30 de março de 2016

Libertar e se tornar escravo

Foi então que entendi
vivendo na escravidão
eles se sentiam livres,
nada que se fizesse
para tornar efetiva a liberdade
seria levado em consideração.

A liberdade dos pensantes
idealizada nas poesias utópicas
e livros,
não é, jamais será, nunca foi,
a liberdade da média, da massa.

E como pode escravidão
ser considerado liberdade?
E como pode liberdade
ser considerado escravidão?

Olhei para o lado
estavam todos ali
os corpos e as pílulas
da felicidade;
o ócio, não encontrei,
eles não podem parar
o movimento, a ideia de movimento,
é poder, é o ser em sua essência.

Os que vivem, que não existem para sobreviver,
que não nasceram para a rotina e tampouco para serem
como os outros, esses, descobrem por fim
que estão presos à liberdade que cavaram,
pois reconhecem e abstraem seus atos e vozes mentais,
isso os perturbarão desde ontem até o amanhã,
conceitos, expressões, ideias, tudo levará ao inferno.

Não tente mudar o que não se incomoda
com as situações do mundo,
eles são felizes. Para que entristecê-los
com balelas filosóficas, conceitos e teorias?
Deixai-os, bem queira que não tomem
consciência da podridão humana.
Deixai-os alienados, pois não sabem que estão
não sentem que estão. Só nós (?) vemos.
Diria Nietzsche, só nós escutamos
a (maldita) canção!

Liberdade é não estar livre
mas se sentir liberto.

Escravidão é se sentir aprisionado
por saber e ser livre.

Eis a pedra, eis os fatos, eis a crueldade
lançada no Jardim do Éden e na caixa de Pandora.
O "livre" é o escravo.
O escravo, liberdade plena.



27 de março de 2016

Eu ontem também tive a impressão

Deus, se está na escuta
vê se não assusta
com o que irei pedir.

Quero ver
o diabo sorrir.
Todo mundo feliz.

Quero que a feia
se torne Miss,
que o cego leia

e que o analfabeto
entenda
Machado de Assis.

Deus, vê bem o que digo.
Se não quer me dar ouvidos
Não ligo.

Meus pensamentos doídos
sempre estarão comigo.

Deus, se atente,
tudo ficou estranho
tão de repente.

Vou abraçar Leminski
e cantar aos ventos:

"eu ontem tive a impressão
que Deus quis falar comigo
não lhe dei ouvidos

quem sou eu para falar com Deus?
ele que cuide dos seus assuntos
eu cuido dos meus" (P. L.)

26 de março de 2016

Carta I

Te vi, feliz, sorrindo,
e quis te dar um beijo
te deitar na cama.

Notei, já estava indo
enquanto te vejo
enquanto o drama

passava na minha mente,
eu, inocente
não notei
a estrela cadente
que caiu aqui.

Sorri.

Despi.

E a madrugada
como quem
não quer nada
veio sem
avisar.

De dia
só quero
ter tu
e o luar.
 

Reclamações e outras

Os versos, esses me abandonaram por várias noites,
pude, enfim, dormir em paz, sem pensamentos mirabolantes
evocando imagens e arquétipos variados
sem demônios, que me assombram e riem um riso esquizofrênico
e frenético nos meus sonhos, eternos pesadelos,
o vinho me libertou, por alguns dias, do cansaço e do café,
tudo quedou então, mais suave. Não plenamente.

Meus dias tem sido de menos estresse, já não me importo
com as ladainhas alheias, com as tagarelices dos mais próximos,
com os olhares de repúdio dos mais distantes.
Não me importo com as reclamações dos meus parentes
que de parentes só os dentes.
 Já não perco a cabeça com a babaquice do boçal
nem com a crença cega dos fieis, que doam seus salários
ao deus que lhes serve. Que Deus os leve.

Minhas noites tem sido de menos sofrimento, sou eu
e o travesseiro. Os tormentos tem sido menores, apenas imagino
que lá fora tudo está bem. Não há problemas em nenhum canto.
Me iludo, um pouco de vinho, um pouco de chimarrão. Zen.
Mas acordo, sei que sim, com os fatais e intermináveis sofrimentos
da miséria que assola os mortais. Aqueles que dormem com a Lua
na rua. E isso não tem nada de poético. Nem o ponto do verso.

