento, fico cá:
bebendo,
torcendo para estarem certos
e esse ano que logo chega,
seguir essa média,
pois esse não foi de todo ruim,
ao menos não para meus olhos.
Co-lapso
O relógio gira. Tic-Tac-Tic-Tac.
A geladeira, um pouco antiga, barulho faz.
O ventilador ligado, por ocasião do calor infernal,
conversa seu som com as paredes que falam.
Outro habitante deste vasto universo, e pequeno demais, ao meu gosto,
no seu cômodo (ou será incômodo) mantêm uma televisão ligada.
A vizinha escuta uma música, se é que assim se pode definir seus ruídos sem letra.
Alguns barulhos na cozinha, e não são os insetos; ainda.
A porta, aberta e também fechada, por momentos vai pra lá e pra cá;
A caneta em mão, produz uma leve sonoridade, e o teclado ao digitar
ainda que não se compare à ópera feita pela máquina de datilografia, tem seu musical.
Tudo som. Tudo contrariando
o desejo de ficar em silêncio e abraçar o inerte.
Quando em quietude, a falta de atitude faz pular os olhos
esbugalhados, já na profunda madrugada,
banhado na amargura dos próprios pensamentos.
Colapso, as poesias entram em colapso.
Em verdade, escrever é prova disso.
O relógio não dorme.
Porém
não pense que me desagrada esses ruídos, sons, barulhos,
são melhores que o silêncio, pois o silêncio quando é meu
até compreendo. Quando vem dos outros, ai é coisa
de se pensar.
30 de dezembro de 2016
Brindar
Ano novo. Primeiro dia do ano. Último dia do ano.
Um segundo de diferença não muda minha descrença.
Quanto à vida, o pessimismo.
Quanto aos humanos, cinismo.
Pouco comemoro,
Não rio tanto tampouco choro.
Se não quer, não imploro.
Se quer, devoro.
Minha única prece
Faço sempre
Ao deus que não creio:
Levantar inteiro
Meio dia e meio.
Mas, não sendo suficiente
Digo algo ao humanos:
Percebe, minha gente,
Que só passam-se anos
E tudo sempre mesma merda?
(Pra eles, pois minha vida está boa)
Esqueçam, estava brincando.
Continuem rindo e, comemorando.
Brindem o ano novo, e amanhã a cara fechada
Um com o outro, pois vocês sabem que se odeiam,
Sabem também que não suportam estar no mesmo ambiente.
Mas todo ano, mesma merda, “vamos respeitar o tal parente”.
Vê se mereço.
Sei
Que eles se merecem.
Um segundo de diferença não muda minha descrença.
Quanto à vida, o pessimismo.
Quanto aos humanos, cinismo.
Pouco comemoro,
Não rio tanto tampouco choro.
Se não quer, não imploro.
Se quer, devoro.
Minha única prece
Faço sempre
Ao deus que não creio:
Levantar inteiro
Meio dia e meio.
Mas, não sendo suficiente
Digo algo ao humanos:
Percebe, minha gente,
Que só passam-se anos
E tudo sempre mesma merda?
(Pra eles, pois minha vida está boa)
Esqueçam, estava brincando.
Continuem rindo e, comemorando.
Brindem o ano novo, e amanhã a cara fechada
Um com o outro, pois vocês sabem que se odeiam,
Sabem também que não suportam estar no mesmo ambiente.
Mas todo ano, mesma merda, “vamos respeitar o tal parente”.
Vê se mereço.
Sei
Que eles se merecem.
27 de dezembro de 2016
Graves
São só minhas palavras, vagas, desnudas ao vento
Chegando ao seus belos ouvidos, cobertos de teorias e filosofias banais
Que despejo aos milhares. Como podes? Escutar-me e ainda por cima,
Preocupar-te com minhas lamúrias e problematizações.
Sem dúvida alguma, tens problemas, e dos graves,
Não se presta atenção aos versos de quem escreve, jamais.
Chegando ao seus belos ouvidos, cobertos de teorias e filosofias banais
Que despejo aos milhares. Como podes? Escutar-me e ainda por cima,
Preocupar-te com minhas lamúrias e problematizações.
Sem dúvida alguma, tens problemas, e dos graves,
Não se presta atenção aos versos de quem escreve, jamais.
