5 de dezembro de 2015

Zero fisiológico - Huxley



Meu bem, me dê mais um pouco de Soma, uma dose
Dessa aspirina que os poetas jamais inventariam.
Meu bem, será possível estarmos mesmo sobre hipnose
Algum tempo me pergunto como os selvagens seriam.

Meu bem, ponto zero de percepção desse termo que nos cerca
E, no entanto, para cada amor um sofrimento maior ainda.
Meu bem, será que essa frieza realmente nos seca
Quando os selvagens choram dor aguda que não finda.

Meu bem, tudo tão estranho, eu Alfa, você Beta,
E os outros não nos deixam ser quem realmente somos.
Tem vezes que o mundo dos selvagens acerta
Em dizer que nosso mundo é cruel e que nunca passaremos
De cópias idênticas. DNA, RNA, Síntese e Cromossomos.

Meu bem, que nunca minha, qual o mundo real:
Aquele em que os versos são falsificados em busca da estética
Perfeita, ou, aquele em que não importa a rima
Tampouco as palavras simplórias, mas sim a essência,
Que para nós já nada diz?

Oh, o que foi que fiz?
Duvidei! E a dúvida para nós, alfas, será sempre uma vergonha.
E vergonha é erro.

Meu bem, mais uma dose de soma
E o delírio fugirá de nossos corpos.

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