A vida, em seu caráter primário, um pé no saco,
uma ressaca constante. O trabalho me consome.
O estudo me consome. Os outros me consomem.
E eu também, me consumo. Sumo. E consumo produtos
dos quais não preciso. Dos quais nunca precisei.

A vida, em seu caráter secundário, vai bem.
Misantropia que passa com o tempo, o café mais amargo,
a adolescência com tom de velhice. Boina, clássicos e livros.
Que jovem que preze a juventude vive assim?
Mas dizem os mais achegados (os que acham que são mais achegados)
que tenho espírito de idoso.

E essas poesias estão cada vez piores, e cada vez mais sem sentido final.
Mera reclamação. Mero... boa noite leitores.

22 de março de 2016

Venha, e olvide o resto.

Se quiser, venha, estou na árvore
lendo um conto de Edgar Allan Poe
enquanto o mundo se consome.

Se quiser, venha, estou na terra,
rindo de todos os tipos de ideias
desta nossa cidade, comédia grega.

Se quiser, venha, estou no ar
voando em um tapete mágico
acima de todos, e da própria lei.

Se quiser, venha, vamos gargalhar,
dos teóricos todos, e dos profetas
que descobriram a maiêutica e retórica.

Se quiser, venha, estou confuso
e para que tanta certeza
se o fraco é aquele que sabe de tudo?!

Se quiser, venha, linda menina,
Raulzito eu escuto, faço culto
insulto, surto, tenho o pavio curto.

Se quiser, venha, estou voando
longe, com os pássaros, sou feliz
e não preciso de como ou quando.

Se quiser, venha, nada importa
agora que te tenho por perto.

Vida cruel, triste desperto.

Estava a sonhar.

Mas, se quiser, venha,
saudade sinto,
e quando aqui estiver
apenas te aqueço, sem palavras,
sinto, sucinto.

Ressuscito meu desejo de ti,
que tive em fronteira hispanohablante,
e de ontem em diante.

Foi, ali na Argentina,
que sonhei,
doce menina.
 

21 de março de 2016

Pastel de Vento II

Tem um Nada crescente
que nasce no ego da gente
e é carcinoma.

Está no nosso genoma,
veio com a evolução
mas não explica a Razão.

Tem um Nada infinito
que surge todo esquisito
e é eterno.

Está no caderno
na linha vazia
na poesia, minha.

Tem um Nada estranho
que vire e mexe
não me esquece.

De uma coisa sei:
com o Nada
não barganho.
 

Minha razão

Se digo
existe e pronto.

Não brigo
com o ponto.

Se se termina
é ponto final.

Na outra esquina
não há o real.

Tudo é meu
o mundo
por mim inventado.

Quem me leu
e sentiu
algo profundo

está enganado.

20 de março de 2016

E nunca será

E a vida, desgraçadamente, vai indo
com ironia e desprezo vai, rindo
de tudo o que faço para mudar o futuro,
enquanto observo o lado sombrio e obscuro
da doce e insana realidade.

Ela vai, trajada com peças sombrias
fazendo dos dias obras vazias,
quadros pintados pela imundície do existir.
Ai, prazer que tem, misantropia.
E enquanto nos fodemos,
o epicentro da dor da carne nos espia.
Lemos um ao outro, estranhos idênticos.

E a vida, essa segue seu jogo,
me sinto, ora dom Quixote
ora um detestável ogro,
eis que meu forte
nunca foi ser um só.

Nunca foi ser.

19 de março de 2016

Equalizar

Ecos tão distantes
corpos tão frios
dias estressantes
copos já vazios.

Noites passo em branco
dias de escuridão
e, para ser franco
falta não me faz, não.

Pura cafeína
que me mantêm em pé
na minha sina
não ponho muita fé!

18 de março de 2016

Nota do dia

Hoje o Ex-Presidente Lula fez um ato de boa ação que jamais será esquecido no nosso país: deu, em troca de apoio e calor da massa, R$50 para cada "manifestante" da CUT participar da dita "manifestação em prol do governo". Além do pão com mortadela, claro (Link).
Acho um valor considerável para ficar lá gritando umas palavras de ordem em favor do velho barbudo. Mas mesmo assim... poucas pessoas (aqui usando método comparativo) compareceram no movimento.
O que mais penso ser interessante da tal da CUT é ela ser sustentada por impostos sindicais de quem trabalha com carteira assinada.
Aqui não é nenhum dado estatístico meu não! Como afirmam inúmeros jornais e a própria lei (deixo linkado aqui):

"De tudo o que você paga, 60% tem destino traçado para algum dos 15.315 sindicatos existentes no país (sim, você leu certo: são quinze mil, trezentos e quinze sindicatos). O restante fica dividido entre as federações, confederações, o governo e as 12 centrais sindicais atualmente em atividade. Delas, a maior é a CUT: representa 33% dos trabalhadores sindicalizados do país".
Nas manifestações de 2015 os representantes da CUT receberam R$35,00! Teve até correção inflacionária esse ano para eles poderem ir dar apoio ao governo! (Link).