Como um anjo decaído, poeta é coisa que adentra teu paraíso
Te arrasta para o inferno, com meras palavras e simples lábia e lábio,
Quando vês, estás assim, sendo escrita pelas poesias diabólicas
E ainda achas graça, te encanta com isto? Ah, mas sem dúvida,
Tens problemas.
Te arrasta para o inferno, com meras palavras e simples lábia e lábio,
Quando vês, estás assim, sendo escrita pelas poesias diabólicas
E ainda achas graça, te encanta com isto? Ah, mas sem dúvida,
Tens problemas.
São só minhas nada humildes prosas, cheias de meu ego, vazias de animação, porque esses adjetivos
não me visitam.
Te pergunto, o que nisto tudo vale a pena? Será que é por não valer
Que vale? Não, não sei, não pode ser, é o todo tão mesquinho,
E as pernas que passam nos centros, calçadões, shoppings (ria)
São tão ávidas por novidade. E eu, a única novidade que lhe ofereço
É a ausência de novidades. Sou sempre o mesmo, sempre esse mesmo.
Cru, de desejos simples, que não virão dos supermercados.
Na verdade, alguns até podem de lá sair: cervejas, carnes, cafés.
De resto, quase nada me interessa. E ainda assim, (ainda assim)
Te preocupas com minhas falas. Ah!
Por isso, não digo que te amo, porque não amo,
Mas te quero por perto, bem perto, e feliz, bem feliz.
(Porém, fique sabendo, tu tens problemas,
Não que eu não tenha).
Poema de Igor José (2)
O que é Crescer?
É caminhar para compreender a vida
Ou a vida compreender você
É inevitável, só acaba quando morre.
"Quando a cortina cinza desse mundo se enrola
E tudo se transforma em vidro prata",
Mas antes você vai aprender
Provar que Zenão estava correto
Lembrar da lei
Não se pode aprender nada
Que não venha acompanhado de dor
Não se consegue nada sem sacrifício
Aprender que certas coisas não fazem sentido
E nem razão para acontecer
Conhecer a derrota e sofrimento
Pois crescer é:
Ter responsabilidade
É crer e ser
É traçar linhas de um sonho
Mas saber que sempre há coisas
Mais importantes que um sonho
É entender que algumas pessoas pessoas
Vão agir com indiferença
E que ela pode matar o coração
A queima roupa
É ter atitude,coragem,vontade e esforço
É errar,e saber que isso é bom
Um professor invisível
É questionar sua existência
Sentar com seus defeitos
Em uma mesa e conversar
Conviver com eles
E ter saudade
Saber que isso é bom
Mas que esta no passado
E ter visão
Para caminhar no escuro
E enxergar tudo que esta invisível
Depois fazer escolha
E receber as consequências
Boas e ruins
É ter insegurança
Ter medo de perder o que nunca teve
As vezes cultivar um amor
E nenhum cresce sozinho
É preciso regar, dar atenção e cuidar
Seja o amor de
Platão,Aristóteles,Jesus
C.S Lewis, Erich Fromm ou de Zygmunt Bauman
Mas você pode fazer papel de trouxa
Um papel que todos farão
É ser enganado
Mas ter resistência
Por último saber que a maior constante na vida
É a mudança
Para e pense,
Por toda nossa vida
Somos pessoas diferentes
É caminhar
E encontrar no caminho um gato
No meio do caminho havia um gato
Havia um gato no meio do caminho
É caminhar para compreender a vida
Ou a vida compreender você
É inevitável, só acaba quando morre.
