21 de dezembro de 2015

Abascanto I

Aquele canto preciso
que ninguém jamais soube
aquele canto
da parede ou do pássaro,
entre cortinas ou o céu
que no entanto
são a mesma arte.

Aquela obra prima
que quedou abandonada
de propósito
como quem não quer nada
e de repente
lá do depósito
surge como ideia
revolucionária.

Aquele canto
ninguém vai entender.
Aquele riso
travestido de pranto
não foi feito
para se ler,
foi feito para voar
foi feito para ser desfeito
antes que a vida lhe diga
que para ser ele não leva jeito.

Aquele canto de chuva
aquele canto silenciado
aquele espanto que turva
o ser mais apaixonado.

Ou o canto do encanto
ou o canto do desencanto,
que no final são um só,
em dó sustenido.

É, aquele canto,
vai ficar assim
um irônico diabo
ou
um feliz querubim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente. Sempre é conveniente.