Cada vez mais minha indignação, e a certeza de que pouca coisa vai mudar nessa história. Afinal, como diz a senhorita Dilma, "em outro país, grampear o presidente é crime". Sim, ela está certa. Mas corrupção, em todos os países do mundo, crime seria, e imperdoável. Vamos esperar o próximo episódio dessa série de maior sucesso na Gaia!

A perfeição

Quando tudo perfeito fosse
perfeito nada seria
é como para criança
dar de vez o doce
e pensar que a birra
passaria.

Quando tudo perfeito nasce
tenha certeza do problema.
Humano vive de quase
eis o nosso dilema.

Quando tudo perfeito escrito
dito o silêncio completo,
não passa de bonito
o meu verso indiscreto,
é troço sem ritmo
vida sem alma,
meu coração é um istmo
ninguém bate palma.

Quando tudo perfeito
logo o teto desabaria,
alguém dirá: bem feito
melhor
eu faria.

Quando tudo perfeito escurece
pode esquecer, ou tentar,
na noite não se adormece,
é cerveja e varanda
o bafo que vai com o ar,

na rua anda
o perfeito luar.

Acordes de improviso

Evitar o amor não pode ser culpa
se a dor que se sentirá será tremenda,
se a nostalgia virá como onda cega
pronta para devorar a alma e o riso.
Não culpo os homens por não amarem
tampouco as mulheres por serem raivosas,
se o medo do amanhã consome nosso agora,
e se, sem demora, é a insegurança mãe da Gaia.

O amor, poesia mal feita e estranha,
cópia infiel das razões e dos sentimentos.
Vamos tomar a pílula do alívio, assim,
felicidade constante, abandonemos o sexo,
a carne, o ópio que é o sentir.

Evitemos tudo que se relacione com o ósculo,
evitemos as valsas e os sabores compartilhados,
o amor é lobo.

Aos homens que aprenderam como não amar:
fizeram bem, viverão em nirvana, lúcidos
enquanto parte desse meu ego, fantoche inato,
navega perdidamente nos semblantes femininos.

Sexta-feira blues de acordes improvisados.

16 de março de 2016

Vivendo do Ócio!


Do álbum "Selva Mundo", da banda Vivendo do Ócio.
Cada vez mais fico impressionado com a sensibilidade que a banda anda tendo com questões sociais! Vale a pena conferir, todas as canções do álbum são de extrema qualidade. Com letras reflexivas e sonoridade diversa.
Essa aqui chama "Porrada", deixarei o link.
Não sou de divulgar muitas músicas, mas acompanho a elaboração artística da banda faz algum tempo, nunca me decepcionei:

Meninos passando fome nas esquinas da cidade 
Garota vendendo o corpo pra comprar felicidade 
Político roubando o sonho revelando falsidade 
Agressão e violência, no transito maldade 

Financistas assaltando o futuro do país 
Corrupção contra a mão e a propina do juiz 
O pastor pregador que não faz o que diz 
O padre depravado seduzindo o aprendiz 

E lampião é o mal e o cangaço é o mal!

O polícia safado corrompido, mal feitor 
Na América do Norte quem mata é doutor 
E o terror que destrói, que sente prazer na dor 
Faço aqui essa rima pra acordar o senhor 

E lampião é o mal e o cangaço é o mal!




"Lula da Silva será jefe de ministros de Rousseff y tendrá fueros"

Tenho meu costume de ler jornal argentino, como um bom amante da ironia cordobense que me deu o destino, ou o acaso. O Periódico "La Voz", um dos principais circulando na belíssima cidade onde se encontra as "Aguas Danzantes", foi quem me trouxe a notícia do dia:

"Lula da Silva será jefe de ministros de Rousseff y tendrá fueros", ou seja, "Lula da Silva será chefe de ministério de Rouseff e terá privilégios (no sentido da lei)".