"Quando a cortina cinza desse mundo se enrola
E tudo se transforma em vidro prata",
Mas antes você vai aprender
Provar que Zenão estava correto
Lembrar da lei
Não se pode aprender nada
Que não venha acompanhado de dor
Não se consegue nada sem sacrifício
Aprender que certas coisas não fazem sentido
E nem razão para acontecer
Conhecer a derrota e sofrimento
Pois crescer é:
Ter responsabilidade
É crer e ser
É traçar linhas de um sonho
Mas saber que sempre há coisas
Mais importantes que um sonho
É entender que algumas pessoas pessoas
Vão agir com indiferença
E que ela pode matar o coração
A queima roupa
É ter atitude,coragem,vontade e esforço
É errar,e saber que isso é bom
Um professor invisível
É questionar sua existência
Sentar com seus defeitos
Em uma mesa e conversar
Conviver com eles
E ter saudade
Saber que isso é bom
Mas que esta no passado
E ter visão
Para caminhar no escuro
E enxergar tudo que esta invisível
Depois fazer escolha
E receber as consequências
Boas e ruins
É ter insegurança
Ter medo de perder o que nunca teve
As vezes cultivar um amor
E nenhum cresce sozinho
É preciso regar, dar atenção e cuidar
Seja o amor de
Platão,Aristóteles,Jesus
C.S Lewis, Erich Fromm ou de Zygmunt Bauman
Mas você pode fazer papel de trouxa
Um papel que todos farão
É ser enganado
Mas ter resistência
Por último saber que a maior constante na vida
É a mudança
Para e pense,
Por toda nossa vida
Somos pessoas diferentes
É caminhar
E encontrar no caminho um gato
No meio do caminho havia um gato
Havia um gato no meio do caminho
E o nome dele era Cheshire
26 de dezembro de 2016
Vapor
O café esfria:
vida e poesia
também.
Na noite se silencia
e então se diz
amém.
Metade que converso
versa verso cansado.
A outra metade, o inverso,
se vive leve, alucinado.
Poucos se perguntam
menos ainda procuram dúvidas.
Felizes desses. Felizes.
Conto (O primeiro e talvez o último)
Oh sim, eles estavam lá fora, esperando ansiosamente por nós! Mas não somos tolos, nos protegeremos com nossas forças, que no momento é o nada fazer. Pensam que podem invadir nossas casas, adentrando no nosso ambiente por meio de chaminés? Não, não e não. Não temos chaminés. E jamais teremos. Tentarão então nos vencer com suas doces palavras? Morrerão na expectativa, pois quedaremos em nossas residências até que se tenha absoluta segurança, e isso só deve ocorrer quando o dia de natal acabar - disse o carinha da casa desse conto.
Ao ouvir essas palavras (na verdade, nada se ouviu, mas faz parte da narração), o mutirão de bons velhinhos, ao qual denominamos de Papai Noel, praguejou (só o líder deles, não é falta de concordância verbal):
Ao polo sul com suas defensivas! Trouxemos presentes, e não nos esquecemos do seu iPad, e para seus companheiros, cervejas e boa carne, e outros regalos natalinos. O que te espanta? Acaso o bom velhinho já lhe fez mal?
Tendo dito essas frases, tomou distância (não como se toma whisky) e se direcionou, freneticamente, para a porta de entrada, batendo o ombro com força para tentar invadir o local. Em nada resultou. Mas, como se sabe, o personagem deve conseguir abrir essa porta logo mais. Enfim. O carinha da casa desse conto, ao notar que as regalias eram muito oportunas e, como estava com fome, achou ainda mais estranho que o Noel adivinhasse o que gostaria de ter no momento. Não sendo trouxa, e sabendo das artimanhas do velho, gritou "papai Noel não existe", de forma a irritar o exército vermelho que já se encontrava impaciente. O Zé do gorro e da barba, ao olhar o próprio relógio, viu que as horas passavam rapidamente, como o maldito ano, e que teria que ir em outras casas ainda. Para facilitar sua própria vida, ordenou que o exército de Natal (duendes que se vestiam de Noel no Natal, e ganhavam um extra) fizessem os demais serviços para ele. Aqui vale destacar que os duendes, ao longo do segundo semestre de cada ano, trabalhavam, de maneira escrava, para a família Imperial, mais conhecida como Mamãe Noel, Papai Noel e o Anticristo, mas isso é outra história e não quero me complicar. O que merece atenção é que no fim do ano, para que as "entregas" natalinas fossem feitas, esses duendes tinham a opção de vender suas férias e ganhar um dinheiro a mais, se vestindo de Noel e cobrindo o folgado do sedentário, dono de quase todo o Polo Norte e do Planeta de Fogo.
