12 de março de 2016

Alguns versos críticos

Alguns, em tom de melancolia, me dizem do ontem.
Comentam que as alegrias eram outras, um tanto diferentes.
Relatam um mundo feliz, até certo ponto, mágico.
Contam em detalhes que sabiam ser criança, e que, desde cedo, trabalhavam.

Dizem que meu mundo é cartesiano, impregnado de moléstias e burocrático.
Assumem mesmo a infelicidade nos rostos pouco corados dos infantis.
Aos cotovelos, cantam que tudo está perdido, que o fim do mundo está próximo,
que não se pode mais confiar nas palavras alheias. Nem nas próprias.
Gritam, silenciosamente e aos berros, as desgraças desse século.
Ligam o rádio e desligam. As canções não são mais as mesmas.

Alguns, em tom de entusiasmo, me dizem do amanhã.
Comentam que as alegrias serão renovadas, um tanto diferentes.
Relatam um mundo feliz, até certo ponto, mágico.
Contam em detalhes e delírios que as crianças terão segurança, e que, desde cedo, viverão bem.

Dizem que meu mundo é cruel demais, impregnado de cólera e fanatismos.
Assumem mesmo a infelicidade que a pobreza causa nos rostos pouco corados dos infantis.
Aos cotovelos, cantam que tudo estará a salvo, que o mundo será renovado,
que se poderá confiar nas palavras alheias. E nas próprias.
Gritam, nunca silenciosamente, sempre aos berros, as graças do próximo século. Década.
Ligam o rádio e desligam. Ninguém precisa mais desse equipamento antiquado.

Alguém disposto a me falar do hoje e de implicações práticas do agora?
Negligenciamos o tempo. Negligenciamos nosso tempo.
Negligenciamos nosso espaço. Negligenciamos a negligência.
Fugimos. Estamos impregnados de realidades paralelas e controversas,
cegos por teorias e preconceitos, dores e angústias camufladas em sorrisos
benevolentes. Sorrisos benevolentes camuflados em dores e angústias.
Alguém me disse certa vez que a função adaptativa mais desenvolvida do homem
não é (e nunca será) a memória, mas sim a capacidade de Esquecer.
Esquecer(-se) e esquecer do esquecimento, evitando até mesmo suas representações oníricas.

Esse inconsciente... as vezes, mais consciente que a consciência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente. Sempre é conveniente.