Uma notícia de um contexto bem brasileiro, mas que não foge a realidade da nossa vizinha Argentina! Tampouco Venezuelana, ou Boliviana. Enfim, que não foge a realidade de quase nenhum país Latino-americano.

LULA. (Archivo/AP).
Com uma estrela no lado esquerdo: Honra ao mérito?



Meu texto no blog é muito pobre em conteúdo mas transborda indignação. Alguns comentários que li no jornal deixam bem claro como nós, representantes do terceiro mundo da América, estamos em erupção com a corrupção:

No original: "Si una persona tiene la firme convicción de que no ha hecho nada malo ni raro no debería escabullirse, porque con ese gesto (buscar impunidad) se está delatando. Si estás limpio, no habrá (in) justicia que te tumbe, ahora si estás sucio aparecen estas maniobras, como la de aceptar fueros pretendiendo inmunidad. Yo creo que si este señor tuvo algún resto de moral olvidado en algún rincón, con ésto lo perdió. ¿ O no ?"

Em português: "Se uma pessoa tem a firme convicção de que nada fez de mal nem de estranho, não deveria ausentar-se dissimuladamente, porque, com esse gesto (de buscar impunidade) está se delatando. Se está limpo, não haverá (in) justiça que te alcance; agora, se está sujo aparecerá estas manobras, como o de aceitar privilégios (cargos) pretendendo imunidade. Eu creio que se este senhor tivesse algum resto de moralidade esquecido em algum canto, com este ato o perdeu. Ou não?"

(Texto retirado da página do Jornal La Voz, nesse link!)

Pode-se ler ainda em outro comentário:

No original: "Es vergonzoso esto. Un delincuente en lugar de ir a la justicia se hace político y zafa".

Em português: "É vergonhoso isso. Um delinquente no lugar de ir à justiça, se torna político e se safa".


Acordem pessoal! Acordem! E não é só esse canalha, não, isso não! É a corja inteira.



Aqui cabem algumas frases de uma canção do Enghaw:

"...Pessoas que nunca aparecem ou aparecem demais: isso me sugere muita sujeira, isso não me cheira nada bem, tem muita gente se queimando na fogueira e muito pouca gente se dando muito bem"

Eu até bem sei que as nuvens não são feitas de algodão, mas seria ilusão pensar no Brasil sem tamanha corrupção? O movimento que acontece nesse país não pode ser encarado como "aí, está vendo como o pt é corrupto?", ou então, "você viu, estão acusando o Lula de corrupção", ou ainda, "político é tudo canalha". É algo além, algo mais forte. Bem mais tônico do que podemos imaginar.

Que o raio me parta, mas não consigo entender como tem pessoas que ainda se limitam a questionar o PT defendendo o PSDB, e vice-versa. Tudo farinha da mesma fábrica. E o "Príncipe" Maquiavélico apenas movendo suas peças para o lado menos prejudicado da moeda: PMDB.



12 de março de 2016

Alguns versos críticos

Alguns, em tom de melancolia, me dizem do ontem.
Comentam que as alegrias eram outras, um tanto diferentes.
Relatam um mundo feliz, até certo ponto, mágico.
Contam em detalhes que sabiam ser criança, e que, desde cedo, trabalhavam.

Dizem que meu mundo é cartesiano, impregnado de moléstias e burocrático.
Assumem mesmo a infelicidade nos rostos pouco corados dos infantis.
Aos cotovelos, cantam que tudo está perdido, que o fim do mundo está próximo,
que não se pode mais confiar nas palavras alheias. Nem nas próprias.
Gritam, silenciosamente e aos berros, as desgraças desse século.
Ligam o rádio e desligam. As canções não são mais as mesmas.

Alguns, em tom de entusiasmo, me dizem do amanhã.
Comentam que as alegrias serão renovadas, um tanto diferentes.
Relatam um mundo feliz, até certo ponto, mágico.
Contam em detalhes e delírios que as crianças terão segurança, e que, desde cedo, viverão bem.

Dizem que meu mundo é cruel demais, impregnado de cólera e fanatismos.
Assumem mesmo a infelicidade que a pobreza causa nos rostos pouco corados dos infantis.
Aos cotovelos, cantam que tudo estará a salvo, que o mundo será renovado,
que se poderá confiar nas palavras alheias. E nas próprias.
Gritam, nunca silenciosamente, sempre aos berros, as graças do próximo século. Década.
Ligam o rádio e desligam. Ninguém precisa mais desse equipamento antiquado.