Tamanha a insistência, e com a boa lábia do Noel, os companheiros do carinha da casa desse conto, se renderam aos presentes de fim de ano, e assim, tendo acesso ao local, Noel disse veementemente:
Pois bem, grandes companheiros. Como sabem, sou um velhinho muito simpático. Trago presentes, escuto-os pacientemente, e ainda assim o amigo de vocês parece ter declarado guerra contra minha pessoa. O que fiz a ele?
Quando estava por terminar a pergunta, o carinha da casa desse conto, irritado e explodindo de raiva, gritou:
Ao inferno com seus argumentos! Não me terá de volta, não trabalharei feito escravo nos seus maquinários! Chega! A verdade, meus amigos, é que, ainda que eu tenha vivido sete anos com vocês e nada tenha dito sobre minha pessoa, sou eu um Duende. Mas tenho uma história. Sou um ser vivo, sou um humano como vocês. Esse maldito, tendo me capturado outrora, me transformou em duende, mas consegui reverter a situação e escapar. Agora, aqui estou, carne e osso, e pensei que a liberdade de ser quem sou me seria eterna.
Noel ria, gargalhava! Disse:
De fato, caro carinha da casa desse conto, isso tudo não passa de um teste. Eu bem suspeitava que você era um duende, gnomo, ou seja lá que raio. Não sou o Noel (e tendo dito, arrancou o disfarce), sou eu, Joaquim, apenas armei essa situação para que os outros soubessem quem tu és.
Não se preocupe caro leitor, o autor também está confuso.
Após essa cena, o carinha da casa desse conto, em prantos, disse:
Sei bem disto tudo, e imaginei que era uma armação, e que desconfiastes. Saiba que minhas lágrimas são piores que de crocodilo, e sei que tu és um Duende também, foragido.
Joaquim, assustado, forçando o riso, respondeu:
O que dizes? Estás louco? Sou humano, não forasteiro. Jamais fui duende.
O carinha da casa desse conto, por sua vez, ria. E realmente parecia que o poder do jogo mudava de lado. Disse-lhe:
Pois sim, saibas que eu sou o verdadeiro Noel (e assim se mostrou). Há sete anos armo as peças para que esse dia chegasse e enfim pudesse capturá-lo! Canalha! Voltarás ao Planeta de Fogo, e trabalharás, sem folga, durante todo o ano seguinte. E se reclamar, mando os cães fazerem de ti, picadinhos.
Joaquim, o Duende, fora transformado, novamente, em Duende. Noel voltou com ele para o Planeta, e nos anos seguintes não se ouviu registros dele.
Os outros moradores da casa haviam fumado seus baseados durante toda a noite, de modo que não lembrariam do ocorrido. E se lembrassem todos, que importa? Ninguém lhes daria atenção. Mas, caro leitor, será que toda a história não foi apenas um conto inventado por esses viciados, que, tendo se reunido em torno de uma mesa, fumando e bebendo doidamente, narravam histórias para se manterem acordados, rindo e falando qualquer besteira que lhes fossem oportuno?
Fica a dúvida. No fim das contas, é sempre dúvida que fica mesmo. Então, nada de novo. Nada, de novo.
21 de dezembro de 2016
Sobre certezas
Muito para entender, muito para ser dito.
Talvez de certeza só tenha a dúvida,
esse meu verso, denso, obscuro, infinito.
Tudo é, matéria.
Matéria é mistério
desespero e desprezo
Tudo o que vejo
Pedra, amor, azulejo,
O bruto levado à sério.
Matéria é só linguagem
verso, prosa, miragem,
mesma coisa de sempre
mesma rima rotineira
matéria é o que me lembre
e não há matéria que esqueça.
Matéria
também é pela falta;
miséria.
Matéria
é,
não há o que não seja.
Não existe o que não se veja.
E há boca que não beija?
Matéria, a voz dos humildes
dos que
vestem os ternos nos cabides.
E quem diga o contrário
que de fato algo além,
não passa de imaginário
que é matéria também.
20 de dezembro de 2016
Aviso aos navegantes
A partir do ano que vem, começarei a narrar minhas poesias, deixando a narração disponível no final de cada publicação. Para quem odeia ou simplesmente não gosta de escutar narrações de poesias, nada muda. Para quem tem interesse ou realmente acha que enriquece o poema ter uma narrativa, poderá escutá-las.
O que acham?
