3 de outubro de 2015

O estranho não se estranha.

a um amigo, mais estranho que o cu da gia:

A estranheza com que te notam
e já teus olhos tão cansados
até mesmo, indiferentes, duros e vazios,
que atravessam as paredes e os corpos,
como se fossem inanimados. Talvez sejam.

Essa estranheza violenta e mortífera
casca-grossa, mas que em nada te infere valor,
fere mais a mim e aos sentimentos
que nunca foram, tampouco serão, teus.

E esse tsunami, e esse terremoto,
passam sempre despercebidos nas tuas lentes?
teus olhos são de vidro, afinal.

A estranheza parece pandêmica
e continuas andando como se nada
importasse ou não fosse visível.
Mas estás correto; para que se preocupar
com um Mundo tão cheio de escravos?

A estranheza dos outros,
deixá-los sentir aos calos, que diferença fará?
Nenhuma. Não se muda seres
que vivem alienados de si, de ego,
que inventam mundo onde todos
são iguais.

A estranheza com que não te notam
como se transpassasse, furassem os músculos e as carnes
dos sujeitos que cruzam o caminho.

Tu, que não se incomoda com o incômodo deles.
Que não se vangloria do saber e do não-saber,
que não encontra na aparência a aurora da vida,
que não luta por um mundo melhor, nem pior.
Tu, que parece agir na anomia, mas que
é o oposto. Mais estranho que o cu da gia,
que os deuses e que os semideuses. Mais estranho
que a estranheza e que o governo russo.
 

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