Alguém disposto a me falar do hoje e de implicações práticas do agora?
Negligenciamos o tempo. Negligenciamos nosso tempo.
Negligenciamos nosso espaço. Negligenciamos a negligência.
Fugimos. Estamos impregnados de realidades paralelas e controversas,
cegos por teorias e preconceitos, dores e angústias camufladas em sorrisos
benevolentes. Sorrisos benevolentes camuflados em dores e angústias.
Alguém me disse certa vez que a função adaptativa mais desenvolvida do homem
não é (e nunca será) a memória, mas sim a capacidade de Esquecer.
Esquecer(-se) e esquecer do esquecimento, evitando até mesmo suas representações oníricas.

Esse inconsciente... as vezes, mais consciente que a consciência.

11 de março de 2016

Canto para Strauss e outros mais

Vomitando os estranhos me torno comum
seguro de que todos serão e são unidade
seguro de não ter sobrado nenhum
impuro e imbecil que evita a verdade.

Vomitando os costumes alheios e obscuros
faço minha dócil e feliz sociedade
que se sente livre atrás dos muros
livrando-a de seus defeitos, e da realidade.

Vomitando os podres, pobres e marginais,
consigo meu feitio antropoêmico:
fazer de todos, seres loucos mas normais
que menosprezem a vida, o poético.

Vomitando, destruição criativa,
das tradições locais e características
consigo com que a vida me sirva
de consumismo e desigualdades rítmicas.

(Vomitando; vomitando os intragáveis
ao canto de Lévi-Strauss,
recrio o Mal estar da pós-modernidade
aos olhos de Freud e de Rousseau,
Cegai-me! Cegai-me! Beck e Foucault,
me desespero sem saber quem sou).

História da loucura.

6 de março de 2016

Terminar assim

Quase escrevo quase
mas descobri o fim
que tem toda frase

Tudo, termina assim
com ponto final
Mas logo em seguida
tem
outra frase inicial.

Tudo, recomeço,
ademais, do resto
esqueço.

Mas não do rosto
a mim avesso.
Que atravesso
com só dois olhos.

5 de março de 2016

Cuando se extraña a alguien...

O sorriso, de canto em canto,
cobriria todo o céu e o mar,
não sei te dizer por exato quanto
se desprendeu do verbo amar,
não sei dizer quanta saudade
ou quanto sonho estive tendo,
não sei dizer, de verdade,
o que estava acontecendo,
mas que me tomo, não raro,
imaginando se naquela cidade
teu olhar me viesse claro
e eu compreendesse a necessidade
de te ter por perto.
Realmente nunca fui muito esperto,
penso demais com a emoção,
e naquele instante
minha vida estava uma confusão,
de agora em diante
aprendi de vez a lição:
se quer, siga o coração.

Podia ter sido nas águas dançantes,
ou no passeio do bom pastor, quem sabe
ainda em outros sonhos errantes,
mas o que não tem cabimento
é deixarmos assim
tudo sem inicio nem fim
tudo ao vento.

Córdoba, cidade eterna e encantadora.
Nenhum sentimento em ti evapora.

Trouxe comigo a lembrança
de que, mesmo adulto,
me transformaste em criança
e me fizeste sonhar sozinho
em que estrada construir o caminho
para a felicidade:
Em Córdoba
ou na minha sombria cidade?



(Poesia para C., com gratidão por me fazer sorrir)
 
 
 

4 de março de 2016

Observação de um dia estranho, bem estranho.

Quando te vejo falar, apenas te olho, concordo, aceno a cabeça,
mas antes que eu me esqueça, preciso dizer que nada escuto.
Observo teus lábios. Sinto teu aroma. Tento identificar a sonoridade
da tua voz. Danço mentalmente a música que sai da tuas cordas vocais.
Além, fixo minha atenção nas tuas mais breves expressões.
E são tantas! Noto e conoto, da mesma forma, teus gestos rápidos
e sutis. Sua sobrancelha que se ergue e decai, levemente.
Sua mão não possui nenhuma aliança, seus seios se direcionam, suaves,
cada qual para um canto, mas mantendo sempre a alienação ao centro.
Teu cabelo, um pouco ao ar e um pouco preso, quase lhe súplica mais liberdade,
no mais, sois encanto. És a união entre o Sol e a Lua, e sabes bem.
O que mais posso abstrair, enquanto tu ainda falas serelepe?