Pobreza (e versos ainda mais pobres)
Na noite fria, nos escombros da rodovia, alguns
se ajeitam sob seus tetos feitos de ponte e iluminação pública.
Uma garota, pouco mais de seus nove anos, agoniada,
observa a imensidão do céu, com a fome de um selvagem,
e pensa em devorar as estrelas.
As estrelas, os astros todos, estão longe, longe, perto dos sonhos
que a guria deste poema tem. Se sacode. Algum rato inocente lhe acaricia,
como se estivesse adentrando no bueiro, mas é só a pele dessa moça.
Se coça, unhadas no corpo inteiro, e feridas no manto celestial, mas não maiores
que a tal da fome.
Amanhã, por volta das seis horas da manhã, estará de pé.
Te perguntas se ela frequenta o colégio? Sim, frequenta,
ou melhor, frequentava. Lá pouco aprendia, lá não era melhor que a rua.
A merenda escassa, e nos corredores lotados, a solidão.
Seus professores diziam que ela atrapalhava a turma, que
era vagabunda, despreocupada demais, burra, suja.
Talvez não dissessem com palavras, alguns com olhares, outros com o silêncio.
Ninguém se questionava o que ocorria?!?
Se se questionavam, certamente achavam que nada podiam fazer.
E as coisas assim vão indo.
Hoje, o poema reencontra essa moça, tão crescida.
O poema sabe que ela, indigente, como toda gente,
não é singular, não é só uma. Infelizmente, essa vida
é repetitiva, anda em círculos, em circos, e há quem ria
da desgraça alheia.
E há quem comemore a fartura da ceia.
O poema pouco pode fazer, o poema pouco se importa também.
O poema apenas descreve, apenas observa, e diz, como todos,
amém.
13 de dezembro de 2016
Margens e poemas
Marginal?
Se é a margem
que não me respeita
afinal.
Imagina
se cada um
na margem
margina.
Essa coisa de margem
essa coisa de linha
escrever é só viagem
a margem poeta definha.
Marginal.
Ainda me diz?
Se escrever
na margem
me deixa infeliz
por que escreveria?
Eu seria escravo,
mero fantoche, deboche, espantalho,
viveria na cova que não cavo
e seria só um deus frustrado, falho.
Me reinventar todo dia
fingindo amor que não devia
isso seria suicídio, chuva de canivete.
Prefiro sete anos agradáveis
que do contrário setenta e sete.
Do contrário
seria cavalo de corrida
que louco dispara buscando ser campeão.
Perdendo a vida.
Não sirvo pra isso não
prefiro ser aquele
fora do páreo.
12 de dezembro de 2016
Não encare o poema
Encarar um poema, é coisa que não se faça
Coisa que não se deve ou deva, coisa rara
Ir contra a própria vontade, é querer desgraça
Para si. Esfolar no asfalto a própria cara.
Não encare um poema,
Ainda que ele te encare.
Não é teu o problema
E se encarando estiver, pare.
Encarar um poema, se poemas são inofensivos.
São pedras jogadas ao vento.
Poema são versos mortos, se preocupe com os vivos.
Poema é coisa sem muito sentido, que utilidade
vê o poeta em escrever o que ninguém se importa?
Que utilidade vê o leitor em ler o que não importa?
Oras, somos todos vagos. E isso merece um poema.
Ou vários.
Ai se vê a utilidade da inutilidade, dádiva humana, mortal.
Mas não encare um poema, não pense sobre ele.
O poema não é responsabilidade do escritor.
O poema é responsabilidade e culpa de quem lê.
É dilema de quem no poema vê valor.
11 de dezembro de 2016
Quisiera..
Do desejo de beijar tua boca de arrancar
tua roupa de te possuir e ser possuído pelos
teus desejos e desenhos, de tua arte abstrata de teu sorriso
doce e com sofreguidão impaciente e ávida. Ah, tua voracidade não
me deixa pontuar direito este poema sem jeito e sem pausa pois assim
é que me delicio em teu labirinto e me perco e me acho e me perco versando, pausa.
Do desejo jamais tão desejado,
lento, forte, enigma, demorado,
só te quero e te quero ao lado
mas não do lado de lá, onde os outros estão,
te quero nua, crua, na minha e na sua atração.
