4 de dezembro de 2015

Poesia entre a Torre e o Nada

I - Foi então que notei
a torre era a mais alta da cidade.

Mas logo errei,
como todos só olhei a metade.

Preocupada em ser a mais alta
ela deixou o principal em falta.

Olhavam para o alto e ela ali estava
ninguém se deu conta de que algo faltava.

Apesar de sua grandeza notável
a torre pareceu-me instável.

Resolvi observar o chão ao seu redor
e constatei que cada vez que ela crescia

o aspecto ao seu lado era pior
e qualquer vida ali logo logo morreria.

Nesse desejo por grandeza
deixou para a morte, de bandeja,

já vista a maior profundeza.
E outros sentiam inveja.

Faltava o alicerce.
E apesar de mais alta, mais vistosa, mais detalhada
sem o alicerce ela se tornou como sempre: nada

além de pó. A diferença é que sua queda
foi, sem dúvida alguma, a maior merda

e respingou pra todo lado.



II - E perto dela
algo
era, as vezes,
admirado pela janela
de um sábio.

Considerado louco
quando viram o mesmo
que ele,
a glória foi pouco:

viram nada
e olhavam todos a esmo.

Felizes como nunca
admiravam aquela
espelunca,
pela bela janela
todos eram felizes:
um ponto da cidade
o nada existia:
vida cheia demais
é vida vazia.

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