És arte, sem sombra de dúvida. Mas uma arte pouco apolínea,
tua alma não quer, de maneira alguma, esconder o mundo terrível
que se apresenta aos nossos. Gostas, ao que indica tua vestimenta,
de fantasiar a realidade sem que dela se desprenda.
Teu rosto, que se contorce na graça do teu sorriso, transpassa o dionisíaco,
o nu e cru da nossa essência. Queres viver! Queres gozar! Queres sentir
e não somente o amor. Beiras o masoquismo, pelo que posso presenciar.
(E quem não?)

Imagino, enquanto ainda falas, as vertentes cabíveis quando teu silêncio surgir.
Ignorei, e muito bem, sem que percebas, toda a necessidade do ato de escutar.
Apenas acenando, com movimento intercalados, a cabeça, posso garantir de que concordo.

Quando menos percebo, estamos a rir, a gargalhar.
Perdemos a noção de tempo,
perdemos a noção de espaço. Acordamos um do lado do outro,
na mesma cama, no dia seguinte.
Será que estou ficando louco? Pouco me recordo do que se passou
depois de que saímos daquela cafeteria.
Uma sensação de fascínio mista a uma sensação de agonia me atinge.
Dizes a mim que a noite se passou tão rápida, mas, encantadora.
Concordo, dizendo que sim. Me visto. Jogo uma água no corpo magricelo.
Ainda assim, não me lembro dos detalhes daquela noite, tampouco
de como fomos chegar ao quarto.

Que demônio é esse que toma minha consciência e me rouba o melhor do dia?
Que demônio é esse que se aproveita do sexo e do sono, dignados a mim?


Outro dia, outra cafeteria, mesma mulher, um tanto ainda desconhecida:
quando te vejo falar, apenas te olho, concordo, aceno a cabeça,
mas dessa vez ficarei atento...
 
 
 

3 de março de 2016

Pensamentos de uma tarde de cansaço e desesperada de atividades

Na idade em que estou, meus nervos mortos e em pânico
a cada segundo, eterno segundo do meio-dia, o vento alegre
se dissipa na desesperança sonora e crescente que sinto,
ai, meu coração de poeta não bate tão forte quanto deveria,
meu olhar vazio por estar de ressaca com a luz e os outros
transpassa a solidão que enfrento quando me emaranho nas multidões.

Na idade em que estou, rapazes vão ao bar, eu vou ao café,
beber daquele líquido doentio e viciante, que, segundo dizem,
me impediria de sentir cansaço, me daria ânimo pleno. Mas nem isso
nem aquilo. Sou matéria em busca de paz, em busca de silêncio,
em busca de nada buscar, em busca de ócio e escuridão.

Na idade em que estou, com a necessidade absurda e desesperada
de estar só, de estar num canto onde nem o diabo me acharia,
não sei o que será do amanhã. O hoje não para, não respira.
A noite, que serviria para o descanso, serve ao ato da escrita
ou simplesmente ao ato da insônia. Algo me tira o sono, coisas,
pensamentos vagos e tão completos. A dor que verso, e não converso.

Na idade em que estou, roupas, presentes, compras, eletrônicos,
são tão escusáveis! São tão inoportunos! Quero apenas decair
no voo absoluto em pleno chão. Raso, quero entrar no poço e me deixar estar.
Quero o pouco querer, nunca tive desejo de ser Alguém.
Posso me bastar? Sim, se posso. E devo.

Na idade em que estou, agradeceria receber um abraço, um beijo,
de uma mulher que não se importe com contratos sociais, que queira
sentir ao invés de fingir. Que queira verdadeiramente não existir no mundo,
que ame o aconchego dos braços e das palavras, que não conheça o termo pecado,
que saiba amar e compreender. Na idade em que estou,
os adultos parecem adultos e sérios demais. Os jovens, jovens e tolos demais.
E as crianças, espertas e cibernéticas demais.

Minhas palavras perdem, não sei se feliz ou infelizmente, um pouco do encanto,
perdem a delicadeza, mas ganham em paciência e dedicação.
Não quero tanto escrever poesias volumosas e ricas em conteúdo, em arte, em rimas, quero apenas escrever o que sinto.
Chega de obra-prima, se é que essa um dia existiu.