E num haicai tudo isso se comprime, exprime, que rime
ou não, mas que seja versado e conversado,
vem
e vai (vamos)
além.
4 de dezembro de 2016
Ferreira, SinGULLAR (não o maior, mas um deles)
Os poetas também morrem.
Mas morrem de forma diferente.
Se vão, mas não se dissolvem.
Se dissolvem na boca da gente.
Outro poeta eterno parte.
Parte dessa para a arte.
Parte dessa para sabe se lá.
Pro Nada, Deus, Sucellus, Alá.
Alá! Olha o poeta ali.
Dentro daquele poema
Dentro daquele dilema
O qual outro dia li.
Mas, como Gullar já bem dizia,
no seu "Extravio", na poesia:
"Estou desfeito nas nuvens:
vejo do alto a cidade
e em cada esquina um menino,
que sou eu mesmo, a chamar-me".
Os poetas também morrem
Alguns exigem o fim
Outros, imortais,
partem assim.
O tal do tempo
O tempo é quando!
Nada mais.
Se faz caminhando,
parado; jamais.
O tempo é o que fiz
das horas tão controversas,
por que não me diz
querubim, o que tu versas?
O tempo é cansaço.
Gotas de suor
nosso deus maior.
E ninguém é de aço.
O tempo é ingratidão
O tempo é herói.
O tempo é vilão.
Que se devora e corrói.
O tempo é o reflexo
daquele que perplexo
se encara no espelho.
2 de dezembro de 2016
Cores amarelas e prosa
Fingindo estar sempre bem, para que outros possam sorrir
O tempo devorando os lábios, o espaço apagando tuas pegadas
Frente ao mar de ansiedade e convulsão verbal que demonstras
O melhor é correr, eternamente correr, e para onde, para onde?
Eu não sei. Apenas escrevo essa mísera poesia, como forma de agradecer-te
Pelo desespero que proporcionas ao meu olhar.
E se debate, e lutas contra teu próprio exército, choras.
Já não sabes a hora e para onde voltar quando o Sol desaparece dos nossos sonhos.
Segues. Finges bem. Finges bem estar amando mais esse dia.
Como um demente consciente da própria doença, tampas a ferida.
Mas quando sorrir, teus dentes amarelados espantarão os angelicais
Demônios desse mundo. Se lhe serve essa prosa, eles também fingem.
Fingem tão bem! Fingem também! E fingem, fingem.
(É só isso que sabem fazer, além de fingir que não fingem).
Não há nenhum problema, não necessitas da maquiagem
Que usas para (escancarar ainda mais os teus rancores) disfarçar.
Tu, que voltas a cair, e a tua boca, dominada pelo silêncio
Sepulcral silêncio dos teus lábios, que se esquivam veemente dos desejos.
A vida, nada mais o que já sabemos, todos. O resto, tédio e farsa.
Queres a perpétua satisfação dos quereres? Ou morrer com eles?
Fingindo estar sempre bem, ela desperta.
Tão logo possa, voltará para o deserto, para o cemitério de quatro paredes. Quarto.
Quando não finge estar bem,
ai sim, desencantando o insensível, consegue sorrir sem as cores amarelas,
e então, desperta, encantadora, com o pouco de real que há na tal "realidade",
e já não queres volver ao teu paraíso infernal.
Eu não sei. Nunca sei se compreendes meus versos.
1 de dezembro de 2016
337*
Ah, o rancor. Esse sentimento magnífico.
Nos dá o direito à violência.
Perfeita nossa bendita decadência.
O rancor que se volta ao eu lírico.
Ah, perder tempo observando a natureza
bela das flores do campo colorido.
O espinho, nesse toda delicadeza,
é a ferida do amor que não tem ocorrido.
Ah, a insensatez. Admiro quem nela se orna.
Não havendo problema na pessoa
todo verso nela nada ecoa,
e o insensato um deus de si mesmo, se torna.
Ah, o poder da ironia.
Do sádico que ri da demência
dos outros e de toda eloquência
da linguagem linda. Vazia.
Ah, todo lamento!
Versar é meu alimento
pois assim, um pouco,
do meu estado de louco,
ausento!
Assinar:
Postagens (Atom)